Política e Reforma Política

 

Por Antônio Augusto Mayer dos Santos

 

No início do século XX, o dramaturgo alemão Bertold Brecht cunhou uma manifestação que se tornou célebre pela sua contundência:“O pior analfabeto é o analfabeto político. Ele não sabe o custo de vida, preço do feijão, da farinha, do aluguel, do sapato e do remédio, depende de decisões políticas. O analfabeto político é tão burro que se orgulha e estufa o peito dizendo que odeia a política. Não sabe o imbecil que, da sua ignorância política, nasce a prostituta, o menor abandonado, e o pior de todos os bandidos, que é o político vigarista, pilantra, corrupto e lacaio das empresas nacionais e multinacionais”.

 

Se merecedora de respeito ou desprezo, se atrativa ou desinteressante, o certo é que se tornou impossível ignorar a política enquanto engrenagem de qualquer Estado minimamente organizado. Afinal, é na área do que se costuma chamar de Governo que são decididos os destinos do País, do Estado e do Município relativamente às condições de vida da população em geral, não obstante o desprezo que esta manifesta pela classe parlamentar ou pelos parlamentos, conforme apontam as pesquisas de opinião. Todavia, os eleitores são muito poderosos – embora não percebam – e podem – devem – alterar o quadro.

 

Neste país eivado de contrastes e contradições que a um lado incorporou o jeitinho como forma de conduta e a outro banaliza os escândalos que maculam a integridade de instituições republicanas, atingiu-se a plenitude quanto ao ato do voto. Afinal, neste Brasil de aeroportos precários e de um sistema público aviltante, há eleições periódicas, regulares e secretas para todos os cargos eletivos. Contudo, há que se ter presente que uma democracia ideal, onde predominaria a harmonia absoluta entre tudo e todos, existe apenas numa concepção intelectual e não como realidade concreta. Por outra, sem política não se executa a Democracia. E se não elimina os conflitos sociais, esta fórmula que prioriza a maioria como solução de disputas oferece alternativas para solucioná-los, ainda que falhas ou imperfeitas.

 

Daí porque a necessidade absoluta de uma Reforma Política no país. Mas uma reforma possível, coerente e direcionada ao que realmente faz diferença numa eleição e na representação junto aos Legislativos e Executivos. Nada de delírios mirabolantes e teses que ninguém compreende.

 

Leitores e eleitores convergem numa compreensão básica: não há mais possibilidade de contornar temas aflitivos que despertam indignação na sociedade e na própria classe política. Neste cenário, a sucessão de Comissões e adiamentos impulsiona uma sensação de que o desfecho pretendido jamais será alcançado. Se por um ângulo a constante exposição da matéria converteu a Reforma numa espécie de redenção ética de cunho salvacionista, a outro é leviano supor que a sua aprovação funcionará como um antídoto capaz de eliminar todas as mazelas políticas que vicejam no país.

 

De acordo com estudos e análises de pesquisadores e juristas, inclusive estrangeiros, o eixo sobre o qual gravita o sistema partidário–eleitoral vigente está superado e se revela anacrônico a ponto de causar deformações na própria representação popular, especialmente na distribuição das cadeiras do Congresso Nacional. Diante deste quadro neurótico mas consentido por todos os setores, a cada legislatura, um contingente de respeitáveis e respeitados parlamentares se mobiliza visando modificar o sistema da representação popular no Congresso Nacional.

 

Não é de hoje e muito menos apenas no Brasil que se constata uma apatia política. Escândalos e mazelas não têm geografia, ocorrem em todos os continentes. Entretanto, a Reforma Politica é uma exigência em nome e em função da democracia brasileira.

 

Antônio Augusto Mayer dos Santos é advogado especialista em direito eleitoral, professor e autor dos livros “Prefeitos de Porto Alegre – Cotidiano e Administração da Capital Gaúcha entre 1889 e 2012” (Editora Verbo Jurídico), “Vereança e Câmaras Municipais – questões legais e constitucionais” (Editora Verbo Jurídico) e “Reforma Política – inércia e controvérsias” (Editora Age). Às segundas, escreve no Blog do Mílton Jung.

Coligações e negócios

 

Por Antônio Augusto Mayer dos Santos

 

Quando a legislação eleitoral permite coligações de qualquer naipe sem exigir um mínimo critério de afinidade entre os programas partidários ela dissemina uma falsa isonomia a partir da qual todos os partidos tem direito aos mesmos benefícios legais. Porém, na prática, este aspecto é o mesmo que vitaliza o embrião das não mais tão surpreendentes corrupções eleitorais e administrativas, as primeiras por conta de negociações de duvidosa probidade acerca dos horários de propaganda gratuita para a campanha eleitoral, as outras pelo loteamento de cargos públicos nas administrações.

 

De fato, partidos “sem voz” são aqueles que carecem dos elementos vitais em matéria de política: voto, prestígio e representatividade. Entretanto, nem mesmo esta anemia se revela capaz de barrar a concessão dos aludidos benefícios. É exatamente esta falsa igualdade que oportuniza negociatas em torno dos disputados espaços de rádio e televisão na formação de coligações, sendo que algumas destas, segundo o Professor Paulo Bonavides, ocasionam “uniões esdrúxulas” constituídas “intrinsecamente oportunistas (…) de partidos, cujos programas não raro brigam ideologicamente”.

