“As virtudes são mais importantes que as profissões e o crachá que meu filho vai ter”

 

Estive em palestra na 16a Feira do Livro da UFSCar, na cidade de São Carlos, no interior de São Paulo, para apresentar o livro “É proibido Calar! Precisamos falar de ética e cidadania com nossos filhos”. Com a gentileza de professores, alunos e ouvintes, conversei sobre essa relação que precisamos desenvolver não apenas entre pais e filhos, mas entre todos os cidadão: uma relação baseada na ética.

 

O site CIDADEON, de São Carlos, cobriu o encontro e produziu a reportagem a seguir:

 

UFSCAR3

 

Durante a palestra, Milton Jung abordou diversos temas como a situação das universidades, o crescimento de áreas antes desconhecidas como os Esports e também falou um pouco sobre episódios pessoais e familiares. “Se a gente levar em consideração que até 2035 85% das profissões que existirão ainda não foram criadas, como eu quero escolher a profissão e a faculdade do meu filho hoje? A gente não sabe como vai ser o futuro, então como fazer algo agora? Eu faço o que eu quero. O que eu queria propor para as pessoas, antes de pensar em uma profissão, é que mudem de foco. Ao invés de pensar: o que meu filho vai ser quando crescer?, Que tal pensar o que vai fazer meu filho feliz no futuro? As virtudes são mais importantes que as profissões e o crachá que meu filho vai ter, que o cargo, que o salário que vai receber. Ele está desempregado, mas continua sendo um cara honesto e responsável. Então podemos mudar esse quadro, ou você prefere um empregado e desonesto?”, questionou.

 

“Nós devíamos nos esforçar para desenvolver nas pessoas virtudes, inclusive deveríamos nos preocupar em desenvolvê-las em nós. Entre elas a cidadania. Desenvolver essas virtudes e valorizá-las mais do que a profissão”, sugeriu Jung.

 

Para o jornalista, é importante educar as pessoas desde cedo a respeito do tema. “Vamos começar falando [de ética] com as crianças, dentro de casa. Essa é a minha proposta. Falar de ética e cidadania é fundamental. Uso a palavra cidadania, mas poderia usar política. No entanto, parece que no Brasil, nos últimos tempos, as pessoas começaram a olhar para essa palavra, política, a ficarem com medo dela e dizer que isso não presta. Pelo contrário, isso é necessário. E por isso, tento demonstrar, inclusive, que política e cidadania são as mesmas palavras, apenas com origens diferentes. Mas elas têm a ver com a nossa relação, a do indivíduo com o coletivo. E por isso nós temos que ficar muito atentos a esses temas. E para que essa sociedade realmente funcione, é fundamental que se tenha o compromisso, e se assuma o compromisso de uma relação ética com as pessoas. É isso que nós precisamos no Brasil, se é que realmente queremos um país mais justo e generoso. Isso é o que eu quero, e tenho certeza de que muitos pensam da mesma maneira”, explicou.

Leia a reportagem completa aqui.

 

Como São Carlos acabou com homenagem a torturador

 

Jornalirismo

Nomes de ditadores e torturadores estão em praças, viadutos, ruas e avenidas de cidades brasileiras. Dificilmente, alguém se atreve a propor mudanças revendo as homenagens (indevidas) feitas no passado. A cidade de São Carlos, na região central de São Paulo, teve esta iniciativa descrita em reportagem publicada no site Jornalirismo e assinada por Wellington Ramalhoso, substituindo o delegado Fleury por Dom Helder Câmara:

A história é feita e refeita todos os dias, de todos os lados. O ano de 2009 vai embora e arrasta um triste símbolo da história recente do país. Na cidade de São Carlos, no interior de São Paulo (a 230 quilômetros da capital), chegou ao fim uma homenagem ao mais cruel torturador da ditadura militar. A rua que levava o nome do delegado Sergio Paranhos Fleury passou a se chamar Dom Hélder Câmara.

Por mais de 29 anos, o nome do delegado batizou a pacata via com duas quadras residenciais no bairro Vila Marina, perto da movimentada rodovia Washington Luiz e da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar). Era como se o sarcasmo e a crueldade característicos do personagem estivessem ali reproduzidos, perturbando nos mapas a consciência de quem tenta construir uma sociedade mais justa e livre. Era como se o desrespeito e o desprezo ao sofrimento dos torturados se perpetuassem.

Era assim por causa de um decreto assinado em 15 de maio de 1980 pelo então prefeito de São Carlos, Antonio Massei. Até então a rua levava o nome de travessa G. O entorno era pouco ocupado, mas a referência da região já era a delegacia erguida ali ao lado, na rua Santos Dumont, da qual sai a via em questão.

Massei foi uma figura histórica da política local. Teve três mandatos como prefeito da cidade – o primeiro ainda na década de 50. Segundo o presidente da Câmara Municipal de São Carlos, Lineu Navarro (PT), autor do projeto que retira o nome de Fleury, Massei sempre foi eleito com o apoio das camadas populares do município e não tinha vínculos com o movimento de repressão à oposição durante a ditadura. Lineu e moradores da rua atribuem a decisão de Massei de homenagear Fleury à influência de policiais que atuavam na delegacia vizinha. O batismo da rua foi determinado sem consulta aos vereadores da época.

Naquele mês, completava-se um ano da morte de Fleury. O delegado teria se afogado no mar de Ilhabela, no litoral norte de São Paulo, ao lado de um iate recém-comprado, no dia primeiro de maio de 1979. O caso ganhou ar de mistério por causa do passado de Fleury e pelo fato de a polícia paulista não ter permitido a autópsia do corpo.


Leia a reportagem completa no site Jornalirismo