Quando a “circunferência abdominal 57” pesa na vida dos outros

Por Abigail Costa

@abigailcosta

A gente não nasce sabendo. Fato! Mas com o passar do tempo tem a obrigação de aprender e tentar colocar em prática. Pois bem, partindo do pensamento lógico, ao longo desse aprendizado tomamos consciência de que nem tudo são flores e cabe a nós dividirmos os espinhos com quem vai nos ajudar a manejá-los para que não nos machuque tanto. 

Outro dia, vi um comentário no Instagram de alguém enfurecida porque uma outra dita cuja — alguém com milhões de seguidores; sim, ninguém chuta cachorro morto — postou algo assim:

Legenda: “Amanheci feliz!”

Texto: “Fazendo o que mais gosto”

Foto: algumas míseras torradas e a moça trabalhando.

A “comentarista” enfurecida gritava em letras garrafais: 

COMO PODE? JÁ ESTOU CANSADA DESSE POVO COM ESSE POSITIVISMO TÓXICO! COM ESSA COISA DE ACORDAR ÀS 5 DA MANHÃ, TREINO PAGO (FEITO), FELICIDADE (CHECK) E BLÁ-BLÁ-BLÁ”

Pensando cá com os meus quilos a mais, o que deve ter incomodado no “reality virtual” da influenciadora foi a circunferência abdominal marcando 57 centímetros que aparecia na imagem.

Coloquei-me a pensar. Primeiro, por que não acreditar que a foto e o texto da influenciadora  podem ser verdadeiros. Segundo, e se não for? Por que esse destempero diante de algo que se imagina falso?

Será que para outras pessoas esse post não pode ser as doses de otimismo  e inspiração que estão faltando, do auto-positivismo? Se ela consegue por que eu não? 

Será que a dona da “circunferência abdominal 57” não é uma colecionadora de momentos? E esses momentos servem para realimentá-la quando lhe faltam sorrisos, desejos, brindes e afins?

Será que ela não está sendo ela mesma ao querer levar o melhor para quem  visita a página de olho na vida dos outros? 

Sempre me questiono: se a vida do outro me incomoda, sendo esta vida falsa ou real, é porque já nasci, cresci, estou envelhecendo e não aprendi nada. Para esses casos, que sirva de consolo: enquanto há vida, há esperança (Eclesiastes 9;04)! 

Abigail Costa é jornalista, apresenta o programa Dez Por Cento Mais no YouTube, tem MBA em Gestão de Luxo, é estudante de Psicologia na FMU, faz pós-graduação em Gerontologia, no Hospital Albert Einstein, e escreve como colaboradora a convite do Blog do Mílton Jung.

O que você faz para realizar seus sonhos?

Simone Domingues

@simonedominguespsicologa

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“Oh, nem o tempo amigo

Nem a força bruta pode um sonho apagar”

Beto Guedes/Ronaldo Bastos

Qual é o seu maior sonho?

Não falo daquele sonho que a gente tem quando está dormindo: me refiro aos que temos quando estamos acordados.

Há quem sonhe em conhecer um lugar, em comprar um carro ou frequentar um restaurante. Há quem deseje um mundo sem guerra, livre de desigualdades e com um futuro melhor para crianças e jovens.

Independentemente daquilo que almejamos, a nossa busca está em realizar aquilo que acreditamos que nos trará felicidade ou bem-estar.

Desde a década de 1990, a psicologia positiva tem se dedicado a estudar os fundamentos da felicidade e do bem-estar, procurando identificar os fatores que contribuem para que as pessoas se sintam satisfeitas com a vida e como isso pode ser um fator de proteção à saúde mental. 

Martin Seligman, psicólogo e principal autor dessa teoria, propõe cinco elementos que compõem o bem-estar:

  • emoções positivas,
  • engajamento,
  • relacionamentos,
  • significado
  • realização.

As emoções positivas são os pensamentos e as ações que promovem a sensação de alegria e prazer, sendo propulsoras para que possamos sonhar, planejar e realizar aquilo que desejamos. 

