O prazer na velhice: um direito negado?

Diego Felix Miguel

Foto de cottonbro studio

“(…) então toma, quero ver amor se aguenta pentada com a quarentona.”*

Há dias em que silencio. Talvez para conter um desconforto que me acompanha desde cedo – o mesmo que muitas pessoas sentem ao serem caladas por estereótipos, preconceitos e discriminação, apenas por existirem.

Lembro de quando, aos cinco anos, beijei um coleguinha na escola. O olhar reprovador da professora me fez sentir diferente, deslocado, como se houvesse algo errado comigo. Não havia maldade no gesto, mas ali aprendi que meu afeto era um problema. Esse sentimento se intensificou na adolescência, quando qualquer deslize poderia resultar em violência, dentro e fora de casa. Para muitas pessoas LGBTQIA+, o lar, que deveria ser um espaço seguro, é também um lugar de medo.

A sexualidade sempre ocupou esse espaço de desconforto, especialmente para quem desafia normas sociais. Com o tempo, percebi que esse silenciamento retorna de forma ainda mais perversa na velhice, por meio do idadismo. Como se pessoas idosas perdessem o direito ao desejo e ao prazer, e a sociedade insistisse em vê-las como pessoas assexuais.

A relação entre idade e sexualidade ganha nuances ainda mais instigantes quando analisada sob a perspectiva de gênero. Enquanto os homens idosos, apesar dos tabus, ainda desfrutam de certos privilégios, as mulheres idosas seguem invisibilizadas e silenciadas, sendo socialmente pressionadas a reprimir sua vivência afetiva e sexual. Um exemplo marcante desse cenário ocorreu em 2006, quando uma mulher idosa revelou, no encerramento de um episódio da novela Páginas da Vida, que vivenciou seu primeiro orgasmo aos 68 anos, sozinha, ouvindo músicas de Roberto Carlos. Foi só ao compartilhar sua descoberta com amigas que percebeu: pela primeira vez, havia experimentado o prazer feminino – um testemunho poderoso de que a sexualidade pode ser vivenciada em qualquer fase da vida.

Estudar a sexualidade na velhice, para além da biologia, é compreender como o desejo de muitas pessoas é marginalizado. Passei a refletir mais sobre isso ouvindo funk e rap — especialmente artistas mulheres cisgêneras e pessoas transexuais e travestis. Quando deixei de lado os estereótipos e uma visão conservadora sobre o tema, enxerguei performances como as de Valesca Popozuda, Anitta, Tati Quebra Barraco, Linn da Quebrada e Jup do Bairro como atos de liberdade.

Muitas dessas letras subvertem papéis de poder, colocando o desejo feminino e dissidente no centro. Expandem o prazer para além da genitália, rompem com o falocentrismo e desafiam a estrutura machista das relações.

A sociedade molda a sexualidade por meio do poder, restringindo papéis e controlando corpos e prazeres.

Não por acaso, dezenas de mulheres idosas que conheci nesses 20 anos atuando na Gerontologia, me disseram que só descobriram o prazer sexual após a viuvez – e que, na velhice, são julgadas por vivê-lo livremente, seja com um parceiro ou parceira sexual, ou sozinhas, por meio da masturbação.

Talvez isso não faça sentido para quem lê agora. Talvez gere estranhamento. E tudo bem. O ponto é provocar a pergunta: serei uma pessoa idosa livre para amar? E se, além de ser julgado por desejar, eu for punido por isso? Já vimos isso acontecer.

São inúmeros relatos de familiares e profissionais que julgam os desejos e as práticas sexuais das pessoas idosas como doença, promiscuidade – este último, mais um termo baseado em uma visão higienista e moral da sexualidade.

No fim da década de 2000, fomos alarmados pelo aumento considerável de infecções sexualmente transmissíveis entre pessoas idosas. Em vez de promover acolhimento e informação, muitos discursos as culpabilizaram, como se a responsabilidade fosse apenas delas.

E nós? Qual é o nosso papel nesse contexto — como sociedade, familiares e profissionais? A questão não se resume ao uso de preservativo, mas a forma como lidamos com a sexualidade da outra pessoa – especialmente das mais velhas. Estamos dispostos a ouvir, acolher e criar espaços seguros para que possam expressar suas dúvidas, desejos e vontades?

Só assim, a vergonha e o tabu darão lugar à liberdade – a liberdade de desejar e sentir prazer, em qualquer idade. Porque desejo não tem prazo de validade, e o prazer não pode ser um privilégio da juventude.

