Dez Por Cento Mais: Daniel Soares fala sobre o valor do vínculo humano na prevenção do suicídio

“Ferramentas fazem, humanos curam.”
Daniel Soares, psicólogo

Setembro nos convida a encarar um tema duro sem perder de vista aquilo que sustenta a vida: sentido, diálogo e presença. Em uma conversa que percorre do consultório às relações cotidianas, o psicólogo e professor Daniel Soares defende que a prevenção começa quando alguém é visto, ouvido e acolhido; e não substituído por respostas automáticas. Esse foi o assunto da entrevista no programa Dez Por Cento Mais, apresentado por Abigail Costa, no YouTube, inspirado no Setembro Amarelo, uma campanha brasileira de prevenção ao suicídio, iniciada em 2015.

Vínculo, não algoritmo

Para Daniel, falar de prevenção é, antes de tudo, falar de sentido. Ele recorre à logoterapia para lembrar que é possível “dizer sim à vida, apesar de tudo” e “quem tem um porquê enfrenta quase qualquer como”. Considerando o crescimento de pessoas que têm buscado nos chatbots de Inteligência Artificial ajuda psicológica para soluções de problemas relacionados à saúde mental, ele faz um alerta: “Máquinas não sentem”, e a IApode ajudar com informações, mas não substitui a relação que cura”. O ponto central, resume, está no encontro entre pessoas: “Ferramentas fazem, humanos curam”.

A tecnologia, observa, oferece um “pseudo-relacionamento” que reforça o que o usuário já traz, sem continuidade afetiva: “A IA responde; quem acompanha, se preocupa e permanece é o humano”. Por isso, ele insiste no papel de pais e responsáveis no uso de ferramentas: acompanhamento, limites e, principalmente, conversa.

Como conversar com quem sofre

No dia a dia, o primeiro passo é reconhecer a dor do outro. “Não negue nem minimize o sofrimento”, diz Daniel. Evite atalhos como o “pensa positivo”. Em vez disso, ofereça presença: “Posso te ouvir? Estou aqui com você”. A validação, sem julgamentos, abre espaço para que a pessoa busque ajuda e se reconecte com motivos para viver.

Ele também chama atenção para o envelhecimento e a solidão. Mensagens curtas não substituem um encontro: “Presença, olho no olho, abraço e rotina compartilhada protegem”. Reativar pertencimentos — família, vizinhança, grupos, projetos — ajuda a restituir sentido e continuidade às histórias que cada um carrega.

Ao final, Daniel deixa uma imagem que atravessa a conversa: “A vida é uma viagem, passagem só de ida”. Cabe a cada um, afirma, levar para essa viagem valores, cuidados e gente por perto — e oferecer ao outro a mesma companhia que gostaríamos de receber.

Busque ajuda agora:

Centro de Valorização da Vida – CVV

O CVV – Centro de Valorização da Vida realiza apoio emocional e prevenção do suicídio, atendendo voluntária e gratuitamente todas as pessoas que querem e precisam conversar, sob total sigilo, por telefone, e-mail, chat e voip 24 horas todos os dias.

A ligação para o CVV em parceria com o SUS, por meio do número 188, são gratuitas a partir de qualquer linha telefônica fixa ou celular.

Também é possível acessar www.cvv.org.br para chat, Skype, e-mail e mais informações sobre ligação gratuita.

Assista ao Dez Por Cento Mais

O Dez Por Cento Mais traz uma entrevista inédita para você, às quartas-feiras, ao meio-dia, pelo YouTube. Você pode ouvir, também, no Spotify. Aproveite e coloque o canal entre os seus favoritos para receber alertas sempre que um novo conteúdo for publicado.

Setembro amarelo: a natureza nos possibilita a esperança que, ausente, ofusca a amplitude da vida

Por Simone Domingues

@simonedominguespsicologa

Foto: Priscila Gubiotti

Nas últimas semanas, ao andar pelas ruas de São Paulo, nossos olhares eram capturados para a beleza das flores amarelas dos ipês, que se destacavam em meio ao cinza da cidade. Uma rápida associação de cores me conduziu ao Setembro Amarelo, uma campanha criada, em 2014, pela Associação Brasileira de Psiquiatria e pelo Conselho Federal de Medicina, com o objetivo de conscientizar a população sobre os fatores de risco para o suicídio e alertar sobre a importância do tratamento adequado para os transtornos mentais, como estratégias de prevenção.


Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), anualmente, cerca de 1 milhão de pessoas perdem a vida em decorrência do suicídio. No Brasil, os números apontam para 30 mortes diárias, sendo que para cada uma, aproximadamente outras 6 pessoas serão afetadas pelas consequências econômicas, sociais e emocionais provocadas por essa perda.


Os transtornos mentais, como a depressão ou transtorno afetivo bipolar, representam cerca de 96% dos casos de morte por suicídio, reforçando a tese de que o diagnóstico e o tratamento adequado são fundamentais como medidas preventivas eficazes.


Infelizmente, alguns estigmas ainda persistem quando o assunto é saúde mental, dificultando a identificação dos fatores de risco e perpetuando ideias distorcidas sobre essa condição.

É preciso falar sobre saúde mental.


É preciso levar informação capaz de promover a identificação dos transtornos mentais, tornar os tratamentos conhecidos, criar apoio emocional e possibilitar a esperança, a mesma que em sua ausência ofusca a percepção da realidade, tornando-a estreita diante da amplitude da vida.


As causas para o suicídio são multifatoriais, e alguns fatores podem agravar os riscos, como uso do álcool e drogas, que aumentam a impulsividade e a agressividade, a falta de amigos e pessoas mais próximas, e o acesso a meios letais, como armas de fogo.


Por outro lado, algumas atitudes podem ajudar as pessoas a superarem as ideias suicidas, como uma conversa sem rodeios sobre suas intenções e uma sinalização genuína de interesse pelo que ela está passando. Há a necessidade, nesses casos, de procurar ajuda psicológica ou psiquiátrica e, em situações mais urgentes, conduzir a pessoa a um Pronto Atendimento ou chamar o SAMU (192).


A intenção sobre suicídio não deve ser mantida em segredo, em hipótese alguma, devendo-se buscar ajuda profissional especializada. Muitas vezes, essas ideias aparecem em forma de frases, que soam como brincadeiras de mau gosto ou mesmo em atos mais impulsivos e inconsequentes, como atravessar uma rua sem olhar e contar com a sorte.


Por vezes, viver se torna doloroso e até mesmo muito difícil, mas a natureza, com a sua magia, nos ensina que é possível superar as adversidades: mesmo em tempos áridos e secos, o ipê precisa perder todas as suas folhas; sobram seus galhos; e isso é necessário para abrir espaço para o que vem a seguir. E, assim, ele surge, exuberante com suas flores amarelas, possibilitando que a vida se renove.


O suicídio não é um ato individual. É coletivo! Porque atinge a toda sociedade, quer sejam pais, filhos ou amigos.


Sejamos envolvidos na luta pela vida, de modo que nossas ações contribuam para que outras pessoas possam florescer.

Setembro amarelo de 2021: é preciso agir! O suicídio pode ser evitado.

Saiba mais sobre saúde mental e comportamento assistindo ao canal 10porcentomais

Simone Domingues é Psicóloga especialista em Neuropsicologia, tem Pós-Doutorado em Neurociências pela Universidade de Lille/França, é uma das autoras do canal @dezporcentomais no Youtube. Escreveu este artigo a convite do Blog do Mílton Jung