O Carnaval se foi, que comece logo o ano!

 

Por Ricardo Ojeda Marins

 

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Ao ler este meu artigo, aqui no Blog do Mílton Jung, os leitores pensarão que sou contra o feriado que o brasileiro mais ama – talvez mais do que o próprio Réveillon.

 

Não, não tenho nada contra o Carnaval, mas confesso que chega a ser patético e preocupante ver como o brasileiro se empenha na causa. Paga o preço que for por uma viagem, por um abada, por um show… muitos até pagam sem ter condições de realizar este sonho.

 

Quisera toda essa força fosse usada para lutar por educação, um país melhor ou o fim da corrupção.

 

A verdade é que fomos (mal) educados assim. Se tem pão e circo, estamos felizes. Mas acredito que cada vez haja mais circo e menos pão.

 

Este fenômeno já aparece nas páginas de publicações renomadas como a revista The Economist, que escreveu sobre o fato de o país festejar o Carnaval enquanto caminha ao fundo do poço. Sem contar que os escândalos de corrupção em nosso governo também ganham cada vez mais destaque internacional.

 

Miséria, corrupção, desemprego, falta de segurança. Vivemos um caos que tende a piorar, mas que poucos enxergam a situação com um olhar real.

 

Bilhões de dólares são roubados de cofres públicos, enquanto a presidente Dilma Roussef pede apoio do Congresso para a volta da CPMF, com o intuito de retomar o crescimento econômico do país.

 

É muito fácil para um governo resolver suas questões financeiras arrochando o trabalhador com impostos e taxas, criados para sustentar a esbórnia financeira da máquina pública. Dinheiro que vai do nosso bolso e não volta na forma de serviços bem prestados.

 

Agora que já pulamos o Carnaval, que tal se empenhar em ler um livro? Que tal se inteirar da situação do País ? Que tal lutar por um Brasil com mais e melhor educação?

 

Com a educação que temos hoje, certamente as próximas gerações serão ainda mais alienadas.

 

Vamos  nos divertir, por que não? Mas se não pensarmos – e agirmos – por um país melhor, no futuro nem o Carnaval irá nos restar.

 

Feliz Ano Novo, Brasil!

 

Ricardo Ojeda Marins é Coach de Vida e Carreira, especialista em Gestão do Luxo pela FAAP, Administrador de Empresas pela FMU-SP e possui MBA em Marketing pela PUC-SP. É também autor do Blog Infinite Luxury e escreve às sextas-feiras no Blog do Mílton Jung.

Conte Sua História de SP: na busca por um pão divino e inominável para comemorar meu aniversário

 

Por Betty Boguchwal

 

 

O Quadrilátero da Saúde é um lugar onde são tênues os limites entre a saúde e a doença, a vida e a morte. A propósito engloba o trecho da Av. Dr. Arnaldo entre as Ruas Minas Gerais, Major Natanael e Cardoso de Almeida de um lado e, do outro, Av. Rebouças, Ruas Teodoro Sampaio e Cardeal Arcoverde. Caramba é servido por dois grandes hospitais, Faculdades de Medicina e Saúde Pública da USP, Secretaria da Saúde do ESP, três cemitérios, um velório e finalmente ou finadamente o IML.

 

Sorte que para amainar um pouco temos ao fundo um estádio e o museu de futebol. Daí que o comércio tem como público alvo os usuários, visitantes e trabalhadores destas instituições. Digo isso, já que alguns usuários não consomem mais, melhor dizendo, já partiram para o outro mundo. No entanto mesmo de lá, ainda geram demanda, principalmente aqueles que ainda estão carimbando o “visto de saída”, ou seja, estão sendo velados. Assim o comércio deste duplo quadrilátero é constituído por floriculturas, quiosques de flores, padaria, lanchonetes, restaurantes, bancas de jornal e trabalhadores informais, cujos artigos variam desde frutas até bandeirinhas de futebol.

