Conte Sua História de SP: a saga deste povo soteropaulistano

 

Por José Dilson Cavalcanti

 

 

Viemos de longe, somos Pernambucanos, Paraibanos, Cearenses, Alagoanos, somos todos Nordestinos. Mas, em São Paulo, somos Baianos.

 

Lá , na terra natal, muitas vezes e a maioria das vezes, nem conhecemos nossa Capital, por isso, adotamos essa cidade como símbolo de adoração e respeito. E a tratamos como Capital do Nordeste, pois ela serve para todo mundo que nasceu lá.

 

Para trás, deixamos famílias, amores, sonhos perdidos e parte da alma natal.
Viemos buscar, nessa serra pelada de concreto e automóveis, a chance que ficou no caminho, por causa da falta d’água e do trabalho.

 

Buscamos, no final desse arco-íris, o pote de ouro prometido.

 

Viemos para ajudar nesse desenvolvimento, construindo estradas, escolas, casas, prédios, metrô, pontes e criar avenidas. Foi isso que nos coube quando chegamos, pouco estudo, vontade de trabalhar, essa mão-de-obra rápida e barata, e ajudar os que ficaram lá. Ainda assim, tínhamos que agradecer, pois tirávamos o sustento.

 

Ajudamos a construir essa cidade, inquieta, exigente, transformadora e moderna.
Trouxemos a comida, os costumes, as crenças e a musicalidade, que são a energia necessária para misturar à cultura paulista e dar sentido à nossa vida nessa cidade, que tem potencial de País.

 

Somos todos lutando por uma única causa, a causa maior e mais justa das causas, a Felicidade. Esta cidade nos acolheu, do jeito que deu, não podemos dizer que foi fácil, deu oportunidade e certa dignidade.

 

Tivemos que ser bravos e perseverantes, para podermos educar os filhos e alimentá-los. No total não dá para se queixar, caso contrário, não estaríamos aqui a viver, se emocionar, a amar.

 

Não pensamos em agradecimento, em nenhum momento, pensamos somente em sermos lembrados, uma espécie de crédito por produção.

 

Fizemos dessa Terra Prometida nossa Canaã, outra espécie de nação de alma e coração, pois foi construída com sangue, suor, determinação e amor dos nossos irmãos.

 

Somos os carpinteiros, pedreiros, serventes, peões, cozinheiras, empregadas domésticas, jogadores de futebol, músicos, atores, pessoas comuns etc…

 

Só temos a agradecer por essa cidade existir e existirmos juntos, nessa cidade.
Somos filhos dos filhos.
Somos filhos dos Baianos.
Somos todos “soteropaulistanos”

 

O Conte Sua História de São Paulo vai ao ar aos sábados, logo após às 10h30, no CBN SP. Tem sonorização do Claudio Antonio e narração de Mílton Jung

Conte Sua História de São Paulo: música para o nordestino trabalhador

 

A ouvinte-internauta Janina Zmitrowicz, que também atende por Janina Zmi, fez poesia e transformou em música sua experiência com centenas de nordestinos que vieram para São Paulo construir sua vida e ajudar na construção da nossa cidade.

 

Acompanhe a participação dela no Conte Sua História de São Paulo com o trabalho técnico do Cláudio Antonio:

 

JOSÉ FRANCISCO ANTÔNIO SEVERINO

 

Veio da terra seca
Bonita, sedenta, faminta e querida
E trouxe consigo
Seus pés, suas mãos, sua fé e coragem

 

Construiu essa cidade
Desejo, esperança, vontade e saudade
Prédio, ponte, viaduto
Asfalto, riqueza, grandiosidade

 

Fez o seu barrraco
Primeiro madeira
Depois veio o bloco

 

Amou, filho e filha ele fez
Criou de uma vez
Oito netos já tem

 

Bar, mulher e futebol
Aliviam a sua canseira
Pouco dinheiro no bolso
Mas felicidade é verdadeira

 

Vendeu e comprou seu cantinho
Pagou direitinho cada prestação
É simples, mas é honesto, sincero
E…vixe! Bonitão!

 

Hoje, com a mão calejada
A marca do tempo no rosto estampada
Remédio toma pra pressão
Aposentadoria, chegou ainda não!

 

Antônio, carpinteiro
Severino, encanador
José, civil pedreiro
E Francisco, carregador

 

Severino conserta tudo
José, mestre construtor
Francisco carrega o mundo
Antônio grande produtor

 

…e Deus foi seu professor…

 

Aproveite um pouco mais desta experiência ouvindo a versão completa da música: