Conte Sua História de São Paulo 468: minha cidade tem praia, sim senhor!

Julio Araújo

Ouvinte da CBN

Era adolescente nos anos 1960 e gostava de folhear o Guia de Ruas  da Cidade de São Paulo. Se não me engano se chamava “Guia Levi”, e era vendido em bancas de jornal. Me detinha nos pontos para visita ou turísticos. Certa vez, folheando o guia, dois desses pontos me chamaram a atenção: Praia Azul e Praia do Sol.

Como assim?  São Paulo não tinha praia! Na minha cabeça, praia era algo grandioso. A praia que conhecíamos de verdade ficava longe, embora já existisse a rodovia Anchieta juntamente a Estrada Velha de Santos. Era viagem de pelo menos duas horas e meia.

Não lembro  como consegui  a informação, se foi no próprio guia, que as praias Azul e do Sol ficavam em Guarapiranga, pra lá de Santo Amaro.  Eu morava na  Vila Prudente. Santo Amaro era como se fosse outra cidade, de tão longe.

Num domingo resolvi encarar a aventura. Peguei ônibus para o largo Sete de Setembro; em seguida, embarquei no bonde na avenida Liberdade. O trajeto era interessante: passava pela Vila Mariana, São Judas, Moema, Aeroporto de Congonhas, Campo Belo, numa linha reta, no meio da via, e demorava  bastante, embora não houvesse trânsito. Em Santo Amaro, no Largo Treze, peguei outra condução para Guarapiranga. E depois outra, em direção à represa, onde estavam eu e mais um senhor acompanhado de dois meninos, pareciam ser seus netos. 

Perguntei a ele sobre a represa e a resposta foi de que eles estavam exatamente indo pra lá. Para a praia. Ele até levava varas de pesca. Quando descemos do ônibus, do outro lado da avenida  o senhor me disse: “aqui é o autódromo de Interlagos”, que era  bem rudimentar na época.

Descendo pela rua de frente, que mais parecia uma trilha, havia muitas casas noturnas. Uma delas chamava-se Chez Nous, que o senhor traduziu do francês: Para nós. Não era pra mim, não! Aliás, aquele  senhor  explicava cada detalhe; era como se fosse um guia de turismo.

Juntos chegamos. Havia crianças brincando, pessoas pescando, alguns barcos ao fundo. Caminhei pela beira para conhecer a orla. E ainda fui convidado para o lanche em família. Nos divertimos bastante. Conheci as Praias Azul e do Sol, apesar de não ter nenhuma placa indicando seus nomes. Mas eram praias. Fluviais. Mas praias paulistanas.

Quanto ao senhor e aos meninos nos despedimos, nem ao menos o nome deles fiquei sabendo, mas me marcaram muito até hoje.

Julio Araujo é personagem do Conte Sua História de São Paulo. A sonorização é do Cláudio Antonio. Você ainda pode participar das comemorações dos 468 anos da nossa cidade. Envie seu texto para contesuahistoria@cbn.com.br. Para ouvir outros capítulos, visite o meu blog miltonjung.com.br ou o podcast do Conte Sua História de São Paulo.

O primeiro voo de Varig para a praia

 

Por Milton Ferretti Jung

 

Se não fossem as fotografias do álbum que minha sobrinha Claudia Tajes recuperou depois de permanecer por muito tempo em uma cômoda de minha irmã,mãe dela, talvez eu não acreditasse que o meu primeiro contato com o mar situado abaixo do Rio Mampituba – frio para o meu gosto – houvesse ocorrido no segundo semestre do ano de 1930. As provas estão nas fotos tiradas pela Agfa do meu pai,nas quais apareço passeando em uma carrocinha puxada por um bode ou uma cabra e levando na cabeça um chapelão que mais parecia um desses que os mexicanos usam no verão deles.

 

A minha estreia no mar,porém,foi a parte mais interessante da história do meu primeiro contato com a água salgada. Não sei,aliás,se cheguei a molhar os “pezinhos”. Com o tempo fui descobrindo, aos poucos, que tinha um pai super zeloso em todos os sentidos. Foi por meio do álbum,preenchido em sua maior parte por minhas fotos – privilégios de primogênito –, que soube que o seu Aldo não temia viajar de avião. Se não me engano,ele foi um dos primeiros a pôr os três membros da família Jung – ele,minha mãe e esse que lhes escreve – em um aeronave que nos levou,imaginem,a Torres,no litoral gaúcho,a uma hora e meia de avião,partindo de Porto Alegre.

