Lei de trânsito exige bom senso de motorista

 

 

Artigo escrito, originalmente, para o Blog Adote São Paulo, da revista Época SP

 

Nas minhas férias de verão, voltei a cidade de Ridgefield, pequena localidade no estado americano de Connecticut, que conheci há alguns bons anos desde que parentes de minha mulher foram morar lá. O lugar é incrível, pois oferece a seus cerca de 22 mil moradores bosques intermináveis, cortados por estradas que levam até uma área central bucólica, que mantém traços da cidade fundada no século 18. Foi palco de uma batalha histórica durante a Guerra da Independência dos Estados Unidos, em 1777, quando os generais americanos Wooster e Arnold enfrentaram as forças britânicas. Descobri, também, lendo placas que estão expostas nas calçadas da Main Street (rua que aparece na foto que ilustra este post), em uma espécie de museu aberto, que um incêndio quase dizimou a cidade em seus primeiros anos de fundação, tragédia que foi contida graças ao apoio das comunidades vizinhas que enviaram brigadas de incêndio.

 

O frio na semana que antecedeu o Natal impedia passeios a pé ou mesmo de bicicleta, portanto andar de carro era quase obrigação. E uma tranquilidade, pela inexistência de congestionamento nas redondezas. Apenas ao sair de Ridgefield em direção a Nova York, distante mais de uma hora, ou a caminho de Danbury, que fica logo ao lado, encontra-se volume significativo de carros. Foi em uma destas viagens que aprendi uma peculiaridade das leis de trânsito de Connecticut: a conversão à direita é livre, mesmo que o sinal esteja vermelho para você, desde que feita com atenção; apenas nos cruzamentos mais perigosos, existem placas proibindo a manobra. A lei é inteligente, pois não o obriga a ficar parado quando não há carros para cruzar a via nem passageiros para atravessá-la.

 

Fico imaginando se algo semelhante seria possível em cenário caótico como o trânsito de São Paulo. Aqui, as autoridades sequer aceitam liberar os semáforos durante a madrugada nos cruzamentos, expondo o motorista e passageiros ao risco de assaltos. E não agem assim porque são injustas ou estejam a serviço dos bandidos, apenas porque conhecem o comportamento de parte dos motoristas brasileiros. Poucas vezes respeitamos a faixa de segurança – em São Paulo, somente a ameaça de multas consegue conter alguns -, dificilmente aceitamos a preferência dos outros nas rotatórias e jamais paramos o carro quando vemos o sinal de “Pare” na esquina, apenas desaceleramos para não perder a viagem.

 

A permissão que encontrei em Riedgefield e vale para todo o Estado de Connecticut só é possível em locais nos quais a sociedade esteja consciente de seus direitos e deveres. Exige bom senso – produto que está em falta em nosso trânsito.