Azar do Chile !

Direto da Cidade do Cabo

E os meninos ? Não viram o jogo ontem ?

A pergunta chegou por e-mail de um internauta pouco disposto a ler o que os comentaristas de plantão – dentro os quais este que escreve o blog – pensam sobre a seleção brasileira. Para ele, quem elogia o Dunga é puxa-saco, não entende nada de futebol. Quem critica, é uma anta que não aprendeu que o futebol atual busca o resultado. Nunca está contente. Por isso, prefere ouvir os inocentes de coração, como se estes ainda existissem.

E como me cobrou, fui procurar os dois garotos que têm me ajudado a entender alguma coisa de futebol durante esta Copa, sobre os quais já conversamos neste espaço. Fiquei preocupado logo que os consultei, pois a primeira coisa que ouvi foi que “não tenho nada pra falar sobre este jogo”, na voz de quem esperava mais.

Nada ? Gostou, não gostou ? Qualquer coisa pra me ajudar.

“Só o goleiro é que foi bem”, disse um deles em elogio ao Julio César por quem ficou preocupado quando viu aquelas ataduras protegendo as costas. Machucado ou não, ele segurou a onda lá atrás, disse o outro.

“Aquele cara de perna comprida foi legal, eles tirou uma bolas do Cristiano Ronaldo”, falou o outro se referindo ao Lúcio.

Conversa vai, conversa vem, descobri que eles gostaram também de uma outra coisa: o juiz mexicano, principalmente quando ele resolveu dar um cartão amarelo duplo. Puniu um brasileiro e sem precisar baixar a mão puniu um português, também. “Parecia minha professora quando dá bronca num colega e aproveita para puxar a orelha do outro que estava rindo fora de hora”.

O mais velho, admirador de Elano, queria mesmo é a garantia de que o meio-campista estará de volta no próximo jogo. “Quando eu vi o tanto de escanteio que os caras erraram lembrei dele”, disse ao falar, sem lembrar o nome, de Daniel Alves que assumiu a função na partida contra Portugal. “Ele não acertava uma, o escanteio sempre dava na perna do zagueiro”.

Não gostaram do Júlio Batista, também. Defenderam a ideia de que ele teria de ter saído do time no primeiro tempo. Aprendi nestes três jogos que os dois são impacientes e imediatistas. Entrou, não mostrou, substitui. É o que defendem.

Sabe do que eles gostaram? Do Felipe Melo quando devolveu a botina no Pepe. “Tinha que fazer aquilo mesmo, porque o Pepe tava muito chato e brigando com a gente”. Estão perdoados pelo desejo de revanche, eles ainda são crianças. Felipe Melo, não.

Por serem crianças, não terem compromisso com a seleção, cansados de verem a chatice que marcou este terceiro jogo do Brasil, foram pragmáticos como o futebol atual: “delisgamos a TV e fomos jogar video-game”.

Pelo tanto que o Dunga reclamou do time durante o jogo, parece que ele também teria preferido ficar diante do video-game e, quem sabe, disputar uma partida de Fifa 2010, na qual não teria necessidade de abrir mão do Kaká, Elano e Robinho, que fizeram muita falta ao nosso time.

Segunda-feira eles estarão de volta, meninos.

“Azar do Chile”, concluiu o mais jovem e atrevido.

O pebolim estava mais emocionante

Direto da Cidade do Cabo

Brasil e Portugal no pebolim

O melhor do Brasil foi Dunga.

Explico, antes que alguém pense que fiquei louco, afinal, das três substituições que fez, as duas primeiras não funcionaram e, ainda, impediram que a terceira desse certo.

Júlio Batista estava mais perdido que cusco em procissão, corria pra cá, se movia prá lá, e não sabia o seu papel em campo. Daniel Alves entrou em campo disposto a enfiar um canudo nos portugueses de qualquer jeito e esqueceu que futebol é coletivo, tem mais gente doida pra marcar e mais bem colocada para tal.

Nilmar que substituiu Robinho, poupado devido a lesão, bem que tentou fazer alguma coisa, deu o chute mais perigoso do Brasil após uma bola que o Luis Fabiano não-tocou pra ele. A ideia era outra, mas chegou no lugar certo. É o que interessa. Pena o goleiro português ter feito o papel dele tão bem

Nosso goleador e Nilmar, porém, foram vítimas do meio campo sem criatividade, que se movimentava menos que time de pebolim, apesar de algumas tentativa sem sucesso. Verdade seja dita, a defesa de Portugal que, além dos quatro de trás, ainda recebeu o reforço de mais cinco meio campistas, deixando apenas Cristiano Ronaldo para as bolas sorteadas lá na frente, também não se mexia. Resultado: nada.

Os portugueses jogaram o primeiro tempo pra garantir a segunda vaga, e o segundo pra conquistar a primeira. Os brasileiros jogaram para vencer, ou melhor, queriam jogar para vencer, mas não havia gente capacitada.

O legal foi confirmar que Júlio César é o melhor goleiro do mundo, pois todas as vezes que é exigido atende nossas expectativas. Hoje, por duas vezes, fez o que o pessoal da marcação não havia conseguido: tirar a bola dos pés dos atacantes portugueses.