 

Ricardo Chaves,no Almanaque Gaúcho,que escreve diariamente em Zero Hora,pôs o seguinte título no seu texto do dia 5 de janeiro:” Intrépidos veranistas”. Creio que se referia aos gaúchos,principalmente os residentes em Porto Alegre. Quando fiquei sabendo que o meu primeiro contato com o mar se deu após uma viagem de avião,me dei conta de que quem viajava até Torres de várias maneiras,menos a aérea, – trem,vapor e estradas que não faziam jus ao nome pois levavam os veranistas sobre piso de areia,altamente perigoso, porquanto prontos para engolir automóveis dirigidos por motoristas desprevenidos – esses,sim,era de se tirar o chapéu para o peito deles.

 

Mas vá lá,viajar de avião,mesmo os “modernos hidro-aviões”,levando-se em conta a época, era algo preocupante para os menos corajosos,confiar na perícia dos pilotos.É verdade,como lembra Ricardo Chaves,que a velha e boa Varig ajudou muita gente – as que podiam pagar pela viagem aérea – a encurtar aquelas intermináveis viagens ao litoral. Hoje em dia,porém,o que a Varig tentou facilitar,ficou complicado com os engarrafamentos do trânsito,especialmente os ocorridos em fins de semana ou quando há feriados prolongados. Não bastasse isso,nunca estamos livres de motoristas desajustados,que bebem antes de dirigir e ultrapassam a velocidade permitida,pondo em perigo a vida dos bons pilotos.

 


Milton Ferretti Jung é jornalista, radialista e meu pai. Escreve às quintas-feiras, no Blog do Mílton Jung (o filho dele)

As consequências do calor de Porto Alegre

 

Por Milton Ferretti Jung

 

Porto Alegre,neste verão,está rivalizando com as cidades mais quentes do mundo. Equipara-se,no mínimo,com algumas da Austrália,Namíbia e outras caniculares. Não lembro de ser obrigado a enfrentar aqui os dias – e as noites,como não – sequer parecidas com a deste mês de janeiro. E olhem que moro em POA faz 78 anos,isto é,a vida inteira,tirante apenas a primeira semana depois do meu nascimento, que ocorreu em Caxias do Sul. Quem tem condições, não deixa de ligar o ar-condicionado,mesmo que o aparelho nem sempre vença a exagerada temperatura que precisa combater.

 

Na última terça-feira, não consegui digitar o texto postado pelo Mílton neste blog.A CEEE,sei lá se por ter acontecido excesso de condicionadores e outros que tais, ligados ao mesmo tempo, na capital gaúcha,deixou a rua na qual moro com meia fase de energia por longo período. E o computador,sem contar com o wi-fi,não serve para nada. O meu filho,então,que me desculpe pelo atraso na entrega do texto que marca o meu retorno das férias, que gozei enquanto ele viajava para os Estados Unidos. A propósito,não deixem de ler as histórias contadas pelo “âncora”do blog. Apreciei-as todinhas. E não se trata de corujice.

 

Está ficando difícil de se entender o que provoca os exageros climático que estão acontecendo no mundo. Normalmente,Porto Alegre é uma cidade quente no verão,mas,repito,acho que nunca com temperaturas tão altas como agora. Enquanto isso,nos Estados Unidos,o frio e tempestades de neve açoitam várias regiões. Três mil voos,repetindo o que já havia se verificado, não puderam decolar na quarta-feira. Aliás,o avião que levaria meu filho e sua família a Vermont,uma estação de esqui,esteve entre os que não decolaram,há duas semanas, por força do péssimo tempo. Compreendo a frustração deles. É bom lembrar,porém,que mais tem Deus para dar do que o diabo para tirar.

 

Em fevereiro,entro em férias na Guaíba e vou com Maria Helena para Tramandaí, litoral gaúcho. Espero que o vento, que costuma soprar no próximo mês,não nos maltrate à beira do mar. Outro problema, que afeta os veranistas das nossas praias, é música,geralmente em altíssimo volume,tanto a rodada por automóveis estacionados nas ruas próximas do oceano quanto a que parte de vizinhos importunos. E não adianta apelar para a Brigada Militar. Ao mesmo tempo,as operadoras de telefonia,entra veraneio,sai veraneio,e a conexão 3G,no litoral,fica cada vez pior.Também não dá para entender por que a ANATEL não as obriga a investir nos principais balneários gaúchos.

