Um erro mantido em nome das métricas são dois erros

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Das redes sociais, a que mais uso é o Twitter, por onde deixo alguns palpites, opiniões, informações e recados, desde 2008, quando o ‘passarinho’ estava ainda no ninho, aqui no Brasil. Com o recente interesse de Elon Musk na compra da empresa, falou-se de muitas mudanças, em especial a ideia do “liberou geral” que o visionário confunde com “liberdade de expressão”. Mas também tratou-se de temas mais comezinhos como o botão “editar” que permitiria a correção de muitos erros cometidos na pressa de publicar. 

Sem opinião formada sobre o segundo tema — quanto ao primeiro sou defensor da ideia de que deve sempre haver um mínimo de moderação diante do impacto que as redes têm na vida e na reação das pessoas — , já tive vontade de voltar atrás no que escrevi. Não que eu quisesse rever minha opinião. Queria apenas ter usado uma palavra mais apropriada e, principalmente, corrigida — quando erros na grafia ou na concordância se revelavam. Não pude!

Não apenas não tive essa possibilidade como percebi um fenômeno. Se você publicar uma mensagem com erro e, em seguida, republicar a mesma mensagem com a correção, tenha certeza: a mensagem com erro vai ser retuitada muita mais do que a corrigida. Pode ser que seja pelo fato de que a primeira, por primeira que foi, chegue a mais pessoas antes da segunda, impulsionada por um algoritmo que costumo não entender bem como funciona. 

Diante do fato, desisti de manter a mensagem errada em respeito a quem já havia comentado, clicado ou retuitado. Simplesmente apago. Abri mão do engajamento ou alcance que a  mensagem com erro poderia ter me oferecido em troca da tranquilidade em saber que aquele erro não iria mais tão longe assim, causando uma série de estragos. No caso de erros ortográficos ou de concordância, imagine, alguém pode repeti-lo depois em um retuíte, no recado enviado ao chefe, no bilhetinho para a namorada ou em qualquer outra situação, construindo uma imagem ruim por minha culpa. Não me perdoaria!

Escrevo sobre esse assunto, porque me incomoda a superdependência às métricas que hoje pauta desde decisões editoriais até o ângulo em que você vai tirar uma foto. O título, o lead, a abordagem, a imagem, a cor, a disposição na página, o assunto a ser tratado, o SEO … tudo parece contaminado por aquilo que o algoritmo nos permite e pelos números que alcançamos. A reportagem não é boa pelo conteúdo, profundidade e forma com que é apresentada; é boa se teve engajamento. Se antes já havia essa tentação na busca da atenção, hoje com a possibilidade de se medir quase tudo em tempo real, o risco de nos transformarmos em refém das métricas, multiplica-se. 

Não quero desdenhar o conhecimento que aprofundamos sobre o funcionamento da engrenagem digital nem mesmo estou desmerecendo a importância de se conseguir audiência para o conteúdo que realizamos, mas se temos um compromisso —- e aí estou aqui pensando em um dos papeis do jornalismo profissional —- é com a precisão da informação. Publicar uma informação errada, identificar o erro e mantê-la errada é ser cúmplice de algoritmos que tanto criticamos por serem impulsionadores da intolerância, a medida que reforçam comportamentos e não estimulam a troca de ideias entre os diversos.

Por isso, caro e cada vez mais raro estudante de jornalismo que me acompanha neste blog, se me permitir, faço uma sugestão: sempre que uma informação estiver publicada com erro, apague-a; republique-a corrigida. Comunique seu público. E se alguém vier reclamar do prejuízo às métricas, lembre-o de uma expressão tipicamente italiana: “vaffa …”

Mundo Corporativo: cuidado com o que você fala e como fala, alerta a professora de redação empresarial Rosângela Cresmachi

 

 

“Hoje as pessoas mais objetivas, que conseguem ser mais concisas em sua expressão, elas conseguem ser melhor compreendidas. Então acaba tendo uma assertividade muito melhor aquela pessoa que fala menos mas transmite tudo o que precisa ser colocado” —- Rosângela Cremaschi, diretora da RC7 – consultoria empresarial

 

Em entrevista ao jornalista Mílton Jung, no programa Mundo Corporativo, da CBN, Rosângela Cremaschi alerta os profissionais para os cuidados que devem ter quando se comunicam no ambiente de trabalho. A professora de redação empresarial da FAAP chama atenção para a necessidade de se adaptar a linguagem conforme o meio usado: uma coisa é escrever um ofício e outra é escrever mensagem por rede social. Seja qual for o meio, lembra que a comunicação ajuda a construir a imagem de um profissional, portanto é preciso evitar erros gramaticais. Ela é autora do livro “Português corporativo – português prático e descomplicado para escrever e falar melhor nas diversas inteirações do dia a dia” (Hunter Books)

 

De acordo com Cremaschi, a comunicação eficiente é essencial para quem está em postos de comando: “o líder precisa buscar sempre estas qualidades da comunicação porque dessa forma ele vai conseguir se relacionar com todo o time dele. Essas relações interpessoais ficam muito mais fortalecidas quando este líder é um bom comunicador.

