Mundo Corporativo: Roberta Colleta, da Lwart, fala da solução ambiental para o óleo usado do motor do seu carro

Imagem do site da Lwart

“A gente precisa saber para onde esse óleo lubrificante vai, a gente precisa entender que ele é um tema da pauta ESG, que deveria estar lá em cima.  Se fala muito em ESG, mas a gente não tem falado sobre o óleo lubrificante usado”.

Roberta Colleta, Lwart

“Troca o óleo”. Você já deve ter feito este pedido inúmeras vezes ao chegar em um posto de combustível ou oficina mecânica. Fazer a troca é recomendável para a saúde do motor do seu carro. Os fabricantes sugerem que isso ocorra a cada 5 mil ou 10 mil quilômetros, conforme orientação do fabricante.

Agora, você parou para pensar o que acontece com o óleo que o profissional tira do motor? Se descartado no meio ambiente, esse produto é bastante prejudicial à sua saúde e ao meio ambiente.

O  Mundo Corporativo, na série ESG, foi saber quais são as soluções desenvolvidas no Brasil para atender a rígida legislação ambiental do país.  Nós entrevistamos Roberta Colleta, head de comunicação e marketing da Lwart Soluções Ambientais. A empresa trabalha com  rerrefino do óleo lubrificante e é líder nesse mercado é a nossa entrevistada.

Impactos Ambientais e de Saúde do Óleo Lubrificante Usado

O óleo lubrificante usado é aquele líquido preto que sai do motor de carros, motos, ônibus e máquinas. O produto pode causar danos significativos ao meio ambiente quando descartado incorretamente. Ele possui potencial para contaminar a água, o solo e o ar, causando sérios problemas ambientais. Apenas um litro de óleo usado pode contaminar até um milhão de litros de água, tornando-se uma fonte poluidora poderosa:

“Na água, um litro de óleo usado, de óleo lubrificante usado, é capaz de contaminar um milhão de litros de água. No solo, ele permeia e pode ter prejuízos para a plantação, água etc. E no ar, quando ele é queimado, gera resíduos  tóxicos, tanto para o ser humano quanto para a camada de ozônio. Então, é um tema que a gente precisa olhar com carinho”.

Rerrefino: A Solução Sustentável

A Lwart Soluções Ambientais é pioneira na técnica de rerrefino de óleo lubrificante usado no Brasil. Esse processo ocorre a partir do óleo básico extraído do petróleo, que é aditivado e se transforma em óleo lubrificante.

O óleo, após ser usado e extraído do motor do carro, é coletado pela empresa. que o refina novamente, eliminando contaminantes e transformando-o em óleo básico de alta qualidade. Esse processo leva a um ciclo completo, tornando-o uma solução ambientalmente correta e sustentável:

“Através de tecnologia, a gente consegue mudar a estrutura molecular desse óleo e transforma ele de novo em óleo básico. Então, perceba que é uma cadeia circular perfeita. Ele foi refinado. Ele foi usado. Ele foi rerrefinado. E ele volta para o mercado de novo depois de aditivado novamente como óleo lubrificante. E isso é infinito”. 

A empresa faz a coleta em cerca de 4 mil municípios brasileiros e concentra o produto em 18 centros de coleta, que são unidades armazenadoras espalhadas em diversas partes do país. O material é levado para a fábrica da Lwart em Lençóis Paulistas, interior de São Paulo. Lá é feito o processo de rerrefino do óleo lubrificante. Por ano, são rerrefinados cerca de 240 milhões de litros, segundo dados oficiais da Lwart.

Quem é responsável pela gestão do óleo usado

legislação brasileira é rigorosa em relação ao óleo lubrificante usado. A única destinação ambientalmente correta é a reciclagem por meio do rerrefino. Postos de combustível, concessionárias, oficinas e indústrias têm a obrigação legal de destinar corretamente o óleo usado para o refino.

“Os países de grandes extensões territoriais, como o Brasil, são grandes produtores de óleo lubrificante, e muitos deles também são grandes rerefinadores, mas outros países têm legislações diferentes. Então, posso citar para você, por exemplo, os Estados Unidos que permitem a queima do óleo lubrificante usado. O Brasil não permite, o que para nós é um uma grande conquista”. 

Roberta explica que de cada 10 litros de óleo coletado, sete e meio são rerefinados e voltam ao mercado de máquinas e motores. Outra parte dos resíduos desse processo vai para a indústria da construção civil como impermeabilizante e manta asfáltica. A água usada na operação passa por uma estação de tratamento e volta à natureza, ou gera vapor e alimenta a própria fábrica.

Desafios e Conscientização

Apesar da legislação e dos avanços na reciclagem, ainda existem desafios. Um dos principais é conscientizar as pessoas sobre a importância de destinar corretamente o óleo lubrificante usado. Muitos ainda não têm a consciência dos riscos ambientais desse produto e precisam ser sensibilizados para contribuir com a preservação do meio ambiente.