Meus sinceros agradecimentos a essas mulheres do funk e do rap, que, por meio do confronto, da resistência e da luta, nos oferecem reflexões preciosas sobre autonomia e independência – aspectos essenciais para um envelhecimento ativo e saudável.

*Trecho da música “Pentada++” de Lia Clark (part. Tati Quebra Barraco e Valesca Popozuda), letra de Renato Messas

Diego Felix Miguel é especialista em Gerontologia pela Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia e presidente do Depto. de Gerontologia da SBGG-SP, mestre em Filosofia e doutorando em Saúde Pública pela USP. Escreve este artigo a convite do Blog do Mílton Jung.

Terapia de férias!

O sol amanhece no mar. Foto de Mílton Jung (sim, eu mesmo fiz pra relaxar)

Estou de férias. Sim, sou um privilegiado neste país em que é enorme a quantidade de pessoas que antes de pensar no direito às férias batalham pelo direito ao trabalho. Não, não sou um ‘folgado’ como querem fazer acreditar alguns amigos de redação – em especial aqueles três que batem papo comigo no ‘Hora de Expediente’. 

Deixo claro que ao escrever que estou de férias já na primeira frase desse texto, não tenho a intenção de atacar a imagem e reputação de ninguém. Nem dos que saem de férias nem dos que trabalham. Menos ainda daqueles que consideram uma acusação maldosa dizer que a pessoa está de férias, só porque ficou alguns dias afastado do trabalho, dançando funk na lancha, fazendo peripécias em jet ski, cavalo de pau em carro esportivo, engolindo camarão e passeando em meio ao aglomerado na praia. Nós sabemos o trabalho que isso dá!

Dito isso, volto ao tema que me propus escrever, na expectatica de não ser alvo de ataques dos caros e cada vez mais raros leitores deste blog.

Por mais que a ideia das férias seja descansar, desligar, desconectar e mais uma série de outros verbos iniciados pelo prefixo que significa tanto negação quanto reversão, tem hábitos que somos incapazes de abandonar. 

((Somos é muita gente, diria minha mãe. Que, aliás, tinha um conceito bem interessante para férias: qualquer coisa que não me faça trabalhar mais fora do que quando estou em casa)).

Pra colocar a frase na devida proporção: tem hábitos que EU não sou capaz de abandonar, mesmo nas férias. Se você também for assim, conta para mim, vista a camisa e entre no meu time. Levantar cedo da cama é um desses hábitos. Costumo acordar pouco depois das quatro da manhã para trabalhar. Nas férias, o relógio que move minha mente, mesmo que atrase um pouco mais, desperta por volta das cinco.  Nem sempre saio da cama neste horário. Insisto. Estico. Viro de um lado. Vou para o outro. Desisto. 

A partir das cinco, a mente começa a trabalhar independentemente do meu desejo. É como se eu não tivesse controle sobre ela. Me ajuda, Simone! 

Nos últimos dias, mesmo que aparentemente esteja dormindo, a mente teima em resolver problemas que não existem: o Juca vai entrar na hora certa? Qual o assunto do Cortella? E se não fechar a conexão com a GloboNews? É como se todas aquelas questões que se justificam no cotidiano da redação continuassem a perturbar quando eu deveria estar relaxado. Socorro, dr. Alexandre!

Leio especialistas que garantem que os efeitos das férias são evidentes do ponto de vista biológico. Dizem que, além do equilíbrio da mente (?), encontra-se o ponto ideal para os níveis de cortisol, hormônio que ajuda a controlar o estresse; reduz-se inflamações; e se melhora o sistema imunitário. Estou precisando mesmo, diante da quantidade de vírus e irresponsáveis que nos cercam.

Como ainda não falei com a minha amiga e colega de blog, a psicóloga Simone Domingues, nem escrevi para o Dr Alexandre de Azevedo, especialista em sono, que conheci em programa com Márcio Atalla e assisti no canal Dez Por Cento Mais, não tenho respostas baseadas na ciência para essa encrenca que me meti. 

Minha solução caseira tem sido bem simples: a mente começou a trabalhar, levanto da cama, a hora que for, e inicio um processo de descompressão. Observo o horizonte – um tanto privilegiado diante do local que escolhi para passar minha férias -, presto atenção no barulho do mar, na passarinhada que faz a festa no meu entorno, no sol que começa a ofuscar os olhos e, principalmente, me aprofundo no silêncio que só a natureza se atreve a quebrar.

