O que vai mudar na educação de São Paulo

 

O modelo de progressão continuada nas escolas de São Paulo vai mudar, mas não será extinto; o exame de avaliação implantado no Governo Serra não vai retirar professor com mau desempenho da sala de aula; alunos serão submetidos a provas anuais ou semestrais para se identificar a qualidade do ensino; diretores de escolas continuarão sendo indicados e não eleitos; e o Estado pode, finalmente, ter um Plano Estadual de Educação.

De forma simples e direta, é o que entendi da entrevista com o novo secretário adjunto da Educação do Estado de São Paulo João Cardoso Palma Filho, no CBN SP. O esforço dele foi acabar com o mal estar que a manchete da Folha de São Paulo ( “Alckmin muda progressão continuada”) gerou na equipe que somente assumirá nesta quarta-feira.

Ouça a entrevista do secretário-adjunto Palma Filho ao CBN SP.

Palma Filho tentou mostrar que ainda não há uma decisão final do Governo Alckmin sobre estes temas, pois todos serão discutidos com o magistério ao longo de 2011. Conversar com os professores parece ser prioridade na próxima gestão.

A dificuldade de dialogar com a Apeoesp, sindicato da categoria, que teria prejudicando a implantação de programas na área da educação, inclusive com a decretação de greve no ano passado, teria pesado na decisão do Governo Alckmin de substituir Paulo Renato Souza, apesar de José Serra ter pedido a permanência do colega de partido no cargo.

Além de não manter Paulo Renato, o governador ainda ouviu a opinião do desafeto de Serra, o deputado federal e ex-secretário Gabriel Chalita. Tanto o novo secretário Herman Voorwald como João Cardoso Palma Filho, o adjunto, teriam sido indicados pelo parlamentar do PSB. Chalita sempre se orgulhou de durante o mandato dele na Secretaria de Educação jamais ter havido uma greve de professores.

Aliás, outra promessa da gestão que assume vai ao encontro das propostas do deputado do PSB. Foi Chalita quem enviou o Plano Estadual de Educação, em 2003, que depois de aprovado em várias instâncias na Assembleia Legislativa acabou engavetado. O texto previa aumento do investimento em educação de 30% para 35% do Orçamento do Estado e restringia o número de alunos por sala de aula (leia sobre o assunto aqui)

Neste item, tem razão o novo secretário: São Paulo não pode prescindir de um plano estadual de Educação. Somente assim se terá condições de limitar os efeitos negativos das constantes mudanças na política educacional, comuns mesmo em um Estado que há 16 anos é comandado por um só partido.

A dúvida que ainda se tem é se tudo isso que se discutirá mudará o que é mais importante: a qualidade do ensino na rede pública.

Plano de Educação guardado na gaveta, em São Paulo

 

São Paulo é um dos 16 estados brasileiros que ainda não implantaram o plano estadual de educação, apesar de haver um texto sobre o tema na Assembleia Legislativa, desde 2003. Na realidade, eram duas propostas, uma assinada pelo Fórum Estadual em Defesa da Escola Pública e outra pelo próprio Governo do Estado. De acordo com o deputado Carlos Gianazzi (PSOL), após debater com entidades sociais e educativas, foi elaborado o projeto de lei 1.066/2003, jamais votado “por falta de interesse da base governista”.

O parlamentar explicou ao CBN SP que o Plano engavetado previa o aumento do investimento em educação de 30% para 35% do Orçamento do Estado, além de restringir o número de alunos por sala de aula, entre outros itens.


Ouça a entrevista do deputado estadual e integrante da Comissão de Educação da Assembleia Legislativa, Carlos Gianazzi (PSOL), ao CBN SP.

Ao mesmo tempo, o atual Governo começou a elaborar outro Plano que teria sido entregue ao Conselho Estadual de Educação, em maio deste ano. Porém, ainda não se sabe o que está previsto no texto. Gianazzi disse que esta proposta “foi elaborada dentro do gabinete sem debater com a sociedade”.

Procurada, a Secretaria Estadual de Educação divulgou nota na qual explica que “o Plano Estadual de Educação, referente a esta gestão, foi concluído em maio de 2010 e encaminhado para o Conselho Estadual de Educação de onde deve seguir para aprovação na Alesp”.

A Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDBE) prevê a elaboração dos planos estaduais, há dez anos, mas levantamento feito pelo Observatório da Educação mostra que a maioria dos governos ainda não fez a lição de casa.

Em entrevista ao Observatório da Educação, o professor da Faculdade de Educação da USP, César Augusto Minto, disse que “o país não tem tradição de planejamento efetivo, ficando os diversos governos livres para conduzirem as políticas setoriais de acordo com sua conveniência, quase sempre em detrimento dos interesses da sociedade.


Leia aqui a reação dos conselheiros do Conselho de Estadual de Educação em post publicado no Blog De Olho no Conselho