Por falar nos nossos defensores, se houve uma jogada emocionante no segundo tempo foi o quase carrinho de Lúcio, dentro da área brasileira, que cortou as pretensões de Cristiano Ronaldo em uma das muitas escapadas que deu. Apesar de que o Lúcio, esse sim, poderia ter ficado cravado lá atrás como a linha de defesa em time de pebolim. Às vezes, ele resolve se mandar pra frente com a bola nos pés e fica parecendo caminhão sem freio descendo a ladeira, desgovernado.

Mas vamos a justificativa para a primeira afirmação deste texto.

Na entrevista, após o empate com Portugal, Dunga disse que Robinho fez mais falta porque é driblador e sabe aproveitar os espaços curtos, comentou que a seleção insistiu muito em tocar bola na área mais congestionada do campo e falou que o futebol do Brasil precisa evoluir em relação ao que fez até aqui nesta Copa. O que justifica sua irritação ao lado do campo. Em uma partida na qual ninguém foi além da média, ao fazer a leitura correta do jogo, Dunga cumpre bem sua tarefa.

De minha parte, vou continuar assistindo ao jogo de pebolim disputado por torcedores brasileiros e portugueses aqui no Village Terra, em Cidade do Cabo, muito mais emocionante e disputado do que o Brasil e Portugal que assistimos, nesta sexta-feira.

Conte Sua História de São Paulo: Artista capilar e poeta

 

José Ferreira de Carvalho

Foram dois diplomas em Portugal, antes de chegar ao Brasil para abrir seu próprio negócio. Aqui, desenvolveu outra habilidade, a poesia, exercitada nos jardins do Museu do Ipiranga, no bairro em que foi morar, em 1954. O senhor José Ferreira de Carvalho, no depoimento gravado pelo Museu da Pessoa para o Conte Sua História de São Paulo, lembra da infância na cidade portuguesa de Vila De Aguiar e fala com orgulho da sua profissão: barbeiro. Perdão, seu José, artista capilar. “E sem frescura” como faz questão de ressaltar.

Ouça a história de José Ferreira de Carvalho, em depoimento sonorizado por Cláudio Antonio

Você também pode contar um capitulo da nossa cidade. Agende uma entrevista no telefone 2144-7150 ou pelo site do Museu da Pessoa.

Conte Sua História de São Paulo: No navio de Portugal

 

Cesário dos Santos Rodrigues Cesário dos Santos Rodrigues nasceu em Sendim, lugarejo próximo de Vizeu, em Portugal. Deixou a terra natal aos 12 anos para encontrar-se com toda a família, em São Paulo. Foram dez dias de viagem de navio onde viveu aventuras inesquecíveis, fez amizades – apesar de algumas brigas – e conheceu brinquedos jamais vistos em sua infância modesta. É, porém, a lembrança do desembaque no Brasil quando pode rever seu pai que ainda lhe proporciona fortes emoções como demonstrou durante depoimento gravado pelo Museu da Pessoa para o programa Conte Sua História de São Paulo.

Ouça o depoimento de Cesário dos Anjos Rodrigues sonorizado por Cláudio Antonio

O Conte Sua Hitória de São Paulo vai ao ar, no CBN SP, logo após às 10 e meia da manhã. Você também pode participar. Agende uma entrevista pelo telefone 2144-7150 ou no site do Museu da Pessoa.

Conte Sua História de São Paulo: Meu Brooklin

 

Por José Manuel Cascão Costa
Ouvinte-internauta do CBN SP

Ouça o texto “Meu Brooklin” sonorizado por Cláudio Antonio

Aqui você lê o texto original, escrito pelo autor, sem os cortes necessários (feitos pelo próprio) para adaptar ao programa de rádio:

Faz um mês que estou trabalhando no sétimo andar de um prédio na Rua Arandú, no Brooklin, paralela à Berrini. Daqui até aonde a vista alcança (o que dependendo da direção que eu olhe, não dá mais do que um quarteirão) posso ver uma parte do bairro ainda não tomada pelos prédios. Fosse este onde estou, o único, e estivéssemos nós em 68, quando vim morar no Brooklin, minha vista alcançaria alguns quilômetros em todas as direções, já que não havia um único edifício no quadrilátero compreendido entre a Marginal de Pinheiros, a avenida Santo Amaro, a avenida Vicente Rao e avenida dos Bandeirantes, território onde vivo desde os 11 aos atuais 52.

Antes do Brooklin, meu universo era bem mais reduzido: uma pequena aldeia ao norte do Portugal, cuja população total não era muito maior do que o número de pessoas que hoje trabalha num edifício qualquer da região. Saí dessa aldeia com meus pais em 1968, para nos juntarmos aos meus irmãos que cá estavam. Depois de 14 dias a bordo do navio Theodor Erzl de bandeira israelense, que saiu de Lisboa às 7 horas de uma manhã fria e nevoenta de dezembro, e viajando numa classe que não me recordo ter alguma das letras do alfabeto, desembarcamos finalmente no Porto de Santos.

Confesso que aquele Brasil de 68, e tudo que estava acontecendo nele, eu só conheci mais tarde, já no colegial. E depois, mais profundamente, durante os tempos de repressão na faculdade de comunicação em meados dos anos 70. Mas ali, garoto, imigrante recém-desembarcado, com a terra prometida em baixo dos meus pés, o que eu via com os olhos esbugalhados, o queixo caído e a boca aberta era a esperança, o futuro promissor, o maravilhoso mundo novo chamado Brasil!

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