 

Neste período de Convenções e negociações, o país observa partidos se coligarem de forma absurda. Sim, o país, vez que seus protagonistas não se importam com isso. A maioria das coligações ignora programas partidários para estabelecer acordos que embora ideologicamente incompatíveis, são eleitoralmente viáveis.

 

Progressos e novos horizontes são necessários quando se constata que o atual formato da representação partidária está exaurido e vem consolidando, pleito após pleito, as deformações que são oriundas da campanha eleitoral, a qual, segundo dispara Barry Ames, “(…) enche o Legislativo de partidos fracos e indisciplinados”.

 

Na prática, estas coligações muitas vezes se esboroam logo na arrancada dos governos por conta dos desentendimentos estabelecidos a partir da distribuição de cargos nos mais diversos escalões, visto que em grande parte dos Estados e Municípios existem divergências inconciliáveis entre partidos e lideranças.

 

Mas nada se compara quando o assunto passa às eleições proporcionais, este ano para Vereadores. A representação popular é desvirtuada quando um determinado candidato, embora amparado por votação retumbante, é preterido por outro cuja performance é inferior.

 

A ocorrência de paradoxos tais como a eleição de candidatos com poucos votos na esteira de outros mais bem votados da coligação e a derrota de outros que não alcançaram o quociente pelo partido reflete na própria representação. Afinal, os eleitores, além de não entenderem, desconfiam de um sistema eleitoral que admite a eleição de candidatos com pouca votação apenas porque associados numa coligação invertebrada e meramente de quociente.

 

O eleitor pode romper isto votando bem ao selecionar os seus candidatos a partir de uma coligação coerente.

 


Antônio Augusto Mayer dos Santos é advogado especialista em direito eleitoral, professor e autor dos livros “Reforma Política – inércia e controvérsias” (Editora Age) e “Vereança e Câmaras Municipais – questões legais e constitucionais” (Editora Verbo Jurídico). Às segundas, escreve no Blog do Mílton Jung.

PSD é segunda maior bancada e PMDB some da Câmara

 

O prefeito Gilberto Kassab e o PSD fizeram um estrago nas bancadas dos partidos que disputaram a eleição de 2008 para a Câmara Municipal. Encerrado o prazo de filiação para quem pretende concorrer ano que vem e com as trocas confirmadas, o PMDB e o PSC foram extintos da casa; o PSDB sofreu um corte drástico com a saída de seis vereadores, o DEM diminui pela metade e o PPS, que já não era grande, ficou com apenas um.

No caso dos Tucanos, mais do que o efeito Kassab, a perda se deu por problemas internos do partido, haja vista que somente dois dos dissidentes migraram para o PDS, entre eles o presidente da Casa, José Police Neto. Três foram para o PV, partido que mais engordou ao conseguir dobrar sua bancada para seis vereadores com a chegada de Gilberto Natalini, Dalton Silvano e Ricardo Teixeira. E um, Juscelino Gadelha, se abrigou no PSB.

Kassab levou do DEM, seu partido de origem, Marco Aurélio Cunha, Domingos Dissei, Edir Sales, Ushitaro Kamia e Marta Costa. Esta última ainda tem o nome listado como sendo do Democratas, no site da Câmara, mas o líder do PDS Marco Aurélio Cunha garante que ela é democrata-socialista de carteirinha. Confirmar a informação com a vereadora é tarefa inglória, pois a parlamentar entra muda e sai calada da Câmara, e seus assessores parecem rezar na mesma bíblia (política, lógico). A bancada do PSD recebeu também adesão de Goulart do PMDB, Milton Ferreira do PPS, David Soares do PSC, além dos tucanos Police Neto e Souza Santos.

O PT segue com a maior bancada com 11 vereadores, seguido do recém-formado PSD com 10, PSDB com 7 e PV com 6. Nada, porém, parece ameaçar o poder de Gilberto Kassab dentro da casa, pois os partidos e vereadores têm um forte hábito de aderir ao Executivo em todas as principais causas levadas para o parlamento.

Veja como ficaram as bancadas na Câmara Municipal de São Paulo. E não deixe de perguntar ao seu vereador por que ele mudou de partido. Tem obrigação de explicar, pois quando foi eleito defendia outra cor e ideologia (?)

DEMOCRATAS
Carlos Apolinario
Milton Leite
Sandra Tadeu

PC DO B
Jamil Murad
Netinho de Paula

PDT
Claudio Prado

PP
Attila Russomanno
Wadih Mutran

PPS
Claudio Fonseca

PR
Agnaldo Timóteo
Antonio Carlos Rodrigues
Aurelio Miguel
Quito Formiga
Toninho Paiva

PRB
Atílio Francisco

PSB
Eliseu Gabriel
Juscelino Gadelha
Noemi Nonato

PSD
Marta Costa
David Soares
Domingos Dissei
Edir Sales
Goulart
José Police Neto
Marco Aurélio Cunha
Milton Ferreira
Souza Santos
Ushitaro Kamia

PSDB
Adolfo Quintas
Anibal de Freitas
Claudinho
Floriano Pesaro
Gilson Barreto
José Rolim
Tião Farias

PT
Alfredinho
Arselino Tatto
Carlos Neder
Chico Macena
Donato
Francisco Chagas
Ítalo Cardoso
José Américo
José Ferreira (Zelão)
Juliana Cardoso
Senival Moura

PTB
Adilson Amadeu
Celso Jatene
Paulo Frange

PV
Abou Anni
Aurélio Nomura
Dalton Silvano
Natalini
Ricardo Teixeira
Roberto Tripoli