Além do Óleo Lubrificante

A Lwart Soluções Ambientais não se limita à coleta e rerrefino de óleo lubrificante usado, conforme explica Roberta Colleta. Há 50 anos no mercado, a empresa expandiu suas atividades para outras soluções ambientais. Hoje faz a gestão de resíduos sólidos, incluindo plástico, metal, madeira, papelão e águas contaminadas. Além disso, a Lwart investe em inovação e tecnologia, buscando soluções que agreguem valor aos resíduos e enfrentem desafios futuros.

O tema da coleta e reciclagem do óleo lubrificante usado é de suma importância para a sustentabilidade ambiental. E os resultados no Brasil são bastante positivos. Para Roberta, no entanto, a conscientização e a colaboração de todos são fundamentais para que esse esforço da coleta seja ainda mais significativo. Ela destaca que devemos lembrar que, ao cuidar do descarte adequado do óleo lubrificante, estamos zelando pelo planeta e pelas gerações futuras.

Assista à entrevista completa com Roberta Colleta, head de comunicação e marketing da Lwart Soluções Ambientais. O Mundo Corporativo tem as participações de Renato Barcellos, Letícia Valente, Leandro Gouveia e Débora Gonçalves.

Mundo Corporativo: Saville Alves, da Solos, mostra como estratégias de ESG e economia circular podem avançar com base na tecnologia

“O que a gente não pode perder de vista é que catador, cooperativa, não fica rico com catação. A gente precisa mudar essas relações de trabalho para que a gente possa ter empreendimentos escaláveis, e que coloquem o Brasil numa ponta de índices de reciclagem”

Saville Alves, Solos

Um dos maiores desafios quando o tema é economia circular é a conscientização do cidadão sobre o descarte correto de resíduos recicláveis. No Brasil, a taxa de reciclagem é muito baixa, cerca de 3%; e 90% do material reciclado é coletado pelos catadores, muitas vezes em condições precárias. Saville Alves, CEO da Solos, identificou esse problema e contou ao Mundo Corporativo como a criação da startup gerou oportunidade para o desenvolvimento de soluções nessa área. Ela é a primeira entrevistada de mais uma série especial sobre ESG — que trata da governança ambiental, social e corporativa.

A Solos é uma startup que trabalha com o descarte correto de resíduos recicláveis e economia circular. Além de conscientizar os cidadãos sobre a importância do descarte correto, a Solos percebeu a necessidade de criar um sistema de inclusão socioeconômica para os catadores e estabelecer parcerias com grandes indústrias recicladoras. Essa abordagem visa costurar todas as pontas da cadeia de reciclagem, desde o cidadão que faz o descarte até o reciclador que transforma o material em novos produtos, utilizando matéria-prima reciclável em vez de matéria-prima virgem.

“O nosso negócio é um negócio B2B, ou seja, ele é uma empresa que vende uma solução para outras empresas, mas a gente parte sempre da premissa da geração do impacto. Seja ela através do aumento de volume de resíduos reciclados, da geração de renda para as populações historicamente excluídas dentro desse processo, e, também, pelo número de pessoas que a gente vai alcançando e vai convertendo para participar das nossas ações”. 

A Solos atua em três frentes principais:

  • a primeira é por meio de experiências e conteúdos sustentáveis, que buscam sensibilizar e engajar o público de forma leve e lúdica.
  • A segunda frente é a gestão de resíduos em grandes eventos, oferecendo consultoria e operação logística para aumentar a quantidade de resíduos destinados à reciclagem.
  • A terceira frente é a implementação de operações de logística reversa e micrologística, garantindo o acesso ordenado e estruturado à coleta seletiva em diferentes regiões do país.

Saville Alves Alves  é uma empreendedora que teve sua trajetória marcada por vivências significativas. Ela estudou comunicação na Universidade Federal da Bahia, onde teve contato com um ambiente de pensamento crítico e começou a questionar os paradigmas sociais. Sua participação em movimentos como o Movimento Empresa Júnior e organizações internacionais, como o TETO, despertaram o desejo de fundar um negócio de impacto. A Solos foi então concebida como resultado desse processo de amadurecimento pessoal e profissional.

O Papel da Tecnologia na Reciclagem

No contexto da reciclagem, a tecnologia desempenha um papel fundamental. O Brasil tem a oportunidade de usar algoritmos e sistemas de rastreamento para trazer mais transparência e informações para a população. O lastreamento da cadeia de reciclagem, identificando a origem e o destino dos materiais, pode ser realizado por meio da tecnologia. Além disso, a automação das estações de triagem e beneficiamento contribui para aumentar a eficiência e diminuir as taxas de erro no processo.