 


Milton Ferretti Jung é jornalista, radialista e meu pai. Às quintas-feiras, escreve no Blog do Mílton Jung (o filho dele)

Por um veraneio tranquilo à beira mar

 

Por Milton Ferretti Jung

Não sei como o litoral paulista funciona para quem nele aproveita os meses de verão. Aqui – e os leitores deste blog sabem que escrevo do Rio Grande do Sul – creio que o veranista, cujo único interesse é descansar ou se divertir à sua maneira, especialmente os que possuem ou alugam casas nas várias praias que compõem a orla marítima, nem sempre atingem por inteiro o objetivo que os leva a elas.

Todos, é claro, sabem que precisam contar com as graças de São Pedro, isto é, que a chuva não prejudique boa parte de sua temporada, o que não chega a ser incomum. Existe, além dela, um vento que vem do nordeste, que costuma durar três dias e castiga quem se dispõe a o enfrentar, jogando areia no rosto das pessoas e fazendo cair a temperatura. Banho, nesses dias, nem pensar. Estou, até agora, tratando de problemas que somente com sorte podem ser minimizados.

Há outros, entretanto, que um pouco de interesse das prefeituras em melhorar a pavimentação das ruas e dos calçadões à beira mar seria suficiente para diminuir. Não é o que se vê. No balneário em que tenho casa a avenida que margeia o mar se liga à praia por passarelas de madeira. Quando eram novas, que beleza. Algumas, com o tempo, ficaram esburacadas e exigem cuidados para que sejam transpostas.

Tudo isso se poderia relevar. Difícil mesmo é suportar as invenções de rádios e tevês, que realizam os mais diversos tipos de promoções, que perturbam o sossego, o principal objetivo de quem vai à praia passar férias no litoral gaúcho. Dou um exemplo: uma emissora de Porto Alegre, no último domingo deste mês, estabeleceu-se sobre a areia com armas e bagagens (caixas de som podem ser consideradas armas em certos casos) e cruzou a tarde obrigando quem não estava interessado em ouvir um locutor berrando nos seus ouvidos nem na programação musical, brega, diga-se de passagem, transmitida a todo volume. Na minha casa, que fica a três quadras do mar, quase não consegui ouvir o narrador da partida entre Grêmio e Cruzeiro, tamanha a barulheira.

Milton Ferretti Jung é jornalista, radialista e meu pai. Às quintas, escreve no Blog do Mílton Jung (o filho dele)

Repórter da CBN faz ‘xepa’ na praia

Sujeira em Santos

A caminhada do repórter André Sanches, do esporte da CBN, pelo litoral de Santos o deixou indignado a ponto de deixar as férias de lado e registrar o desrespeito espalhado pela areia da praia. André enviou as imagens aqui para o blog  e emplacou texto na coluna Vc no G1, Portal da Globo. Reproduzo a seguir, a descrição feita por ele e o colega Fernando Martins:

O ator Rob Lowe foi visto tomando sol na orla de Santos. Mas ele não estava bem acompanhado na manhã desta segunda-feira. Lowe estampava a caixa da fita VHS do filme Tentação, um dos muitos detritos expostos diante do mar.

Nos 1.600 metros das praias da Aparecida e do Embaré havia de tudo, desde fraldas sujas até uma bandeja de geladeira. Mas não só os banhistas destes dois bairros tiveram este prazer. A natureza foi atacada do Emissário Submarino no Canal 7.

Este foi o retrato de uma manhã de verão. Época onde a Cidade se apresenta para milhares de turistas. Mas a foto não saiu como todos idealizam. Explicações para esta paisagem podem existir; para ela ter permanecido até às 14h45, não.

Profissionais de humanas não são bons de matemática, mas sabem contar até pelo menos a primeira milhar. São cálculos aproximados do que foi encontrado nos 1.600m caminhados.

Itens encontrados na praia:

Pedaços de madeira: 790.
Garrafas e embalagens de plástico: 370.
Calçados: 101.
Embalagens de leite: 31.
Brinquedos: 16
Lâmpadas e outros materiais de vidro: 14
Rodos e vassouras: 12
Latas de alumínio: 4.
Material escolar: 3.
Cabeceiras de cama: 2.
Fraldas sujas: 2.
Bandeja de geladeira: 1.
Fita VHS: 1

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