Avalanche Tricolor: bela vitória e um ótimo show, mas não dá pra relaxar

 

Grêmio 3×1 Avaí
Brasileiro – Arena Grêmio

 

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Música e futebol voltaram a se misturar no meu fim de semana e acabei distante do Grêmio, sábado à noite, para acompanhar o penúltimo dia de shows no Rock In Rio, que comemorava 30 anos de edição. Eu havia estado por lá na primeira das grandes festas, em 1985, quando recém havia concluído a faculdade de jornalismo. Naquele tempo, nosso time já fazia parte da galeria dos maiores do mundo, com os títulos da Libertadores e do Mundial, anos antes. Foi também quando iniciamos a série do hexacampeonato gaúcho.

 

Dividi as apresentações, no Rio, com consultas ao meu celular, por onde recebia as informações do desempenho gremista, em Porto Alegre. Desta vez, o aglomerado de pessoas e, por conseguinte, de celulares estreitou a banda e impediu que eu conferisse o jogo pelo APP do Premier. Quando Giuliano abriu o placar, após mais uma boa troca de passes que se iniciou por Galhardo e Pedro Rocha, e praticamente selou a vitória com o segundo gol, com menos de meia hora de jogo, já havia curtido velhos ídolos de balada: Ultraje a Rigor e Erasmo, no palco Sunset, e Lulu Santos, que abriu os trabalhos no palco Mundo com um show dançante.

 

Lá de Porto Alegre, soube da façanha de outro velho ídolo: Andre Lima, que nunca nos fez morrer de paixão pelo talento, mas sempre se fez admirado pela maneira como se entregava pelo Grêmio. Em lugar de comemorar o único tento adversário, o que seria mais do que justificável, afinal está prestando serviços para outra camisa, preferiu homenagear o torcedor gremista sinalizando com as mãos o histórico placar de 5×0.

 

Os australianos do Sheppard não entusiasmaram nada na sequência das apresentações na Cidade do Rock, por mais que tenham se esforçado para ganhar o coração da galera. Em compensação, de Porto Alegre, sou avisado de que um outro estrangeiro acabara de dar um show com um chute incrível de perna esquerda: Maxi Rodriguez, que vinha devendo o bom futebol que se espera dele, pude conferir depois nos melhores momentos, fez a bola subir o suficiente para encobrir todos os jogadores que estavam dentro da área e descer o necessário para cair dentro do gol, fora do alcance do goleiro.

 

O Grêmio fez a lição de casa e deu mais um passo em sua paciente caminhada ao topo, e me deixou tranquilo para assistir às duas apresentações que realmente valiam o ingresso no Rock In Rio naquela noite: Sean Smith e Rihanna. Bem verdade que, quando o show estava no auge, passou ao meu lado um fã de Smith vestindo a camisa do Fluminense e logo me veio a cabeça a ideia de que por melhor que esteja a festa não dá pra relaxar.

A força relativa das redes sociais

 

O dono do Rock in Rio, Roberto Medina, em entrevista ao Caderno 2 do Estadão, na edição dominical, falou sobre como construiu o festival que se iniciou em 1985 e se transformou neste gigantesco espetáculo de música que viaja o mundo. Chamou-me atenção, dentre as muitas afirmações, a análise que fez sobre a importância relativa das redes sociais nas decisões que toma para escalar o elenco de atrações que, muitas vezes, extrapola a balada do rock. Não ignora a opinião que circula na rede, mas usa o termômetro certo para medir a temperatura do público. Lembra ter sido muito criticado quando contratou Shakira, na Espanha, e “endeusado” ao acertar com o grupo Rage Against the Machine. Enquanto ela foi um sucesso de público, eles foram um dos que menos pessoas levaram à Cidade do Rock na história do festival. Para Medina, “o cara que se manifesta nas redes sociais é o mais radical, o mais ativista, é mais duro e mais heavy. Muitos incorrem no erro de dar peso demasiado às redes sociais. Tem de olhar também, mas com cuidado”.

 

Destaco a análise do empresário porque vai ao encontro do pensamento que me pauta há algum tempo no comando dos programas na rádio CBN. Jamais podemos nos deslumbrar com o que escrevem nas redes sociais (e mesmo com a opinião enviada por e-mail) entendendo que lá está a opinião de todo o público. O ouvinte indignado tende a escrever mais, se dispõe a parar a atividade que realiza para reclamar, e quando escreve carrega na tinta, sendo até mais duro do que seria diante de um diálogo aberto, frente à frente. A indignação move às pessoas. A satisfação nem sempre. Além disso, os grupos mais articulados e organizados conseguem aparecer mais, fenômeno que ocorre historicamente antes mesmo do surgimento das redes digitais.

 

Recentemente, minha caixa de correio encheu de reclamações contra a decisão do prefeito Fernando Haddad, de São Paulo, de criar faixas exclusivas para ônibus, medida que espremeu os carros nas já insuficientes ruas e avenidas da capital paulista. Eram motoristas incomodados com o transtorno provocado pela prefeitura que privilegiou o transporte coletivo. Assim que os repórteres da CBN foram ouvir os passageiros, coletaram uma enxurrada de opiniões favoráveis devido a redução do tempo das viagens. Tivesse ficado apenas com o pensamento reinante na internet (e-mail, Facebook e Twitter) teríamos transmitido uma impressão errada da cidade em relação a ação da prefeitura.

 

Impossível ignorar as redes sociais, estas já mostraram sua força de mobilização, mas é fundamental que aqueles que tratam com a opinião pública e os que precisam tomar decisões em qualquer instância saibam equilibrar as forças, levem em consideração a parcela silenciosa da sociedade e, principalmente, confiem na experiência e no conhecimento que construíram. Quem sabe, assim, serão um dia elogiados também nas redes sociais.