A democracia e a absolvição de Sarney e Virgílio

 

O arquivamento das denúncias contra o presidente do Senado José Sarney (PMDB), que nega até a alma qualquer irregularidade, e o senador Arthur Virgílio (PSDB), réu confesso na contratação de funcionário fantastama, provocou uma série de mensagens na minha caixa de correio, nesta manhã. Não se critica apenas o PT, como foi destaque no noticiário, mas o Senado e os políticos brasileiros. Fala-se em não reeleger mais ninguém, em fechar o Congresso (meu Deus do céu, ninguém leve isso a sério, em desistir de todos estes que aí estão, e outras tantas frases comuns em tempos de indignação. Mas no ano que vem tem eleição, e lá vamos nós votar sem qualificar nosso representante nem nosso parlamento.

No Jornal da CBN desta quinta-feira conversamos com o cientista político José Álvaro Moisés, da USP, que falou dos efeitos da decisão de ontem na democracia brasileira:

Ouça o que disse o cientista político José Álvaro Moisés sobre Senado, política e democracia

PT vota contra Sarney, mas nada vai mudar

 

Uma ligação atrás da outra, dois telefones em punho e uma agenda com muitos contatos não foram suficientes para que tivessemos sucesso em colocar um representante do PT no ar, durante o Jornal da CBN desta terça-feira. Alguns ficaram escondidos atrás de seus assessores, outros atenderam mas disseram não estarem dispostos a falar neste momento e, no fim, o partido não falou, publicamente, o que pretende fazer com o presidente do Senado, José Sarney.

Do senador Aloísio Mercadante, que está na lista dos que não atenderam telefone, soube-se que a posição a ser apresentada no início da tarde de hoje é que os três integrantes do partido na Comissão de Ética aceitem a revisão das denúncias contra Sarney que foram arquivadas pelo senador Paulo Duque (o Duque de Maricá). Enquanto não batem o martelo, nenhum dos senadores petista está disposto a falar agora e ter de engolir e deglutir as palavras logo após o encontro desta tarde.

Pelas conversas e informações levantadas este é o caminho que o PT vai tomar: apóia a apresentação da denúncia no Conselho de Ética.

Detalhe: mesmo que oposição e PT se unam, votem a favor da reapresentação (que o pessoal está chamando de desengavetamento) contra Sarney tudo vai cair nas mãos do presidente do Conselho de Ética, Paulo Duque, “O imperado”, que não tem prazo para rever as acusações contra Sarney.

Que ninguém se engane. Pois se Sarney cair, já caíram Jader Barbalho, ACM e Renan Calheiros. Aliás, não se esqueçam que Collor também está na lista dos caídos. E apesar das quedas, pouco se conseguiu avançar no campo da ética nos três poderes. Eu disse, nos três.

Enquanto a decisão não vem, CLIQUE AQUI e assista ao vídeo enviado pela ouvinte-internauta Alaide Weiss que mostra como tudo começou, no Maranhão

Sarney e fretados na volta ao trabalho

 

De vereadores a senadores, todos voltam ao trabalho nesta segunda-feira. Na prática retornam amanhã, terça. Ninguém ainda foi capaz de acabar com o recesso parlamentar. Apesar de que neste ano a mídia não deu folga pelo menos ao Senado, bola da vez. Há quem aposte na saída de Sarney ainda esta semana, inclusive ‘parentes’ do presidente da Casa. É o que está na primeira página de O Globo. Nem todos, porém, estão otimistas assim.

O Cony, no Liberdade de Expressão, no Jornal da CBN, crê na presença dele por mais tempo no comando do Senado. A dúvida que fica é comandar o quê ? Pois temas importantes estão travados por lá, sem discussão muito menos votação. O Crédito Prêmio de IPI nas exportações que pode levar até R$ 288 bi do Governo Federal é um desses. Sobre isto recomendo que leiam os últimos textos do Carlos Magno Gibrail aqui no Blog.

