A complexa tarefa de um professor que precisa dar nota aos alunos

 

Cadeira cativa no Canindé #DalheGremio

 

Jornalista não é bom de número (ao menos a maioria de nós). Preferimos as letras e, por isso, na escola, nos dedicamos às humanas. Isso não significa que no cotidiano da profissão estaremos livres de manipular dígitos e tratar das desumanidades que as notícias contam. Digo isso, desde início, para deixar claro que qualquer análise errada que faça sobre o fato que irei relatar agora talvez esteja relacionada a esta minha incompreensão da matemática.

 

Um estudante, desde o primeiro ano na escola, foi merecedor de medalhas de honra ao mérito, título oferecido àqueles que conseguem, no mínimo, nota 8 em todas as matérias, ao fim da temporada. Este ano, porém, ao concluir o ensino médio – que eu teimo em chamar de 2o. Grau – após 12 anos na mesma instituição de ensino, não se capacitou para a honraria, pois, em uma das matérias ficou com média 7,87. Apesar de todas as demais terem ficado acima do 8 exigido nas regras internas da escola, a falta de 0,13 ponto em uma delas o impediu de voltar a receber o prêmio.

 

Quando estive na escola, nas décadas de 1970 e 1980, as notas não eram números, eram letras. Se ainda lembro bem, os conceitos variavam entre Ótimo, Bom, Regular e NS – sigla do temido Não Satisfatório, que insistia em aparecer no meu boletim escolar. Num ano em especial, o NS dominou a grade, o que me levou a repetir. Foi na 7a. série do Primeiro Grau, hoje Ensino Fundamental. Foi duro contar em casa a notícia, apesar de todos já estarem esperando-a pois acompanhavam de perto meu (mau) desempenho. Conto hoje essa história com muito mais tranquilidade pois tantos anos depois sei que aquela reprovação não deixou sequelas.

 

Os conceitos em forma de letras parecem mais subjetivos, mesmo que sejam baseados em notas tiradas nas provas e no desempenho em sala de aula. Existem muitas variantes para incluir um aluno na categoria dos ótimos, assim como taxá-lo de regular, por exemplo. Parece-me mais justo para os estudantes e mais simples para os professores que podem trabalhar com uma margem de erro aceitável, afinal estamos falando de seres humanos que tem sua diversidade e são tomados de emoção.

 

Já os números são objetivos e cruéis: imagine a dificuldade para o mestre diferenciar um aluno 6,5 de um 6,75, ou saber quando um merece 8 e o outro 8,1. O que representaria 0,1 décimo (ou 0,13) de sabedoria a mais para um jovem? Conhecer o nome de todas as capitais brasileiras em ordem alfabética, sem pestanejar – se pestanejar vira 8, piscou duas vezes 7,9; ou fazer as equações mais rapidamente do que os outros; ou usar ponto e vírgula em seus textos, enquanto os colegas se limitam ao ponto e a vírgula. Sei lá como os professores se saem diante desse desafio. Ainda bem que decidi ser jornalista e não ter de resolver situações complexas como essas. De vez em quando até somos obrigados a dar notas para o desempenho de jogadores de futebol ou de gestões públicas, mas nossa falta de precisão não costuma causar muitos estragos.

 

Coloque-se agora diante da situação enfrentada pelo professor que teve o dever de julgar o desempenho de um aluno que por 11 anos foi honra ao mérito na escola e, no último, havia alcançado notas que superavam a média 8 em todas as matérias, menos na dele. Deixar-se levar pela frieza de um número – no caso 0,13 – que tiraria de um jovem a satisfação do prêmio ou reavaliar o desempenho geral do aluno, pesar seu histórico e lhe oferecer a oportunidade da conquista final? Prezar pela precisão das exatas ou cultivar a subjetividade das humanas?

 

O professor, calculista, apesar de ser da área de humanas, preferiu o caminho reto dos números. Para ele não havia dúvida, seu aluno era um 7,87, jamais um 8. O estudante, pelo que soube, sequer reclamou pois já havia aprendido a lição: para a sua história, que está apenas começando, tudo isso era muito insignificante – quase um 0,13.

