Por Adamo Bazani
Depois de cinco anos trabalhando como Papai Noel ‘independente’, motorista Fumassa ganha apoio da empresa de ônibus e distribui brinquedo para crianças a bordo de um Comil Svelto com decoração de Natal.

Havia um brilho especial nos olhos do motorista Edílson de Oliveira Santos, de 41 anos, quando olhava para o ônibus com enfeites natalinos e luzes de várias cores. Foi com este olhar que se iniciou a entrevista com Fumassa (com dois Ss, como faz questão de enfatizar), que está há 22 anos no transporte coletivo, tendo começado na Viação Padroeira do Brasil, de Santo André. Como motorista, tem oito anos, seis dos quais dedicados a transportar alegria aos passageiros e comunidades atendidas pelas linhas onde trabalha, durante o Natal.
Fumassa conta que, sem muito apoio da Viação Padroeira, na época, colocava um gorrinho de Papai Noel e distribuia balas a crianças, e também adultos entusiastas, ao longo do caminho. “Dar uma bala a uma criança é como dar uma medalha para ela”. Com o tempo, ficou mais difícil manter o trabalho solitário. Um ex-gerente da empresa até o havia proibido de realizá-lo, o que quase levou o motorista a depressão.
Acabou recompensado.
A Viação Vaz, que ganhou que forma o Consórcio União Santo André e começou a operar linhas que eram servidas pela Viação Padroeira, comprou a ideia e enfeitou um ônibus com luzes e imagens natalinas, além de fornecer quilos e quilos de balas, colocar músicas de Natal dentro do ônibus e deixá-lo dirigir vestido de Papai Noel. “Eu me sinto realizado com isso, foi o melhor presente que Deus pode me dar. Acho o Natal uma data especial, pra mim, o passageiro é um amigo, adoro crianças e ter a oportunidade de levar a alegria do Natal durante meu trabalho não tem preço”.
O amor pelo Natal e por distribuir alegria e balas para crianças é tão grande que Fumassa trabalha neste mês mais horas que sua escala, enquanto está vestido com as roupas do bom velhinho. Seu horário normal é das 4 da manhã à uma e 40 da tarde, mas nesta época, por livre e espontânea vontade, trabalha das cinco e meia da manhã às nove da noite.
“Não é só criança que gosta do ônibus enfeitado de Natal ou de um motorista com gorrinho de Papai Noel. Vejo em muitos adultos nascer de novo a pureza da infância. Uma cena que me marca muito foi a gratidão de uma mãe, que tinha passado um ano de dificuldades, mas quando me viu disse que eu a tinha feito esquecer estas dificuldades. E é esse o meu objetivo e o que sempre digo: Não importa como foi o ano inteiro, viva o Natal, porque é nele que nos preparamos para o próximo ano”. – emociona-se Fumassa.
O motorista tem uma facilidade para fazer amizades com passageiros, que lhe rendeam histórias inesquecíveis, como o aniversário de Marcelo, um jovem atendido pelo Projeto Crer, deficiente mental. De tanto levá-lo para o Projeto, na linha em que trabalha, Fumassa fez amizade com a família. O aniversário do jovem sempre foi algo muito valorizado por ele mesmo. Tanto é que três meses antes de seu aniversário, Marcelo já anunciava para todo mundo. No ano passado, com o apoio da empresa, organizou uma festa de aniversário dentro do ônibus, com direito a bolo, bexiga, “parabéns a você” e refrigerante.
“Também já teve caso de eu saber que algumas passageiras estavam grávidas antes mesmo do marido. Mas eu não era o pai hein … Sentou no banquinho da frente, virou confessionário. Pelo menos um bom dia, o passageiro tem de me dar”.
Mais festa pela frente
O sócio diretor da Viação Vaz, Thiago Vaz, 23 anos, diz que Fumassa desde março já falava na possibilidade de comemorar o Natal com os passageiros, mas neste ano, a empresa quis dar um presente diferente para ele, enfeitando o ônibus. “Percorri a linha com o Fumassa e realmente é emocionante. De tão bem recebida a ideia pela comunidade, tiramos o carro da escala. Ele vai rodar em dias alternados em todas as linhas da empresa e tem permissão de parar fora do ponto para atender as crianças que acenam. É fantástica também a receptividade dos adultos”.
O projeto também é uma forma de aproximar a empresa com a comunidade, principalmente nos bairro mais carentes e violentos atendidos pela Viação Vaz. No incício, houve dificuldades para a instalação elétrica. “Mas o Adeildo, eletricista da empresa, foi um mestre. Tivemos de comprar transformadores elétricos, a exigência do desempenho da bateria do ônibus é maior, mas vale a pena.” A intenção agora é enfeitar o veículo também na Páscoa, Dias da Mães, dos Namorados e para a Copa do Mundo.
“Pensei em enfeitar seis ônibus: um para cada título mundial que temos e outro já comemorando o Hexa. A novidade é que vamos ‘adesivar’ os ônibus, com imagens referentes as datas. Estraga a pintura, é verdade, na hora de tirar os adesivos, mas vale a pena, com o retorno da imagem da empresa junto a comunidade”, conta o sócio-diretor da Viação.
Thiago também conta que nas poucas viagens que fez ao lado de Fumassa, já foi possível colecionar fatos interessantes, como a mãe que vai comprar um presente para a filha para o motorista entregá-lo, a alegria dos passageiros idosos, que também querem bala e até um fato que considera engraçado. “Uma vez entrou um passageiro e disse: ‘Coitado desse motorista, olha o que a empresa faz com ele, obrigando-o a trabalhar com essas roupas quentes.’ Mal sabia ele que esse é o sonho do motorista.”
O ônibus, um Comil Svelto com porta do meio para pessoa com deficiência, Mercedes Benz OF 1418, tem enfeites dento e fora. Com luzes agradáveis, sem serem fortes demais, mas que chamam a atenção. No interior, serpentinas, um Papai Noel, bolinhas e uma árvore de Natal. A noite, o veículo fica mais bonito de se ver e pode ser conferido trafegando pelas principais ruas de Santo André, já que todas as linhas da Viação Vaz passam pelo centro da cidade.
Mais bonito que o veículo, no entanto, é o entusiasmo de Fumassa. Ele é de uma família simples, que passou por várias dificuldades. Aos 16 anos de idade, o pai morreu, ainda novo. Fumassa tinha de ajudar a mãe para manter a casa. E o Natal sempre teve um significado especial. “Era simples, mas nos reuníamos à mesa e festejávamos a alegria da vida, a alegria até mesmo de passar por dificuldades e vencer. Hoje me sinto realizado, alcancei um objetivo de vida. Agradeço a empresa por incentivar a ideia e, principalmente, pelo sorriso das crianças, que são meu combustível” – emociona-se mais uma vez o motorista
Adamo Bazani, é repórter da CBN, busólogo e que acredita em Papai Noel como Fumassa.
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