Por Oscar Roberto Junior
Guardadas as proporções, do ponto de vista de segurança, o edifício onde moro – como boa parte dos prédios das grandes cidades neste país -, deve estar muito próximo de Guantánamo! Além dos funcionários, das grades e dos portões, há câmeras onipresentes filmando tudo.
Dias desses, como faço três vezes por semana, saí da minha “prisão” e fui à academia fazer um pouco de exercício. Afinal, nada como uma vida saudável. Ao chegar, minha entrada é liberada por um software que faz a leitura ótica das digitais do meu indicador. Imediatamente, minha foto surge na tela de um computador com o meu nome e a catraca é liberada. Um funcionário lê meu nome e me dá um bom dia robótico com um sorriso artificial.
Na academia notei que as câmeras também se multiplicam por todos os ângulos. Ou seja, enquanto me contorço como um faquir na tentativa de acertar o ritmo indicado pelo professor, alguém deve gargalhar da minha falta de jeito para aquilo. Penso que em mais de dez anos de treino não melhorei nada e que ainda devo ser motivo de chacota para aqueles que têm o desprazer de me assistir.
Ao sair da academia caminho pela Avenida Paulista e sei que sou observado por outras inúmeras câmeras privadas e públicas. Tomo, portanto, cuidado para me aprumar e finjo normalidade. Alguns minutos depois, entro em uma loja a procura de uns livros e bingo, lá estão as meninas, atentas a tudo. Sei que depois o meu comportamento, como o de milhares de outros clientes, será estudado por profissionais de marketing. Que horror tudo isso.
Deixo a livraria para ir ao banco. Sei que serei torturado para entrar e tento me preparar utilizando recursos da minha religião. É a instituição financeira lapidando a alma, quem diria.
Como esperado, a porta trava, começo a suar e aqueles que querem entrar e sair me olham com ar de desprezo e um pouco de medo. Seria eu um perigoso ladrão?
O segurança pede para eu tirar da mochila o material feito de ferro, alumínio, etc. Começo a recolher as moedas, guarda-chuva, chave, caneta, celular, etc. E nada de a porta girar.
O funcionário então me pergunta o que eu quero fazer no banco! Respondo-lhe de pronto: “Comprar Novalgina”. Trocamos olhares belicosos, mas, sem saber o porquê, finalmente, fui aprovado. Aleluia.
Para relaxar me dirijo a uma conhecida casa de café e peço um expresso. Repito, para relaxar. O caixa me pergunta se eu quero a marca X ou Y. Digo X, por favor. Mais perguntas: “Normal ou com leite?”. Normal, por favor. “Salgado acompanha?” Não, obrigado, só um simples expresso, digo. “O senhor quer nota fiscal paulista?” Imagino estar enlouquecendo. “Não, obrigado” – e imediatamente lhe dou a nota de cinco reais. “O senhor teria quarenta centavos para facilitar o troco?” Meus batimentos cardíacos se aceleram, sinto a tensão de um homem-bomba antes de puxar a cordinha e “bum”, deixo o local nervoso e sem café.
Chego à minha casa com o telefone tocando. Atendo e ouço: “Sou Valéria do banco que o senhor acabou de visitar. Vamos estar fazendo um cartão de crédito com custo zero por um ano e limite de crédito pré-aprovado”? Fora do meu estado normal falo: “Vou estar pensando e depois vou estar conversando com você, está bem”? Continuo, “Agora preciso estar descansando porque acho que vou estar enfartando se não o fizer.”
Tento dormir um pouco no escuro e dessa vez é um vendedor de uma concessionária me desejando feliz ano-novo. Será que isso é possível?
Oscar Roberto Junior é ouvinte-internauta do CBN SP