 

O Mundo Corporativo pode ser assistido, ao vivo, às quartas-feiras, no site ou na página da CBN no Facebook. O programa é reproduzido aos sábados, no Jornal da CBN, ou domingo, às 22h30, em horário alternativo. Colaboram com o Mundo Corporativo Juliana Causin, Rafael Furugen e Débora Gonçalves.

Reforma ortográfica em contagotas

O texto abaixo foi enviado pela ouvinte-internauta Marina dos Santos, que não esclarece quem seria o autor desta brincadeira com os versos e a reforma ortográfica. Por obra desta internet que permite a circulação de algumas ideais sem que se faça justiça ao seu criador reproduzo no blog pelo curioso da coisa. Se você souber quem escreveu o texto, não deixe de nos informar que prometo colocar aqui em letras garrafais. Vamos ao texto:

Em casos como AUTOESTIMA,
o hífen cai.
A sua é que não pode cair.
Em algumas palavras,
o acento desaparece,
como em FEIURA.
Aliás, poderia desaparecer a palavra toda.
O acento também cai em ideia,
só que dela a gente precisa.
E muito.
O trema sumiu em todas as palavras,
como em inconsequência,
que também poderia sumir do mapa.
Assim, a gente ia viver com mais TRANQUILIDADE.
Mas nem tudo vai mudar.
ABRAÇO continua igual.
E quanto mais apertado, melhor.
AMIZADE ainda é com “z”,
como vizinho, futebolzinho, barzinho.
Expressões como “EU TE AMO” continuam precisando de ponto.
Se for de exclamação, é PAIXÃO, que continua com “x”,
como ABACAXI, que, gostando ou não,
a gente vai ter alguns para descascar.
Solitário ainda tem acento,
como Solidário,
que só muda uma letra, mas faz uma enorme diferença.
CONSCIÊNCIA ainda é com SC,
como SANTA CATARINA,
que precisa tocar a vida pra frente.
E por falar em VIDA,
bom, essa muda o tempo todo,
e é por isso que emociona tanto

De língua e linguagem

Por Maria Lucia Solla

Maquina de escreverFoi instalada mais uma reforma ortográfica na língua portuguesa; envolvendo, desta vez, os países lusófonos, ou seja, os que têm a língua portuguesa como língua materna. O acordo foi assinado em Lisboa, em dezembro de 1990, portanto, há dezoito anos, e entrou em vigor agora, no dia primeiro de janeiro de 2009.

As letras K, W e Y, depois de um exílio forçado, voltam a fazer parte do nosso alfabeto, reconhecida e legalmente. Katias, Oswaldos e Suelys podem soletrar seus nomes sem susto. Por outro lado, palavras de respeito tiveram que tirar o chapéu, como vôo, por exemplo. A elegância tradicional do trema, já começa a deixar saudade, mas da pedrinha no sapato que é o hífen, não vou nem falar por enquanto. Vou tentar entender melhor.

Tenho ouvido discursos inflamados sobre esta reforma, mas é melhor não gastar energia com isso porque ela já foi sacramentada. Sofremos de uma dificuldade incrível de aceitar mudança, mas lembre-se que esta é a nona mudança na ortografia. Já escrevemos pharmacia e sciencia, e a Terra continuou girando. Com dificuldade,  é verdade, mas gira ainda.

Se você quiser usar a língua formal, atualize-se, porque as regras começaram a vigorar em primeiro dejaneiro deste ano. Agora, se o seu negócio não é escrever, relaxe e curta a sua tribo. Há uma língua, mas diversas linguagens, em todos os idiomas. Ainda vale dizer tá ligadu, demorô, sujô, dá linha na pipa e tamu juntu. Se conseguir que o outro entenda você, tá no lucro. Garanto.

Pense nisso, ou não, e até a semana que vem.

Ouça De língua e linguagem na voz da autora

Maria Lucia Solla é terapeuta e professora de língua estrangeira. Todo domingo descreve seus sentimentos aqui no blog em bom português.