Conte Sua História no Rádio de São Paulo: “às radialistas e aos radialistas da CBN”

O Conte Sua História de São Paulo, em homenagem aos 100 do rádio, segue neste mês de outubro, porque os ouvintes foram muito carinhosos em compartilhar com a gente a experiência que viveram ao nosso lado, ao longo do tempo. E aproveito o texto deste sábado, também, para agradecer a todos os ouvintes que estão com a CBN nesses nossos 31 anos de vida. 

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Giuliana Pereira Agnelli Estrella

Minha história com o rádio está sempre conectada à história de minha mãe, Maria Amélia. Ela quem introduziu o hábito de escutar rádio desde muito cedo em casa. Nascida nos anos 1940, é uma ouvinte da Era do Rádio, que, tal qual as lembranças que Woody Allen traz no filme homônimo, de 1987, tinha o rádio como maior meio de comunicação e informação, além, claro, do jornal.

E esse hábito foi também uma herança de família: meu avô adorava escutar as modas de viola, apreciava muito música – lembro até hoje como ele ficou encantado ao ouvir Bruce Springsteen comigo, já nos anos 80, tocando sua guitarra com a voz rasgante. Meu bisavô, por sua vez, tinha daqueles rádios embutidos, em suntuoso armário de madeira, uma joia que infelizmente não foi mantida na família.

Já na infância, o som do rádio vinha pra mim como uma referência de que estávamos atrasadas para a escola… com aquele ‘repita’ reverberando no carro cedinho de manhã.

Todas as notícias mais urgentes, sempre chegavam ao nosso conhecimento via rádio; e uma lembrança de infância que tenho muito viva até hoje, ainda mais depois da cinebiografia recente vista nas telonas, é da minha mãe chorando, na cozinha, abraçada ao rádio de cor púrpura com uma alça preta, ao saber da notícia da morte de Elvis Presley. Eu tinha 4 anos e, de tanto ouvir a notícia sobre sua morte, durante muito tempo uma simples ida de minha mãe ao banheiro (onde Elvis foi encontrado morto) me causavas arrepios, caso ela demorasse…

Ainda falando sobre a magia que o rádio exerce na vida das pessoas, há a relação com a infância de minha mãe, que teve a sorte de crescer junto com a história do rádio, e como todas as ouvintes, somente depois, com a chegada da televisão, pôde imprimir imagens às vozes e sons que habituara ouvir. Ela narra uma passagem curiosa, quando minha avó a levou à rádio e ela conheceu seu então ídolo, Osny Silva, que digamos, estava um tanto distante da imagem que ela tinha feito dele quando o ouvia no rádio,..

Aliás, Osny, em 1951 tinha lançado a marcha Campeão dos Campeões, de Lauro D’Ávila, que posteriormente se tornou o Hino do Corinthians. Ele cantou com vibração especial, em virtude de torcer pelo Corinthians. Foi contemplado com o Troféu Roquette Pinto de Melhor Cantor de Música Internacional e, no ano seguinte, passou a integrar o elenco da Rádio Nacional paulista.

Está aí uma outra paixão que cresceu comigo, minha mãe Maria Amélia, meu avô Álvaro, e passei para os meus filhos, a de sofrer com as narrações de futebol nas rádios, sempre tão mais emocionantes do que visto pela televisão. E depois do futebol, sempre vinham os programas para comentar a partida, e também os humorísticos sobre as desventuras em quadra.

Pensando no rádio e sua influência, nestes 100 anos de existência, e, trazendo para a atualidade, sempre houve aqueles que também viam o rádio como os games são vistos hoje – um vilão. Em uma das cenas do já citado filme A Era do Rádio, o personagem principal, o pequeno Joe, ouve do rabino um sermão sobre como o rádio induz a maus valores, sonhos falsos e hábitos preguiçosos,

Numa divertida passagem em que ele e seus colegas roubam as moedas conseguidas em doação para o Fundo Nacional Judeu, com o intuito de comprar o anel do vingador mascarado, um herói do rádio. É, sempre o que é visionário acaba sofrendo uma perseguição…

Na adolescência, minha relação com a rádio acabou por se basear nas rádios de música, e a vontade de gravar as músicas prediletas, para fazer a própria “setlist” e ouvir depois no walkman. Tinha um rádio vermelho, que minha mãe me deu, uma inovação, que vinha com fita cassete e gravava. Lá ficava eu, com os dois dedos nas teclas Rec e Play, aguardando a música preferida. E não é que muitas vezes, o radialista, depois da música iniciada, mandava o slogan da rádio e acabava com a faixa..?

Já trabalhando, nunca me desliguei do rádio, para me manter atualizada. No meu caminho diário de ida e vinda ao trabalho, venho escutando a CBN, com Mílton Jung, depois Carlos Andreazza e Marcela Lourenzetto, e volto ouvindo Rodrigo Bocardi e suas ‘horas dobradas’ no Ponto Final da CBN.

E para quem achava que o rádio iria desaparecer com o advento das novas tecnologias, muito se enganou… A rádio ainda é o meio mais rápido da chegada da informação, o mais inclusivo e que preza a diversidade, e que estará por aqui por muito e muito tempo.

