Sua Marca: o papel pedagógico das marcas

 

“As marcas têm um papel de formação da cidadania no Brasil, também” —- Jaime Troiano

Com uma quantidade enorme de pessoas ainda fora do mercado de consumo e outra parcela começando somente agora a experimentar algumas novas características de serviços, é preciso que as marcas tenham muita responsabilidade no relacionamento com esse público, desempenhando um papel pedagógico. O recado é de Jaime Troiano e Cecília Russo, em conversa com Mílton Jung no quadro Sua Marca Vai Ser Um Sucesso, que vai ao ar aos sábados, no Jornal da CBN.

 

Um exemplo é o trabalho que algumas fintechs —- startups que otimizam serviços financeiros —- estão desenvolvendo ao atraírem clientes que até pouco tempo não tinham acesso ao sistema bancário. Segundo dados do Instituto Locomotiva, cerca de 45 milhões de brasileiros não têm conta bancária e, assim, encontro dificuldades de acesso a serviços essenciais para seu desenvolvimento como a obtenção de crédito para abertura de negócios.

 

A tentação em conquistar esses clientes não pode jamais se sobrepor a importância de se desenvolver uma comunicação que eduque o consumidor. “Quando a gente fala das marcas serem simples, acessíveis e inclusivas, estamos pedindo uma linguagem para que as pessoas entendam e melhorem sua capacidade de entrar no mercado de consumo, sem serem enganadas e fazendo escolhas mais conscientes”, diz Cecília Russo.

Conte Sua História de SP – CBN 25 anos: o rádio transforma a vida das pessoas

 

 

No Conte Sua História de São Paulo, que comemora os 25 anos da rádio CBN, você ouve o depoimento do ouvinte-internauta Antonio Arivaldo, que fotografava vendas da cidade enquanto trabalhava de cobrador de ônibus. Descoberto pela CBN teve sua história contada no ar e sua vida mudou radicalmente: teve direito a exposição de arte, motivou-se a voltar a estudar e hoje é formado em pedagogia.

 

O Conte Sua História de São Paulo vai ao ar, aos sábados, logo após às 10h30, no CBN SP. Tem a sonorização do Cláudio Antonio e a narração de Mílton Jung

A lei da palmada e a falta de disciplina

 

Por Milton Ferretti Jung

 

Não sei se sou apenas um senhor idoso,um velho impertinente ou um sujeito demasiadamente exigente sem que isso tenha alguma ligação com os meus quase 78 anos. É possível também que eu não preencha nenhum dos três quesitos que expus na primeira frase do meu texto desta quinta-feira e, neste caso,esteja cheio de razão quando não concordo com uma lei aprovada pelo Senado e com uma ideia do Conselho Estadual de Educação do Rio Grande do Sul. Vou por partes.

 

O senadores aprovaram na início de junho a Lei da Palmada ou lei do menino Bernardo,esse vitimado por crime hediondo cometido na cidade gaúcha de Três Passos. A legislação altera o Estatuto da Criança e do Adolescente na medida em que os pais não podem castigar os seus filhos de maneira a lhes impor sofrimento ou lesões. Até aí,não há o que se discutir. Há pais desnaturados que continuarão,com lei ou sem lei,a tratar os filhos com violência e até abusar sexualmente deles. Esses têm de arcar com os rigores da lei. O Estado – pergunta-se – teria poder para interferir na educação das crianças. Há controvérsias.Estaria correto coibir a “palmada pedagógica”? Penso que não. Trata-se do que eu chamaria de santa palmada,que não machuca e ajuda a dar a entender às crianças que elas precisam se dar conta de que os seus pais é que mandam em casa. Afinal,todos nós,seja no jardim-da-infância e daí para a frente sempre teremos que aceitar comandos de todas as espécies e em todos os estágios de sua existência.

 

Sou pai de três filhos e avô de quatro netos. Lembro-me,apenas,de ter dado um tapa na bundinha do Mílton ao vê-lo,no dia em que o Inter inaugurava o seu estádio,passear pela calçada com uma bandeirinha do nosso tradicional adversário,que lhe foi dada por “banditismo”de um parente colorado. Foi um exagero que me doeu por muito tempo. Quando criança e adolescente,levei chineladas da minha mãe. E ela sempre tirava o chinelo com boas razões.

 

Já o Conselho Estadual de Educação está,a meu modesto ver,prevendo que as escolas gaúchas não reprimam a indisciplina com afastamento do aluno ou sua transferência. Estamos diante de mais uma medida,no mínimo,polêmica. Desde já tenho pena dos professores se a ideia do Conselho for posta em prática. Tenho uma filha que é professora de uma escola situada em uma vila de Porto Alegre. Seus alunos são crianças entre cinco e seis anos. E ela passa enorme trabalho para os manter com um pouco de disciplina. Imagino o que os seus alunozinhos farão quando forem adolescentes. Conheço inúmeros professores que desistiram da profissão por se sentirem incapazes de dar aulas a adolescentes e outros já marmanjos,eis que esses,por dá cá aquela palha,chegam ao ponto de ameaçá-los fisicamente. A presidente do Conselho Estadual de Educação,Cecília Farias, entende que a escola não pode ser punitiva,mas deve investir na solução dos problemas dos alunos para mantê-los nos colégios”. Será que ela,atualmente,trabalha em sala de aula? Já Osvino Toillier,vice-presidente do Sinepe/RS,diz que a pretensão do Conselho “vai tirar o último resquício de autoridade da escola”. E concluiu afirmando: ”Se você tem algum aluno que coloca outros em risco,perde a liberdade de definir o afastasmento”. Li essas duas posições na ZH do último dia 4 de agosto. Fico com a do professor Toillier.