Essa tentativa de alcançar o bem-estar mental às vezes é ameaçada pelo desejo de escrever (este texto, por exemplo), de saber o que está acontecendo no mundo ou de planejar a imprevisibilidade do ano. Em lugar da busca de uma ocupação, insisto na preocupação. É uma batalha diária. Leio que 70% das pessoas precisam de uma semana para vencê-la. Devo fazer parte da legião dos 30% que estendem a luta para duas semanas ou mais. Bem mais no meu caso. E ainda reclamam que tiro muitas férias. Minha mente precisa, gente!

Nesse embate diário, você já deve ter percebido que hoje fui derrotado. O texto que você lê é a prova do crime. Deveria estar com o pé na areia, deixando o vento e o mormaço tomarem meu corpo, mas estou aqui diante do computador, assuntando com você. Assim que der o ponto final — e ele estará logo a seguir —  espero ter descomprimido a mente, dando espaço para o prazer e o bem-estar. Se for esse o resultado, obrigado por você estar aqui comigo. Nossa conversa, se não foi rica em informação e bela em palavreado, que ao menos tenha sido terapêutica!

De profetas do passado

 

Por Maria Lucia Solla

 

Solla

 

Sou a favor da extinção dos profetas do passado. Nada violento, de extinção radical do tipo prisão perpétua ou cadeira-elétrica. Sou a favor da extinção deles, da minha vida; e se eu fosse você faria o mesmo.

 

O profeta do passado tem sempre razão. Não larga o osso nem por decreto. Ao menos tem sido assim desde que eu me reconheço como ser pensante. Aplausos para ele, que já está careca de velho, mas não larga o bastão. Encabeça a minha lista dos alijados.

 

Fala sério, você sabe do que eu estou falando, e aposto que tem ao menos dois na sua agenda de amigos.

 

Você cai na própria armadilha quando está triste, desanimado, derrotado e precisa desabafar. Parece que eles têm radar; estão sempre por perto e interessados pela novidade nefasta. Você se abre e está perdido, meu amigo! Se estava triste, depressivo, inconsolável por um evento qualquer, o profeta saboreia o que você disser, com senho franzido, olhar de desaprovação e um virar para a esquerda e direita da cabeça.

 

Você para de falar, enxuga as lágrimas, e ele cai em cima:

 

– Eu sabia que isso ia acontecer!

 

Isso quando não diz:

 

Eu tinha certeza de que isso ia acontecer!

 

E o hiperbólico:

 

– Eu tinha absoluta certeza de que isso ia acontecer!

 

Cai a cortina, porque você tem vontade de cortar os pulsos, de se atirar da Torre Eiffel, ou mergulhar num dos lixões da cidade. Ele acaba de estraçalhar a pessoa onde você mora, desde que aterrizou no planeta Terra, e de onde vem aprendendo tudo o que pode, na escalada da vida.

 

Na minha lista de extinção também estão os estraga-prazeres. Para qualquer ideia tua, vêm logo com:

 

– Imagina! Sem chance! Perda de tempo! A vida tá difícil. A crise tá pegando. O mercado tá recessivo, a bandidagem tá solta…

 

Eu mandaria os dois times, o dos profetas do passado e o dos estraga-prazeres, – não precisa tirar as crianças da sala porque você sabe que eu sou educada – para uma linda ilha deserta do Pacífico.

 

Teríamos que, eventualmente, mudar o nome do Oceano, mas isso seria bem mais fácil do que ter que lidar com eles.

 

Imagina o cruzamento das duas raças!?

 

Maria Lucia Solla é professora de idiomas, terapeuta, e realiza oficinas de Desenvolvimento do Pensamento Criativo e de Arte e Criação. Escreve no Blog do Mílton Jung

Dá prazer de ver !

 

Por Abigail Costa

 

A gente trabalha porque precisa, mas se tiver prazer ajuda muito.

 

Às vezes, o sujeito nem chegou ao trabalho. E já está de cara fechada. No trânsito mesmo. Dá uma olhada para o motorista ao lado e você, certamente, verá alguém assim. Isso se este alguém não estiver atrás do seu carro dando luz alta para pedir passagem.

 

Essa é só uma introdução para falar que tem gente que encara o trabalho não como obrigação. O dinheiro, claro, é bem-vindo, mas é possível conjugar o verbo labutar numa boa. É sério! Conheço gente assim.

