Natal, apenas de passagem!

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Véspera de Natal. Na terra que deu vida ao Papai Noel, o cenário parece cuidadosamente montado, como os cenários de teatro que encantam o público no palco, enquanto escondem a complexidade dos bastidores: as tábuas expostas, os cabos elétricos, os caixotes e as cordas de sustentação. Há luzes demais piscando nas janelas, casas decoradas com um leve exagero e vitrines disputando a atenção das pessoas, que dividem o olhar entre o espetáculo e a tela do celular – pela quantidade de sacolas nas mãos, parece terem tido sucesso. A neve, que chegou há alguns dias em Ridgefield, dá o toque final a essa composição quase cinematográfica, que está no limite do real e do fantasioso.

No meio desse ritual, esbarrei em uma notícia publicada em jornal português: a vida na Terra, dizem os cientistas, pode ser 1,5 bilhão de anos mais antiga do que imaginávamos. Um bilhão e meio! Enquanto nos ocupamos em ajeitar os enfeites e garantir que os presentes estejam no lugar certo sob a árvore, a história do planeta, com sua vastidão quase infinita, parece debochar da nossa pressa de encontrar sentido em tudo.

Parei para pensar – pensando bem, parei mesmo foi para escrever, porque a escrita me apazigua. Que lugar ocupamos nessa linha do tempo que parece não ter fim? Diante da memória impressa nas camadas da Terra, nossa existência soa breve, quase imperceptível. E, mesmo assim, corremos, planejamos e insistimos em deixar marcas, como se pudéssemos desafiar a própria transitoriedade.

Será que é isso? Estamos aqui só de passagem? Ou carregamos, na essência, o desejo de sermos lembrados, de atendermos as expectativas e não decepcionarmos os outros, apesar de sabermos que o planeta seguirá adiante, imutável às nossas tentativas de gravar nossa presença na sua imensidão?

O Natal, com sua carga simbólica, tende a ser o momento certo para refletir sobre essas perguntas. É quando tentamos, entre uma compra e outra, nos reconectar ao que realmente importa: relações, afeto, pertencimento. Porém, questiono se conseguimos enxergar além da superfície. Não falo das listas de metas ou dos presentes acumulados sob o pinheiro, mas daquilo que nos amarra à própria Terra — algo que nos precede e também nos sucederá.

Vivemos em busca de algo que nem sempre conseguimos definir. Talvez seja isso que nos faz humanos: a necessidade de criar, imaginar, deixar rastros, mesmo cientes de que somos passageiros num trem que nunca estaciona. E, ainda assim, cada um de nós carrega um fragmento da história do universo.

Talvez o sentido não esteja em brigar contra o tempo, mas em aprender a andar ao seu lado. Reconhecer nossa finitude não como derrota, mas como chance de aproveitar cada passo. Aqui e agora, sobre um planeta que é ao mesmo tempo tão permanente e tão indiferente às nossas pressões.

E, já que estou só de passagem, resolvi deixar no bagageiro minhas implicâncias com os exageros natalinos e aproveitar o que há de melhor nesse momento: os abraços sinceros, as risadas que não cabem em embalagens e aquele irresistível cheiro de comida que parece aquecer até a alma. Afinal, a viagem é curta, mas ainda pode ser cheia de bons encontros.

Rosana Jatobá: “a Terra sobreviverá, mas nós estaremos vivos?”

 

Por Dora Estevam

 

A elegância não está apenas na roupa que veste ou nos gestos que marcam sua fala. Rosana Jatobá é refinada no conteúdo, também, que vai muito além daquele que a maior parte do Brasil ainda se lembra, e com saudade, quando apresentava a previsão do tempo no Jornal Nacional, na TV Globo, onde trabalhou por 12 anos. Dedica-se agora ao tema da sustentabilidade, sem dúvida resultado do mestrado em Gestão e Tecnologias Ambientais feito na USP, mas que também pode ser explicado pelo destino que o nome de família lhe proporcionou. Jatobá é a árvore que mais sequestra carbono do ar, espécie de faxineira do ar. E Rosana busca ajudar o planeta com o recurso que desenvolveu no jornalismo: a comunicação. Atualmente, apresenta o programa “Tempo Bom, Mundo Melhor” na Rádio Globo, está escrevendo as últimas páginas de um livro e se preparando para lançar o site “Universo Jatobá”. A unir todos os projetos, o desejo de viver em uma sociedade mais justa e sustentável, o que já revelava em crônicas escritas no Blog do Mílton Jung, em 2010 (leia os artigos aqui). E a certeza de que o exemplo começa em casa, como demonstra nesta entrevista que fiz com a ela:

 

Quais as ações de sustentabilidade que você pratica, atualmente?

 

– Coleta seletiva do lixo e destinação correta, levando os resíduos ao posto de coleta do Pão de Açucar; economia de água e de energia; aparelhos eletrônicos com selo de efeciência energética e desligados (fora da tomada) quando não utilizados; uso de bicicleta para pequenos percursos; uso de ecobags; horta doméstica e ioga.

 

Onde você busca inspiração para os seus projetos? Quais são as suas referências?

 

– Minha maior referência é a literatura. Procuro me inspirar em grandes escritores sobre o tema, como Tim Flannery, James Lovelock, Nicolas Stern, José Goldembreg, Washington Novaes, Leonardo Boff, Echart Tolle, etc… Gosto também de ressaltar atitudes sustentáveis de pessoas famosas, pois é um chamariz eficiente de convencimento. Os exemplos mais factuais eu pesquiso em sites como EcoD, Planeta Sustentável, Treehugger e os cadernos de Sustentabilidade do Valor Econômico e do Estadão. Fico de olho tambem em documentarios e podcasts.