 


Milton Ferretti Jung é jornalista, radialista e meu pai. Às quintas-feiras, escreve no Blog do Mílton Jung (o filho dele), que aprendeu bem a lição.

Um caminho para nossa Educação

 

Por Julio Tannus

 

Muito tem se falado sobre o nível de nosso ensino, tanto nos cursos básicos como nas universidades. Para Edgar Morin há sete saberes necessários à educação para promover a formação de futuras gerações. Diz que são necessárias novas práticas pedagógicas para uma educação transformadora que esteja centrada na condição humana, no desenvolvimento da compreensão, da sensibilidade e da ética, na diversidade cultural, na pluralidade de indivíduos. E que privilegie a construção de um conhecimento interdisciplinar, envolvendo as relações indivíduo-sociedade-natureza. Para ele é fundamental criar espaços para o diálogo que propicie a reflexão, capaz de viabilizar práticas pedagógicas fundamentadas na solidariedade, na ética, na paz e na justiça social.

 

Uma educação baseada nos Sete Saberes (*) poderá colaborar para que os indivíduos possam enfrentar as múltiplas crises sociais, econômicas, políticas e ambientais, que colocam em risco a preservação da vida no planeta.

 

Aqui vão os “Sete Saberes”.

 

As cegueiras do conhecimento, o erro e a ilusão – Todo conhecimento comporta o risco do erro e da ilusão. A educação do futuro deve enfrentar o problema de dupla face do erro e da ilusão. O maior erro seria subestimar o problema do erro; a maior ilusão seria subestimar o problema da ilusão.

 

Os princípios do conhecimento pertinente – O conhecimento dos problemas-chave, das informações-chave relativas ao mundo, por mais aleatório e difícil que seja, deve ser tentado, sob pena de imperfeição cognitiva, mais ainda quando o contexto atual de qualquer conhecimento político, econômico, antropológico, ecológico… é o próprio mundo. A era planetária necessita situar tudo no contexto e no complexo planetário.

 

Ensinar a condição humana – A educação do futuro deverá ser o ensino primeiro e universal, centrado na condição humana. Estamos na era planetária; uma aventura comum conduz os seres humanos, onde quer que se encontrem. Estes devem reconhecer-se em sua humanidade comum e, ao mesmo tempo, reconhecer a diversidade cultural inerente a tudo que é humano.

 

Ensinar a identidade terrena – A partir do século XVI, entramos na era planetária e encontramo-nos desde o final do século XX na fase da mundialização. A mundialização, no estágio atual da era planetária, significa primeiramente, como disse o geógrafo Jacques Lévy: “o surgimento de um objeto novo, o mundo como tal”. Porém, quanto mais somos envolvidos pelo mundo, mais difícil é para nós apreendê-lo. Na era das telecomunicações, da informação, da internet, estamos submersos na complexidade do mundo – as incontáveis informações sobre o mundo sufocam nossas possibilidades de inteligibilidade.

 

Enfrentar as incertezas – Ainda não incorporamos a mensagem de Eurípedes, que é a de estarmos prontos para o inesperado. O fim do século XX foi propício, entretanto, para compreender a incerteza irremediável da história humana.

 

Ensinar a compreensão – A situação é paradoxal sobre a nossa Terra. As interdependências multiplicaram-se. A consciência de ser solidários com a vida e a morte, de agora em diante, une os humanos uns aos outros. A comunicação triunfa, o planeta é atravessado por redes, fax, telefones celulares, modens, internet; entretanto a incompreensão permanece geral. Sem dúvida, há importantes e múltiplos progressos da compreensão, mas o avanço da incompreensão parece ainda maior.

 

A ética do gênero humano – individuosociedadeespécie são não apenas inseparáveis, mas coprodutores um do outro. Cada um destes termos é, ao mesmo tempo, meio e fim dos outros. Não se pode absolutizar nenhum deles e fazer de um só o fim supremo da tríade; esta é, em si própria, rotativamente, seu próprio fim. No seio desta tríade complexa, emerge a consciência. Desde então, a ética propriamente humana, ou seja, a antro-poética, deve ser considerada como a ética da cadeia de três termos. Essa é a base para ensinar a ética do futuro.

 

Para cada um, Morin faz uma análise que não cabe aqui ser reproduzida, mas certamente merece ser lida, estudada e apreendida.

 

(*) Edgar Morin, Os sete saberes necessários à educação do futuro – 2a Edição Revisada; Cortez Editora

 

Julio Tannus é consultor em Estudos e Pesquisa Aplicada,
co-autor do livro “Teoria e Prática da Pesquisa Aplicada” (Editora Elsevier), e escreve no Blog do Mílton Jung, às terças-feiras.