 

Val é personal trainer, acorda por volta das cinco da manhã, às seis está na academia ou no condomínio para dar aula. Além de deixar o aluno fisicamente em forma, Val funciona como terapeuta, daqueles bons! Dois anos de convivência e nunca vi esse cara de mal com a vida. Ele simplesmente gosta do que faz!

 

É muito bom quando encontro alguém que encara o trabalho como merecimento, um luxo.

 

Por vezes a TV me faz companhia, e nesses anos como jornalista aprendi a diferenciar o profissional que apenas está interpretando daquele que se coloca diante da câmera por prazer. Foi o que me chamou a atenção no programa “Encontro com Fátima Bernardes”. Na maioria das vezes estou de costas para a imagem, ocupada com outras coisas. Mas ouço. E o que escuto tem leveza, prazer na palavras.

 

Imagine terminar seu trabalho dando risadas !? Sabendo que amanhã tem mais !? E que aquilo que é bom hoje, pode ficar melhor ainda.

 

Abigail Costa é jornalista, faz MBA de gestão de luxo e escreve no Blog do Mílton Jung

Do prazer de ser

 

Por Maria Lucia Solla

Ouça Do Prazer de Ser na voz e sonorizado pela autora

Olá,

Tem dias que eu gostaria que nem tivessem raiado, porque sou mimada e esperneio, cada vez menos, é verdade, quando alguma coisa não sai como quero que saia. Tem outros que simplesmente não é justo que acabem! E quando acabam, procuro segurar o gostinho deles o quanto posso, fico posicionando a agulha do braço da memória nos momentos mais gostosos do disco do dia, até furar.

E assim vai a vida, aceito um tanto e esperneio, brigando com outro tanto.

Não tive irmãos com quem dividir a atenção dos meus pais. Até os catorze fui filha única, aos dezenove fiquei noiva, e aos vinte casei. Não tive com quem dividir o quarto, o bife, a sobremesa. Era meu, o melhor, e era meu, o pior. Não fui treinada para competir. Faço parte da minoria. A maioria teve irmãos para treinar a vida. Sou autodidata, aprendo de ouvido, atenta, olhando à volta, entendendo a importância do outro. Aproveitei o quanto pude a privacidade com que fui premiada. Hoje, ainda me guardo, me escondo, me protejo, mas não sou mais única. Longe disso. Moro sob o mesmo teto, com dezenas de pessoas que nem conheço, e sou cercada por outras tantas, que infelizmente me põem alerta.

Para mim, um dia delicioso é feito de coisas simples. De coisas que eu gosto e que são simples porque estão à mão, não tem que sair para comprar, não tem que mandar buscar e esperar que cheguem, não dependem de viagem nacional nem internacional, mas dependem do outro, mesmo que esse outro não seja visível, não tenha um nome, um rosto. E reforço a consciência de que mesmo passando um dia inteiro sozinha, dependo, sim, de muita gente. Isso é fácil perceber quando a internet cai, quando o pão acaba na hora do café, quando a luz apaga, quando esfria a água.

E vejo passar na tela da minha vida, dias de festa e de solidão que, como a água da chuva, que é a mesma da emoção, escorrem pelo ralo do tempo, ou empoçam nas crateras do desalento e da desilusão.

Tenho alma de poeta que vive aos saltos, se esvai em lágrimas de alegria, em soluços de desilusão, que um dia se enche de fome e no outro rejeita a água e o pão. Sou feita das peças que a vida engendrou, mas uma coisa digo de boca bem cheia: nunca fugi dela, na dor nem no amor. Me ponho sempre pronta para a próxima onda depois do caldo que me fez ralar os joelhos na areia molhada. Quero tudo e me contento com nada. Às vezes me animo, parto para a luta, e volto para casa, derrotada. Noutras, distraída, o brilho de um olhar faz de mim a sua presa, me rendo ao calor de um sorriso, de uma risada solta que denuncia a entrega, e me entrego, eu, a mais um sonho, o mesmo sonho de cada dia.

Maria Lucia Solla é terapeuta, professora de língua estrangeira e realiza curso de comunicação e expressão. Aos domingos, escreve no Blog do Mílton Jung


De vida desimportante

Por Maria Lucia Solla


Assista ao vídeo com a leitura deste texto pela própria autora

Tem gente que olha para a própria vida, compara com a de quem é notícia, e a vê pequena. Descolorida
Mas esqueça a vida pequena e veja uma grande pedra, em cena.