De acordo com Saville, a Solos está explorando formas de digitalizar o processo de conscientização da população, especialmente das crianças e adolescentes, para criar um hábito sustentável desde cedo. A empresa acredita que, ao mudar os hábitos das novas gerações, teremos adultos conscientes e engajados na reciclagem. A tecnologia também desempenhará um papel importante nesse processo, permitindo a conexão de informações e a automação de diversas etapas do ciclo de reciclagem.

Dicas para Empresas interessadas na Economia Circular

Para empresas que desejam adotar práticas de economia circular, é importante começar de maneira verdadeira e identificar o que é mais sensível para o negócio. Cada empresa tem suas peculiaridades, e é essencial escolher causas alinhadas aos seus valores e setor de atuação. Inicialmente, focar em questões como resíduos, inclusão socioeconômica ou qualquer outra área relevante pode ser um bom começo. É fundamental buscar parcerias e redes confiáveis, participar de programas de aceleração e capacitação, e aproveitar as oportunidades oferecidas pela digitalização para expandir o impacto positivo.

Saiba outras formas de colaborar e investir em economia ciruclar, assistindo à entrevista completa com Saville Alves, CEO da Solos, no Mundo Corporativo, especial ESG:

O Mundo Corporativo tem as participações de Priscilla Gubiotti, Rafael Furugen, Renato Barcellos e Letícia Valente.

Lixo está migrando de São Paulo

 

Pedro Campos Fernandes


Desde domingo passado, 4 de outubro, a cidade de São Paulo passou a exportar 13 mil toneladas diárias de seu lixo urbano para aterros sanitários de outros municípios. Este número representa nove vezes o que a região do Alto Tietê, fora Guarulhos, gera por dia.

O último aterro sanitário em funcionamento, o São João, em São Mateus, na zona leste, terá a operação encerrada. A EcoUrbis, que administra o local, diz que o plano de encerramento já foi aprovado pelo Consema – Conselho Estadual do Meio Ambiente.

Estas informações divulgadas no dia 2 de outubro pela AE – Agência Estado – deixam evidente que nem a capital do Estado possui uma política voltada para esta questão, o que a torna mais grave e de urgente a solução.

Como imaginar carretas com 15, 20 toneladas de lixo transitando pelas ruas e avenidas? Um acidente com uma delas causaria prejuízos incalculáveis para as pessoas e para o meio ambiente. Além do mais, já existem carros demais; carretas lotadas de lixo circulando por aí é o que menos precisamos.

Diversas soluções já existem, testadas e aprovadas. Na Itália, segundo pudemos verificar “in loco”, o lixo de uma população de um milhão de habitantes é confinado em imensas cápsulas de borracha de até 800.000 m³, forradas com uma grossa camada de argila.

Os maciços de material orgânico são lacrados por capas de placas de borracha, e regularmente descobertos para serem umedecidos, possibilitando que a produção de gás metano seja perene, de forma controlada.

Acoplada ao aterro, uma usina transforma o metano em energia elétrica que é repassada à empresa responsável, gerando “créditos-eletricidade” para o empreendimento e para a municipalidade.

A parte seca do lixo, depois de separada por máquinas instaladas no próprio aterro, é encaminhada para outros locais de seleção dos materiais para depois ser reaproveitada por indústrias de cada setor envolvido.

Uma tecnologia coreana apresentada à AMAT também se mostrou muito interessante e viável. Todo o lixo urbano é triturado, desumidificado e compactado ao extremo. Nem de uma usina se trata mais, mas de uma indústria.

Este processo não gera o metano, gás 22 vezes mais poluente que o carbônico. Depois de passar por alguns estágios, o lixo urbano é transformado em pequenos “pellets” de 4 cm. O chorume, líquido altamente poluente que sobra do material orgânico, é decantado até poder ser devolvido à natureza.

O “pellet”, o novo material que surge do lixo, é de alta combustão e pode ser usado para produzir eletricidade e alimentar caldeiras da indústria metalúrgica, substituindo o carvão, o diesel e o gás natural.

Para que uma dessas soluções possa ser adotada, precisa ser oficializada uma tríade constituída pelo Consórcio Público do Alto Tietê – em vias de formação -, pelo empreendimento que vai industrializar o lixo e pela empresa detentora da tecnologia a ser implantada.

O segundo ato será o de constituir uma Comissão Financeira, para captar os recursos nos diversos Ministérios, bancos nacionais e internacionais, privados e públicos. Segundo especialistas, há grande possibilidade de tudo sair a custo zero para as administrações municipais.

A gravidade da situação apresenta agora o seu lado positivo: não dá para esperar, não há mais como protelar uma saída.

Perdro Campos Fernandes é Secretário-Executivo da AMAT – Associação dos Municípios do Alto Tietê e enviou este artigo após acompanhar discussão sobre o lixo exportado de São Paulo