Kassab, a nota 10 e a realidade virtual

 

 

O prefeito Gilberto Kassab (PSDB) deu nota 10 à gestão dele, mesmo não tendo tido condições de realizar boa parte das metas a que se propôs. Muitas pessoas não concordaram com a resposta que ele deu à jornalista Luciana Marinho, da rádio CBN, aliás as pesquisas de opinião demonstram descontentamento com o trabalho do prefeito, também. A avaliação de Kassab sobre ele próprio gerou reações dos ouvintes-internautas do Jornal da CBN. E levou Esper Leon (@esperleon), em seu perfil no Twitter, a buscar uma resposta bem humorada para o comportamento do alcaide paulistano.

Avalanche Tricolor: Mérito para quem luta

 

Grêmio 2 x 2 Atlético GO
Brasileiro – Olímpico Monumental

Foi um fim de semana especial. E antecipo que não me refiro ao futebol, sobre este falem os entendidos. Prefiro escrever de metas, sonhos e conquistas alcançados na sala de aula, onde não chegava a ser um aluno exemplar, mas deixei boa impressão, sem falsa modéstia, tendo tido participação na política e no esporte do colégio em que estudei boa parte de minha juventude, em Porto Alegre. Além de ter sido presidente do grêmio estudantil e jogado em algumas das equipes principais de basquete do Colégio Rosário, também construí excelentes amizades com professores que conseguiam entender minha personalidade. Minhas notas não eram suficientes para me colocar no topo da lista dos melhores alunos, no entanto me garantiam no ano seguinte – exceção à sétima série, do primeiro grau – rebatizado ensino fundamental -, quando tomei bomba e fui obrigado a repetir. Mesmo esta experiência trágica me proporcionou momentos importantes e situações que guardo na memória até hoje.

Quando o boletim recheado de notas vermelhas (nunca me dei bem com esta cor) chegou em casa o pai estava viajando para transmitir uma partida de futebol pela rádio, o que me deu tempo para em uma tentativa desesperada negociar com a mãe uma forma de impedir que ele soubesse do resultado. Evidentemente que ela não aceitou, nem haveria como evitar a situação, e me convenceu de que o melhor mesmo seria eu contar a ele o que havia acontecido. Sem coragem de encará-lo prorroguei ao máximo o momento da verdade e tenho dúvidas se teria conseguido não fosse a intervenção de meu padrinho e técnico Ênio Andrade, que na época treinava o Grêmio. Em uma jogada combinada com o pai que, lógico, estava inteirado do meu infortúnio, Seu Ênio me convidou a passear pelo pátio do Estádio Olímpico e com a mão sobre meus ombros fez algumas perguntas do cotidiano até chegar ao ponto crucial: o desempenho escolar. Em seguida, quis saber por que não tinha coragem de contar ao pai, afinal ele era meu companheiro e seria mais fácil enfrentar aquele momento de angústia. Ele e minha mãe tinham razão, assim que falei, o sofrimento foi amenizado apesar de ter ouvido justificáveis reprimendas.

Lembrei desta história, no fim de semana, depois que voltei da escola de meus filhos com o boletim deles em mãos. Ao mostrar a avaliação para o mais novo, recebi um comovido abraço seguido de lágrimas para as quais fiquei sem palavras. Me coube retribuir com um lento cafuné deixando o tempo passar e a emoção, também. Meu pequeno não chorava notas ruins nem a necessidade de realizar provas de recuperação, muito antes pelo contrário. Este havia sido um ano no qual teve pequenos tropeços, nada de anormal, e, talvez, não conseguisse passar por média pela primeira vez. Neste último trimestre, ele se dedicou muito, esteve mais atento e foi preciso nas lições de casa, além de ter mantido o bom hábito de participar das discussões na sala de aula. Em praticamente todas as matérias melhorou seu desempenho e teve seu esforço reconhecido pelos professores no Conselho de Classe. Chorou de alegria pela conquista alcançada em uma satisfação que me encheu de orgulho. Ele sai deste ano com mais uma lição aprendida e a certeza de que mereceu o prêmio recebido.

O mérito da vitória não existe para aqueles que não lutaram por ela. Ele lutou e nós vibramos muito com isso. Não posso dizer o mesmo do meu time.