Às radialistas e aos radialistas da CBN, meu muito obrigada, por dar som à voz da cidade.

Conte Sua História do Rádio em São Paulo: as “crianças” da sala de aula de Nhô Totico

Flávia Bissoto

Ouvinte da CBN

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Uma semana antes de ouvir o convite da CBN para escrever nossas histórias no rádio, minha Tia Wilma Medeiros, que hoje tem 89 anos, havia me contado um fato de sua infância:  ela ouvia o programa de Nhô Totico — um dos ícones do humor radiofônico, no Brasil

O programa se passava em uma classe de escola, era a Escolinha da Dona Olinda, na qual havia vários alunos diferentes, com sotaques diferentes: um inteligente, outro chorão … e o preferido dela era o Jorginho, o Turco.

Minha tia me disse que quando tinha por volta de seis ou sete anos, a professora dela levou os alunos para conhecer o programa do Nhô Totico.

Chegando na emissora de rádio, minha tia ficou esperando pelas crianças da escolinha da Dona Olinda. E nada das crianças chegarem. As crianças não chegaram.

Para surpresa e decepção dela, Nhô Totico era um adulto, gente grande, que imitava a professora, Dona Olinda, e os alunos da sala de aula. 

Nhô Totico foi muito gentil com minha tia. Afagou sua cabeça e beijou suas mãozinhas, pois ela era a menorzinha da classe. Apesar do carinho, Tia Wilma disse que estava assustada. Não era o que esperava encontrar. Naquele dia, se desfez a magia daquele programa de rádio. 

Para ela o melhor do rádio estava mesmo na imaginação!

Flávia Bissoto Medeiros é personagem do Conte Sua História de São Paulo, especial 100 anos de rádio. A sonorização é do Cláudio Antonio. A partir de outubro, voltamos a nossa programação normal. Então, aproveite e escreva agora mais um capitulo da nossa cidade. Envie seu texto para contesuahistoria@cbn.com.br 

Conte Sua História do Rádio em SP: minha fonte da informação

Neste mês de setembro, o Conte Sua História de São Paulo abre espaço para uma edição especial em homenagem aos 100 anos do Rádio, que se completam no dia sete. Os ouvintes foram convidados a falar de suas experiências com este veículo e os textos selecionados serão publicados todos os sábados deste mês e, também na semana de 5 a 9 de setembro, no CBN SP. Como sempre, a sonorização é de Cláudio Antonio que buscou nos arquivos do rádio de São Paulo momentos desta incrível história.

Mário Curcio

Ouvinte da CBN

Minha história com o rádio começa com um daqueles modelos à pilha e capinha de couro marrom, que já estava em casa antes de eu nascer. A marca era Hitachi. Ele ainda existe. Foi um presente que meu pai deu pra si mesmo no dia em que meu irmão nasceu. Dentro da capa está marcado à caneta o dia da compra: 6 de julho de 1959.

O radinho tem duas faixas, AM e Ondas Curtas, uma frequência em que é possível ouvir até emissoras da Europa e da China nas noites de céu limpo.

O seu João, meu pai, tem hoje 92 anos. Ele cresceu na época de ouro do rádio, quando a família se reunia à noite para ouvir shows de auditório, novelas e também notícias sobre a Segunda Guerra Mundial. Mas foi com aquele rádio marronzinho que ele comemorou as Copas do Mundo de 1962 e 1970. Também vibrou com muitos gols do nosso Palmeiras.

Neste radinho descobrimos quem era Adoniran Barbosa. Nossa música favorita com o Adoniran ainda é “O Samba do Arnesto”. Em 1970 meu pai estava no auge da carreira dele na indústria farmacêutica Squibb aqui em Santo Amaro e comprou um Chevrolet Opala Standard.

O carro veio sem rádio, mas nas primeiras viagens ele prendia o velho radinho no quebra-vento pra não perder o futebol. Esse aparelho também servia como espanta-ladrão: nas noites em que saíamos, ele ficava ligado na sala pra fazer de conta que tinha gente em casa.

Neste e em outros aparelhos, eu e meus irmãos passamos parte da infância e a adolescência ouvindo duas emissoras de AM aqui na capital paulista, a Difusora 960 e a Excelsior 780, a Máquina do Som, que deu lugar à CBN em 1991. Também pegamos o período de transição para o FM, uma frequência que melhorou muito a utilização do aparelho, especialmente dentro de empresas ou lugares com muitos equipamentos elétricos, que ainda causam interferência no AM.

Sou jornalista e o rádio é minha principal fonte de informação. Ouço a CBN dia e noite. Para o meu pai, que perdeu a visão por causa da diabete, o rádio é sua tevê, seu futebol e sua vida.  

Mário Curcio é personagem do Conte Sua História de São Paulo. A sonorização é do Cláudio Antonio. Em outubro, voltaremos à nossa programação normal, então aproveite para contar a sua história da nossa cidade. Escreva para contesuahistoria@cbn.com.br. Para conhecer outros capítulos, visite o meu blog miltonjung.com.br e o podcast do Conte Sua História de São Paulo.