Ocasião e perversão

 

Por Carlos Magno Gibrail

A cena em Guantánamo, prisão norte-americana de segurança máxima e torturas idem, durante o governo republicano de Bush, da policial dirigindo um prisioneiro em uma coleira de cachorro não deve ter saído da mente de quem a viu.

torturaPois é, segundo psicólogos muito provavelmente eu e você agiríamos da mesma maneira.

Na Universidade de Stanford, em 1971, foi realizado um experimento científico de comportamento onde estudantes foram divididos entre encarcerados e carcereiros. A estes se deu poder total de ação. Os alunos pesquisados eram normais e de boa índole.

A experiência teve que ser interrompida em seis dias, tal a perversidade dos carcereiros.

Fernanda Torres, atriz e agora articulista da Folha, apropriadamente ao processo eleitoral que vivenciamos retomou Stanford, sábado em sua coluna, para questionar o apego da humanidade às regalias do poder e as conseqüências.

Aproveitando a linha de raciocínio de Fernanda, que alerta que a ocasião faz o ladrão e, dado também o momento do futebol, não há como deixar de visualizar por todo o mundo o absurdo da quase totalidade das entidades representativas e dos respectivos Clubes dirigidos por pessoas que usam os cargos como ditadores. Poder total e tempo indeterminado.

A pesquisa de Stanford mostrou que é só dar um poder absoluto sobre alguém que a pessoa começa a tomá-la como posse e a tratá-la como um objeto. Donde podemos intuir que a posse tanto pode ser sobre pessoas ou sobre organizações. Este sentimento de propriedade gera apego e, certamente, fez com que surgissem guerras e demais ações de dominação, subjugando terceiros. Quer pessoas, espécies, animais e entidades.

O meio ambiente com seus mares, floras e faunas atacados por predadores, é testemunha viva deste problema. A política e o futebol, também.

Fernanda Torres conclui que: “A humanidade tem apego às regalias e a danação divina já não mais ameaça. A Lei da Ficha Limpa pode servir para proteger o político de sua própria fraqueza”.

Para o futebol, o presidente Lula já indicou o caminho democrático de no máximo oito anos de poder ao Ricardo Teixeira, que não concorda, pois, comprovando o experimento de Stanford, a CBF é possessão sua. Como tal, faz dela o que bem entender. E, assim, sucessivamente, a maioria dos presidentes das federações estaduais com o mesmo sentimento de posse vai tocando as entidades e apoiando a CBF, que por sua vez a apóia, que por sua vez apóia também a quase totalidade dos presidentes de Clubes, subservientes a estas entidades dos estados. É uma troca recíproca de favores iguais entre idênticos interesses.

Se os psicólogos de Stanford alertam que provavelmente eu e você faríamos o mesmo, é melhor atender a atriz e o presidente.

Carlos Magno Gibrail é doutor em marketing de moda e, às quartas, escreve no Blog do Mílton Jung