Ainda do Sarney, o cientista político e professor do INSPER (ex-IBEC SP), Carlos Alberto de Mello, chamou atenção para algo que não podemos esquecer nesta discussão toda. Os problemas do Senado não tem apenas um nome, José Sarney, é estrutural, sério e de muitos anos. Para resolver a encrenca do legislativo federal é preciso ir bem mais além, mas estamos preferindo olhar única e exclusivamente para Sarney, o presidente. Fica mais fácil para todo mundo.

Trabalho legislativo é o que se espera da Câmara Municipal de São Paulo, a partir desta semana. Está na hora dos vereadores se posicionarem de forma clara sobre a questão dos fretados que está parando regiões da cidade e atravancando a vida de pelo menos 40 mil pessoas que usufruem do sistema. Não tenho a conta de quantas mais serão prejudicadas pelos congestionamentos.

Escrevo que os vereadores precisam dizer a que vieram neste caso, pois quando tiveram oportunidade de debater o tema, durante discussão sobre o Plano de Mudanças Climáticas, na capital paulista, abriram mão desta responsabilidade sob a alegação de que não poderiam prejudicar todos os demais assuntos apenas por não haver acordo entre prefeitura e empresas. O prejuízo certamente ocorreria e não seria bom para a cidade desperdiçar aquela oportunidade. O que não é aceitável é ver os vereadores dando de ombros ao tema e deixando tudo para decreto da prefeitura. Só poderia dar a confusão que deu.

Aproveite e pergunte ao seu vereador qual a opinão dele sobre o transporte de fretados na cidade de São Paulo. Você ainda lembra quem é o seu vereador, não ? Se não lembra, adote um vereador.

Da Assembléia Legislativa de São Paulo não falo, hoje, pois pouco se tem para falar desta casa que há algum tempo é gabinete do Governador. Não apenas deste.

E como o tema é volta ao trabalho, não sou parlamentar mas retornei hoje  e na apresentação do Jornal da CBN já que o Heródoto Barbeiro está em férias. Espero contar com a sua confiança, também.

Aposentadoria ou morte!

Por Carlos Magno Gibrail

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Do 26,5 milhões de brasileiros aposentados 8,5 milhões ganham acima de um salário mínimo. Não possuem mais força competitiva no mercado de trabalho, que os rejeita. Não recebem reajustes compatíveis na pensão devida pelo Estado, que os discrimina. E são taxados no valor que recebem de aposentadoria pelo Sistema Tributário, que os assalta.

Ainda assim são acusados de ameaçar o INSS, como se fossem os responsáveis pela incapacidade atuarial de Governos passados e pela frieza contábil do Governo presente.

Desde 1998 o benefício dos aposentados vem perdendo espaço na equiparação com o salário mínimo nacional que em relação a esse está defasado em mais de 75%.

Luiz Nassif analisa: “Há dois pontos opostos em relação à Previdência Social. O primeiro, o da manipulação dos números, jogando em cima do Regime Geral da Previdência despesas que não lhe dizem respeito, como forma de reduzir os benefícios. O segundo, os dados, sem manipulação, que indicam problemas pela frente.

Previdência Social é obra de longo prazo, que exige ajustes periódicos para se manter financiável. Esses ajustes decorrem principalmente de mudanças demográficas, do envelhecimento da população, do aumento da longevidade, da redução do tamanho das famílias”.

E conclui: “Pela matriz demográfica de 2004, em 2050 o país deveria ter 259 milhões de habitantes. Com os novos dados, terá apenas 215 milhões, uma redução de 44 milhões de pessoas, alterando o planejamento de todos os organismos estatais, do IPEA, FGV, Previdência etc. Em 2004 se previa para 2050 146 milhões de pessoas na faixa de 16 a 59 anos – idade produtiva. Agora, a previsão caiu para 120 milhões. Essas são as razões que levarão, em breve, a uma nova rodada de discussão sobre os rumos da Previdência”.

