Por Maria Lucia Solla
caramba
cada dia
uma vida inteira
sempre estreia
nunca meio
ou fim de temporada
eu
sempre estrela
que de escada
basta a que tenho em casa
quero sim
quero tudo quero mais
quero o melhor da vida
pra ter e dar o melhor de mim
até o fim
pra desenterrar
dos meus desertos
o bem-querer sem medo
e o querer bem
crescido no desapego
dança
música
arte
quero tudo
na minha medida
desmedida
louca
inconstante
mas minha
desassossego
mas um belo dia
o quero-tudo abriu os olhos
e se assustou com o que viu no espelho
tinha virado o quero-nada
quero-tudo virou quero-nada!
fazendo bico
chorando
se envergonhando
se desesperando
e além disso
eu
que andava de mãos dadas com a esperança
unha e carne
corda e caçamba
não lhe ofereço mais nem a maiúscula
me afastei dela
dei um tempo
quarentena
e ela que fique na dela
com sua pompa e circunstância
que eu quero mesmo
é cair na real
no tempo
no amor
na vida
na escrita
no sonho
sim porque até ele
vai se encaixar na real
Et voilà!
Maria Lucia Solla é professora de idiomas, terapeuta, e realiza oficinas de Desenvolvimento do Pensamento Criativo e de Arte e Criação. Escreve no Blog do Mílton Jung