O engajamento compreende um estado de atenção plenamente focada, quando ficamos completamente absorvidos por aquilo que realizamos. O trabalho é capaz de nos gerar esse estado, mas estar diante da pessoa por quem estamos apaixonados… Ah! Isso dispensa maiores explicações. Parece até que o tempo para!

Os relacionamentos compreendem as conexões estabelecidas com outras pessoas, e quanto mais positivas, mais positivos serão os pensamentos e emoções gerados.

Significado se refere a ter um propósito, a agir de acordo com aquilo que é valioso para nós. De ser quem desejamos nos tornar — e não estariam aqui os nossos sonhos?

Em 2020, uma pesquisa realizada pelo Instituto IKATU com 2.265 jovens brasileiros, com idades entre 12 e 24 anos, identificou que a felicidade percebida estava diretamente relacionada a um propósito de vida. 

Quanto mais conhecermos sobre nós mesmos, sobre os nossos valores e crenças (aquilo que nos é importante, não apenas no sentido moral ou religioso), mais efetivas serão as nossas ações para atingirmos os nossos objetivos, sejam eles momentâneos ou relacionados aos nossos propósitos.

E ter esperança conta?

Para Charles Snyder, psicólogo americano e um dos maiores estudiosos sobre o tema, a esperança é uma avaliação realista sobre os desejos e os meios para alcançá-la. Portanto, não é uma espera, mas uma análise dos caminhos a serem percorridos.

Para Snyder, a esperança e o otimismo são distintos. O otimismo está relacionado a expectativas positivas de êxito e realização no futuro, mesmo diante de dificuldades ou fracassos. A esperança, por sua vez, compreende expectativas positivas relacionadas à capacidade de alcançar metas ou objetivos. Desse modo, o otimismo está mais relacionado aos pensamentos sobre os desfechos, e a esperança, mais vinculada com as possíveis ações para que esse resultado seja atingido.

Otimistas ou esperançosos, o que desejamos é que os nossos sonhos se realizem e nos tragam felicidade.

Pare por um instante e reflita na pergunta inicial: qual é o seu maior sonho? Acrescento: o que você tem feito para realizá-lo?

O ditado popular alerta que sonhar não custa nada. Então aproveite. Nem precisa ser um sonho só, afinal, como canta Beto Guedes: “quem sonhou só vale se já sonhou demais”.

Assista ao programa Dez Por Cento Mais, todas às quartas-feiras, 20h, no YouTube

Simone Domingues é psicóloga especialista em neuropsicologia, tem pós-doutorado em neurociências pela Universidade de Lille/França, é uma das autoras do canal @dezporcentomais, no YouTube. Escreveu este artigo a convite, no Blog do Mílton Jung. 

Terminar o dia em paz

 

Abigail Costa

Um dos prazeres em ser jornalista é conhecer gente. Todo o dia tem uma pessoa nova. A semana toda ouvindo histórias de encher os olhos de otimismo, outras que são a cara da dor de tanta amargura.

– Oi, prazer, como vai?

– Eu? indo né filha, a vida você sabe…

Começou por aí já sei que é melhor nem esticar a conversa. Dispenso o cafezinho e vamos direto ao assunto. É o tempo de ligar o microfone, duas ou três perguntas e fui.

Se já sei que não vou gostar do enredo pra que aceitar a dança?

Estou em fase de seleção. Quem oferece otimismo pra esse lado. Pessimismo, senhor? Lá atrás da fila, por favor.

Sabe que tem funcionado. A volta pra casa é mais leve. Isso acaba atraindo outros na mesma sintonia.

Tive o prazer de conhecer pais, mães, irmãos dos Mamonas Assassinas. Treze anos depois do acidente áereo, os filhos deixaram saudade, claro! Tristeza não.

Em nenhum momento ouvi:

Por quê? Justo com eles?

A lembrança é amorosa e você se pega quase que “enrolando” para o assunto render mais.

De volta pra casa penso que eles apesar do sofrimento pela perda, não se alimentaram do problema, não ficaram doentes.

Bom demais terminar o dia em paz.

Aprendizado que satisfaz a alma da gente.


Abigail Costa é jornalista e escreve às quintas-feiras no Blog do Mílton Jung quando está em paz.