Diante de perdas crescentes os aposentados começam a pressionar através das várias entidades que os representam.
Antonio Graffi da Confederação Brasileira de Aposentados e Pensionistas obteve de Michel Temer o compromisso de colocar o tema em pauta na Câmara.

João Batista Inocentini do Sindicato Nacional dos Aposentados Pensionistas e Idosos da Força Sindical anuncia que os aposentados pretendem reunir um milhão de ações na Justiça contra o fator previdenciário e pela criação de uma política nacional de recuperação do poder de compra do benefício. Diz ainda que as primeiras dez mil ações devem ser ajuizadas agora em São Paulo.

A Federação dos Aposentados e Pensionistas de Minas Gerais demonstra que o pensionista que se aposentou em 1998 com dez salários mínimos, deveria receber R$ 4.650 hoje, mas com as correções diferentes, o benefício atual é de R$ 2.635,06, uma perda de 76,47%.

Inocentini da Força afirma ainda que a ideia não é vincular a correção do benefício ao mínimo, e sim criar um indicador próprio para reajustar as aposentadorias.

Esse índice deve ser baseado nos custos de vida do aposentado.

De acordo com Inocentini, foi elaborada uma lista com cem itens que vão desde os gastos com a casa (luz, água, telefone, gás) até itens de saúde (plano de saúde, medicamento de uso contínuo, óculos, dentista).

“Não tem como o aposentado fugir desses gastos. E todos eles sobem mais que o INPC”,diz.

O INPC é normalmente usado para basear os reajustes dos benefícios.

A campanha do Sindicato já foi lançada em outras cidades, principalmente as do Sul e Sudeste, regiões que concentram 85% dos aposentados e pensionistas que recebem mais que um salário minimo. A ideia é que os aposentados procurem os sindicatos da categoria em cada cidade para ajuizar ações individuais, mas que serão encaminhadas coletivamente à Justiça. “Um milhão de processos até dezembro é uma forma de pressionar o governo a negociar”,afirma.

Pode ser que haja mudanças. O presidente do Senado, José Sarney marcou para o dia 8 de julho a votação, em sessão do
Congresso, do veto do presidente Lula à proposta aprovada pelos parlamentares que reajustou todas as aposentadorias em 2006 com o mesmo índice de correção do salário mínimo, 16,67%.O Governo deu apenas 5% para os benefícios acima de um salário mínimo.

“Quero pedir também ao presidente Sarney e aos líderes que o voto não seja secreto durante a sessão do Congresso que decidirá sobre esse veto. Sei que a Constituição exige votação secreta no caso de vetos, mas gostaria que, como em outras oportunidades, cada deputado ou senador pudesse anunciar nos microfones o seu voto”, disse Paulo Paim autor do Projeto.

Ontem, entretanto além da pressão sobre Sarney e talvez por essa causa a votação dos nomes dos novos integrantes do Conselho Nacional do Ministério Público terminou em confusão. Os dois candidatos foram rejeitados. O vice-presidente da Casa, Marconi Perillo , que comandava a sessão, fechou a votação mesmo com parlamentares presentes. Os senadores que não votaram alegaram desatenção e começaram o bate-boca no plenário. “Quantos integrantes do MP serão maculados por conta da crise do Senado?”, questionou Demóstenes Torres.

Enquanto isso, José Sarney, reuniu de noite em sua casa alguns aliados para avaliar o impacto dos pedidos para que ele se afaste da Presidência da Casa. Ele aguarda reunião da bancada do PT para decidir se permanece no cargo.

Resta saber se pela pauta do dia 8 os aposentados devem ou não torcer pela “aposentadoria” do velho Sarney.

Aposentadoria ou morte!

Carlos Magno Gibrail é doutor em marketing de moda e às quartas escreve no Blog do Milton Jung