Por Maria Lucia Solla
Você já passou por uma ressonância magnética? Quem passou deveria ser carimbado na testa; para o quê eu ainda não sei, mas tenho certeza de que um dia saberemos.
Cheguei ao hospital focada, era preciso encontrar a entrada do pronto socorro onde eu tinha sido atendida sete dias antes, resgatar o RX do meu ombro esquerdo e pedir o encaminhamento do ortopedista para fisioterapia. Só isso. Tudo dava certo desde que acordei. É meu dia de sorte, pensei. Saí de casa um pouco antes das dez, as ruas estavam cheias, mas o tráfego fluía em ritmo de valsa, suavizando o desconforto causado pelo ajuste do encosto do banco do meu carro num ângulo de noventa graus para acomodar costas e ombro esquerdo.
Não errei uma virada do caminho, nem a entrada do estacionamento. Ponto para mim. Ao pedir informação na recepção, fui atendida com sorriso e boa vontade. Ali eu só retirava uma senha e preenchia uma ficha, mas não demorou nada entre isso e a chamada para o atendimento médico. Para dizer a verdade demorou o tempo necessário para eu reencontrar uma querida amiga de muitos anos, que eu não via há outros tantos. Trocamos número de telefone, e fui chamada ao consultório nove. A gentileza do dia continuava a me mostrar seu sorriso branco e brilhante, dente a dente.
O médico atencioso e cuidadoso recomendou dez sessões de fisioterapia e pediu um exame que eu nunca tinha feito, uma ressonância magnética. Perguntei se o hospital tinha um departamento de exames, e ele me indicou o quarto andar. Antes de ir até lá resgatei meu RX, e então cheguei à recepção do laboratório. É preciso agendar? Tem chance de um encaixe? A moça que me atendeu disse que tinha sim, e que só precisava fazer meu cadastro e consultar o plano de saúde. Será que dá tempo de tomar um cafezinho e comer alguma coisa antes? Sempre preciso de uma pausa assim. Dá tempo sim. Tome seu café sossegada.
Na lanchonete do hospital pedi um café com leite e um super pão de queijo. De quebra comprei um jornal e me deleitei fazendo uma das coisas de que mais gosto: tomar um café bem quente com um lanchinho e boa leitura, na falta de boa companhia.
Voltei para o quarto andar e então passei pela experiência mais bizarra da minha vida, uma ressonância magnética do ombro esquerdo. A senhora se deita aqui. Tá muito frio. Não demora muito. São só uns dez minutos de exame. Meu Deus! Meu Deus! O que é isto?
Ainda estou em choque. Nunca mais vou ser a mesma. Mudou a estrutura do meu DNA. Eu mudei. Passei por tecnologia de ponta com ranço e roncares da Idade da Pedra. Feito nós. Faz sentido.
Maria Lucia Solla é terapeuta e professora de língua estrangeira. Aos domingos, escreve no Blog do Mílton Jung
