De beijo redentor

 

Por Maria Lucia Solla

De beijo redentor

Ouça “De beijo redentor” na voz e sonorizado pela autora

Como é que a gente faz para não ser babaca, não ir atrás do lero-lero, acreditando no diz-que-diz, fofocando em ritmo de bolero, perdendo tempo de ser feliz?

Quero saber quem foi que começou tudo isso que é feio, triste, sujo, que esconde o bom e alardeia o ruim, do qual eu fujo.

quero saber porque acreditamos
que ser feliz é pecado
que quem ri é palhaço
quem tem dinheiro é que é ricaço
e eu no meio disso tudo
o que é que eu faço

Peço aos deuses de todos os credos que assoprem no meu ouvido, que me façam acreditar de novo naquilo de que hoje duvido; que levem de mim o condicionamento de acreditar em tudo que é racionamento, em vez de acreditar no poder do riso, que é exatamente do que preciso.

vade retro medo
inimigo maior que bandido
que me boicota, que de mim faz chacota
que me transforma num bicho
acuado encolhido

Me coloco à mercê de um anjo para que me use, faça de mim o que for preciso para que possamos todos receber o beijo redentor que cure a nossa dor e reacenda em nós a chama da esperança e do amor. Para que minha mente e meu coração finalmente se aliem, e que a força então gerada possa de mim redimir o pecado, e eu daqui para frente possa assumir o samba e deixar para trás o choroso fado.

Deuses, se é que existem, e se existem, se é que me ouvem, e se disso tudo que eu peço algo ainda estiver sobrando, mandem pra mim um pouco.

não que eu mereça
mas antes que eu enlouqueça

Maria Lucia Solla é terapeuta, professora de língua estrangeira e realiza curso de comunicação e expressão. Aos domingos, escreve no Blog do Mílton Jung