Vai carregada por homens que se curvam ao seu peso, e chama atenção; primeiro pelo tamanho, depois porque não é todo dia que a gente vê uma pedra dessas andando de lá para cá, na via certa ou na contramão.

Teria sido condenada a ser, para sempre, o pilar de seja lá o que for, ou teria sido condenada a, por algum tempo, deixar de ser pilar para ser arrastada para outro lugar?

A gente sempre tende a achar que tudo na vida é condenação. A tal da herança judaico-cristã do auto-flagelo e da comiseração.
Da culpa, da culpa, e da culpa.

Tudo isso é retrato do óbvio, eu sei, e é por isso mesmo que merece especial atenção, pensei.
O óbvio confunde; o óbvio distrai. Leva tua atenção embora, te conquista e te trai.
Reina soberano, feito senador sacano que se locupleta e lambuza, e do óbvio se serve e abusa

A desimportância atribuída a própria vida, acaba virando fato banal;
esporte nacional.

Como vai?
A gente vai levando… diz a canção.
Como Deus quer!
Assim, assim.
Eu mereço!

Ainda tem o esporte de achar que tudo na vida, se não é crime é castigo.
Quem foi que teve a ideia de acorrentar o prazer na masmorra de algum inferno gelado?
Sem sua intervenção, você, eu, todo mundo está condenado.
A sorrateira da culpa campeia solta, começa na mente e toma de assalto o coração.
E então, morre a esperança de redenção.

O fato é que temos, todos, a mesma importância, na tessitura da Vida. Entramos na sociedade com a única coisa que temos para oferecer: a vida. Também por isso é importante lembrar que

A DOR DE VIVER É IGUAL EM TODOS NÓS
… e a alegria também

Quantas vezes a gente perde o foco e sofre a dor do outro, ou regozija pelo sucesso alheio que parece já ter vindo pronto.
A gente segue a cartilha que encontrou esquecida
no banco do carona, depois da sua descida.

E aprende a lição alheia
que leva a tecer, do outro, a teia.
Luta noite e dia
e acaba de alma vazia.
Derrama lágrima estrangeira
e suspira suspiros quânticos
sem sentido,
de coração partido
Sem nome, só um número de RG
Com fome, cena triste de se ver

Tudo isso devido ao erro tamanho,
de ter largado, lá atrás, à beira do caminho,
o fardo da própria vida que considerou tacanho
em busca de quê? Do sonho do vizinho.

E você, sabe por onde e a quantas anda a tua vida?
Pense nisso, ou não, e até a semana que vem.

Maria Lucia Solla é terapeuta e professora de língua estrangeira. Aos domingos, reescreve o livro “De bem com a vida mesmo que doa” em parceira com seus leitores no Blog do Mílton Jung – livro que respira em cada anotação deixada por você.

E se hoje fosse seu último dia por aqui ?

Abigail Costa

A pergunta não espera nenhuma resposta melancólica: – Ah, meus filhos ! Ah, meu marido ! Ah, minha mulher ! Minha família !

Espera, sim, aquelas outras: O que eu fiz, o que eu não fiz, o que deixo por aqui. Como meus amigos se lembrarão de mim ?

Acredito que a lembrança será o que está sendo feito por você agora. Relações construídas e conservadas ao longo dos anos.
Momentos de entregas e recompensas.

O que foi feito sairá dos pequenos prazeres.
Do caminhar de mãos dadas com o eterno namorado. Do privilégio de fazer a lição de casa com o filho.

Uma bela viagem também vale, não pela primeira classe, não pelo cardápio francês. Mimos como esses fazem bem, agradam a alma, massageiam  o ego, relaxam o corpo. Mas por hora.

As imagens registradas pela máquina fotográfica marcam momentos.
Na nossa mente o que fica gravado e muito mais do que imagem, é sentimento.

Nossa, se hoje fosse o meu último dia!
Nem comprei isso, não visitei aquilo.
Mas se nesses tantos anos, você teve a felicidade de ter alguém, e mais ainda algumas pessoas queridas a sua volta, você teve tudo.

É assim: torcendo para que esse dia demoooooooore a chegar, mas vivendo como se ele fosse acontecer amanhã. Só para não perder a chance de ser feliz. Por mais um dia. Só mais um.

Abigail Costa é jornalista e, às quintas-feiras, está aqui no Blog do Milton Jung aproveitando, prazeirozamente, cada palavra escrita.