Por Julio Tannus
Ouvinte da rádio CBN
Foi aqui que cresci, me eduquei, me formei, constitui família e hoje desfruto da cidade com todos os seus lugares, praças, shoppings, restaurantes, cinemas, teatros, livrarias, exposições e sua vida incessante.
Assim que cheguei de Paraty, no fim dos anos 1940, morei na São Lázaro, travessa da São Caetano, hoje a “Rua das Noivas”. Era movimentadíssima com todo tipo de comércio, além, é claro, do Cine São Caetano. Minha primeira escola, aos cinco anos, foi o Recanto Infantil Jardim da Luz, do Departamento de Cultura, no Parque da Luz.

Julio passeia ao lado do irmão, Carlos, no Viaduto do Chá
Após alguns dias na cidade, fui com minha mãe e meu irmão caminhar na São Caetano em direção ao Parque da Luz. Ao chegar na avenida Tiradentes, em frente ao antigo Liceu de Artes e Ofícios, hoje Pinacoteca do Estado, me deparei com o monumento a Ramos de Azevedo. Ramos de Azevedo foi o centro em torno do qual gravitou o renascimento arquitetônico da cidade de São Paulo. Aquele monumento hoje está na Cidade Universitária. Quando o vi, exclamei do alto de meus cinco anos de vida: “Olha mamãe, uma mulher de peito de fora!”. Foi uma gargalhada geral. “Fica quieto menino!” foi a reação de mamãe diante da imagem daquela mulher de peito nu na estátua.
Fui flamenguista por herança de pai. E de tanto ouvir “uma vez Flamengo, Flamengo até morrer” me sentia desajustado diante de tantos palmeirenses, são-paulinos, santistas … até que na celebração do Quarto Centenário da cidade, o Corinthians se tornou campeão e meu time paulista do coração. Por curiosidade, essa final contra o Palmeira só foi disputada em 6 de fevereiro de 1955.
O Quarto Centenário é de 1954. E teve imensa participação de toda a população, que invadiu as ruas de nossa cidade. Ocorreram festas maravilhosas. Recordo-me nitidamente da Chuva de Prata, que Randal Juliano, da Rádio Record, descreveu com precisão:
“O sentimento do paulista faz com que a cidade se locomova até o Viaduto do Chá. E aqui a multidão ergue os olhos para o céu, de onde caem lâminas metalizadas… Lâminas coloridas metalizadas sobre o Viaduto do Chá. Iluminadas por holofotes do exército, com o esplendor e luminosidade bonita. Traduzindo a alegria do povo paulista neste nove de julho, que comemorava uma derrota… talvez tenha sido o único povo a comemorar uma derrota.”
Palavras que me levam a recordar o hino do Quarto Centenário:
São Paulo, terra amada
Cidade imensa
De grandezas mil!
És tu, terra dourada,
Progresso e glória
Do meu Brasil!
Ó terra bandeirante
De quem se orgulha nossa nação,
Deste Brasil gigante
Tu és a alma e o coração!
Salve o grito do Ipiranga
Que a história consagrou
Foi em ti, ó meu São Paulo,
Que o Brasil se libertou!
O teu quarto centenário
Festejamos com amor!
Teu trabalho fecundo
Mostra ao mundo inteiro
O teu valor!
Ó linda terra de Anchieta,
Do bandeirante destemido.
Um mundo de arte e de grandeza
Em ti tem sido construído!
Tens tu as noites adornadas
Pela garoa em denso véu,
Sobre seus edifícios
Que mais parece chegarem aos céus!
Julio Tannus é personagem do Conte Sua História de São Paulo. A sonorização é do Cláudio Antonio. Vamos contar outros capítulos desses 464 anos: escreva a sua história para milton@cbn.com.br.