 

Detalhe: eu faço parte do grupo dos trabalhadores, já que atuo como psicóloga na Secretaria de Saúde. Ocorre que por ocasião do meu aniversário, Paula, colega e vizinha de data de aniversário, trouxe dois patês. Aleluia estas iguarias exalavam um cheiro convidativo e 16H15 seria um bom momento para um lanche. Então o mínimo que podia fazer era providenciar baguetes ou torradinhas para saborearmos.

 

Ora fui à padaria que fica exatamente na esquina onde começa a rampa que acessa o Estádio do Pacaembu, em frente ao velório do Araçá, supondo ser um local apropriado para adquirir estes simples e pequenos itens. Já do lado de fora, a fachada pintada de um amarelo inexpressivo, parecia mais um caixote de cimento, na mesma linha de caixão, sem placa ou qualquer referência que indicasse o tipo do estabelecimento. Puxa, confesso que a minha entrada neste local foi tétrica, justo eu, especialista em padarias, logo fui impactada pelo clima negativo. Á direita, no balcão de pães viam-se alguns pãezinhos aparentando um bom tempo de vitrine, pães doces, e dois murchos pães de queijo. Barbaridade: nada atraia, ops, tudo repelia!

 

Nossa, dei uma pequena circulada buscando outra opção para a base dos patês. Péssima idéia: apesar de o balcão estar revestido com material atualizado, os produtos oferecidos para lanche tais como coxinha, esfiha aparentavam validade de anteontem. E pior, nas conversas que facilmente se ouviam entre os clientes, era nítido o destaque do vocábulo “herdeiro”.

 

Curioso que entre os dois balcões estava uma mesinha com duas cadeiras desocupadas e, ao fundo, uma salinha apagada, cuja entrada era interditada por uma geladeira Kibon. Invariavelmente deveria ser um espaço destinado ás refeições, provavelmente “gelado” pelos proprietários que, claro naquela hora já estariam descansando.

 

Felizmente encontrei Yolita, uma colega que não via há décadas, saboreando um café. Eta, até que ela aprovou o café, que a reconfortava na saída do velório de um amigo. Arre um elogio em meio a tantos produtos nada atraentes. Não durou muito, pasmem chegou um mendigo com um copo sujo pedindo para encher com café.

 

Mas como necessitava mesmo adquirir qualquer coisa para degustar os patês retornei ao primeiro balcão e, rapidamente, pedi dois pãezinhos franceses e um pacote de biscoitos cream crackers. Exatamente enquanto eu fazia o pedido escutava um senhor resmungando:

 

– Algum funcionário, por favor!
– Bom, o que poderia se esperar do atendimento naquela padaria?

 

Ora neste momento, me dirigindo para o caixa notei, ao lado da balança do pão, impresso naquele saudoso porta rolo de papel para embalagem: “Nova Pão Divino”, assim mesmo, sem concordância. Bom, ao menos tinha nome o tal do pão, ou seria da padaria?

 

– De fato sim:
Divino, mas inominável!

 

Digamos que o valor desembolsado também era inominável. Contudo, ao sair, logo me deparei com uma linda coroa de flores bem na porta da floricultura vizinha. E não é que a coroa é muito mais chamativa do que a padaria!

 

De volta à Secretaria degustamos, comemoramos, felizmente o sabor do patê se sobrepôs ao “divino” pão e fui embora. Ocorre que caminhando lá pelos últimos quiosques de flores, exatamente no N° 18 Chai, vida em hebraico, que, segundo a Cabala, significa sorte na cultura judaica, vi a placa:

 

Dê flores aos vivos!

 

Puxa, afinal é meu aniversário, significa que completo mais um ano de vida. Oba! Fiz como o sugerido e presenteei-me com flores.

 


O Conte Sua História de São Paulo vai ao ar aos sábados, após às 10h30, no programa CBN SP. A sonorização é do Cláudio Antonio.