 

O consumo, de maneira geral, é um vilão da economia de sustentabilidade?

 

– O consumo é benéfico. Traz conforto e é a mola propulsora da economia. O erro é o consumismo, a prática exagerada do consumo, que resulta em exploração demasiada dos recursos naturais e no descarte inadequado. Temos que migrar de uma sociedade descartável para uma sociedade de bens duráveis. E temos que aprender a nos contentar com uma vida mais frugal, ligada a natureza, a qualidade dos relacionamentos e a espiritualidade, evitando buscar recompensas psicológicas por meio do materialismo. A economia da consciência vai predominar neste século e as inovações da tecnologia vão nos permitir uso mais racional da energia e da matéria-prima.

 

Quais as maiores dúvidas das pessoas com relação as questões ambientais?

 

A duvida conceitual: o mito de que o planeta vai acabar em água ou em fogo! Mas a verdade é que a Terra, por mais explorada e aviltada, sobrevivera, como ocorreu em outras eras. O que temos que atentar é para a sobrevivência da espécie humana e de muitas outras que, como sabemos, estão interligadas neste equilibrio ambiental. A duvida prática: como posso ser sustentável sem abrir mão do conforto material?

 

Já podemos dizer que o Brasil tem um forte apego a sustentabilidade?

 

Podemos dizer que o Brasil tem uma forte vocação e um potencial magnífico para ser sustentável. Temos a matriz energética quase toda limpa, uma das maiores e mais ricas florestas do mundo em biodiversidade, água em abundância, embora com problemas de escassez e distribuição; e um povo que gosta de natureza e é receptivo às mudanças necessárias. Quando a educação for prioridade, daremos as ferramentas para nosso povo fazer as escolhas corretas e lutar por uma sociedade mais justa e ambientalmente correta.

 

Quem você gostaria de ver falando sobre este assunto com você?

 

A minha maior conquista profissional é poder dividir o palco com a nossa Ministra do Meio Ambiente Izabella Teixeira em diversos eventos relacionados ao tema. Os últimos foram o lançamento da “Rede de mulheres líderes pela sustentabilidade” e a premiação do ” Champions of the Earth, da ONU”. Sou parceira do Ministério. Um dos projetos é engajar pessoas famosas como atores e jornalistas, a fim de formar opinião voltada para a preservação ambinetal e a responsabilidade social. Agora, se juntar o Brad Pitt, o Leonardo de Caprio e o Al Gore….não reclamo, não! rsrsrsrs

 

Como convencer o consumidor a ter percepção forte sobre o consumo alternativo?

 

Acho que dar bronca, censurando atitudes, não dá certo. Ao contrário. Você passa a ser encarado como ecochato. Tem que tentar engajar pela emoção, mostrando que o futuro dos nossos filhos está comprometido. E evitar um discurso catastrófico. Mostrar o lado bom de mudar.

 

Quando anda nas ruas da cidade o que mais chama sua atenção e você gostaria de mudar?

 

O que me comove e constrange é a desigualdade social, embora o Brasil seja, pela primeira vez na história, um país de classe média. Mas o fato é que há muita disparidade e uma sociedade desigual gera muitos conflitos. Como convencer um cidadão a fazer separar o lixo, se na porta dele passa o esgoto e a família não tem acesso à água potável?

 


Dora Estevam é jornalista e escreve sobre moda e estilo de vida, aos sábados, no Blog do Mílton Jung

De Água


Maria Lucia Solla é terapeuta, professora de língua estrangeira e colunista dominical do Blog do Mílton Jung. Aproveita o Blog Action Day’10, para compartilhar sua angústia sobre a relação do ser humano com a água.

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Quer saber o que é que está acontecendo com a água? Nada. Nadica de nada. Somos nós que abusamos dela e a fazemos fugir em disparada; mas viciados que somos em bater e esconder a mão, soluçamos, fungamos, miamos, dizendo que foi ela; dizendo que é ela! que escasseia, que rareia.

criamos slogans do avesso
porque não queremos
na verdade
saber da vida nem o começo

– Vamos salvar o Planeta!
– De quem?

De nós!

Raposas salvando galinhas.

Apaga tudo e começa de novo. Chega de fingir que estamos vivendo, chega de fingir que queremos nos salvar do outro, porque é de nós mesmos, e de ninguém mais, que temos que correr.

Quanto à água, nós a aprisionamos embaixo da terra, de onde ela brota para nos dar a vida, à luz do sol, e nós a cobrimos com camadas de cimento, em puro agradecimento.

Já faz muito tempo que ignoramos o ritmo da Natureza; desde que começamos a nos acreditar deuses. Nos enamoramos de nós a tal ponto que do verdadeiro Criador nos afastamos. As igrejas o humanizaram, na tentativa sorrateira de enfraquecê-lo, e nos tornarmos, nós! seus criadores. O investimos de nossas qualidades e fraquezas, atribuímos a Ele personalidade que julga, condena, absolve, tudo a baixos preços de uma ou duas preces.

Água é Yin, feminina. Olha em volta! onde está o Feminino no planeta? E a gente se pergunta, o que vai acontecer com a água, como se isso não fosse da nossa conta!

água
que calor
água
por favor

água fria
sai da torneira da pia
lava a sujeira do resto
da fruta e do prato indigesto

água indiferente
lava a fronte do recém nascido
assim como lava a do bandido

é quente no banho
a água
lava atrás da orelha menino
lava bem a cabeça
e depois enxágua

água
na estrada
mais nada!