Eu só queria um selo, simples assim

 

selos

 

O cartaz, escrito à mão, pedia paciência aos clientes e informava que o sistema estava lento. A impaciência no olhar das pessoas que estavam na fila sinalizava que o problema não era a lentidão, mas a inexistência do sistema. Aproveitei a moça do caixa, com ar desolado, para saber se poderia ao menos comprar um selo e remeter carta simples para outro Estado. Selo tem, mas não tem sistema, e só vende selo se tiver sistema. Mas custa só 85 centavos!? Sem sistema não tem registro, sem registro não se vende selo. Simples assim.

 

Como não estava disposto a esperar, pois não havia qualquer previsão de regularização no atendimento, fui ao shopping mais próximo, onde, certamente, haveria selos à venda e meu problema estaria resolvido. Ledo engano. Na livraria não vendem, na revistaria, também não, e nenhum dos que me atenderam souberam responder onde encontrá-los. Sem contar o olhar de estranhamento: quem ainda precisa de selo?

 

Se as pessoas não resolvem, aposto na tecnologia, sem lembrar que foi esta que me criou o primeiro entrave lá no posto em que a fila de espera era extensa. Com o celular na ponta dos dedos, acessei a página dos Correios na internet e logo percebi que esta é imprópria para navegação, pois não se adapta ao tamanho da tela.

 

Não desisti: fui para a loja de aplicativos e encontrei o ícone que desejava. Baixei o app Correios no meu celular em busca da agência mais próxima. Surpreendi-me ao saber que o aplicativo não é nada amigável: por exemplo, não oferece a possibilidade de localizar, automaticamente, a agência e posto próximos de onde você está, coisa que qualquer serviço mequetrefe já desenvolveu.

 

Se não dá para ajudar, por que não criar ainda mais problemas?

 

Ao clicar na aba “Agências – procure uma agência perto de você” é preciso informar o Estado, a cidade e o bairro onde você está. Ou melhor, o bairro próximo de onde você está e tenha representantes dos Correios. É que o sistema de busca só tem os nomes dos bairros onde funcionam os Correios, o que gera a seguinte situação: se eu estiver no Jardim Lindoia (você sabe onde fica?) e lá não houver agência, tenho de descobrir quais bairros fazem limite com o Lindoia e verificar se um deles aparece na lista. Um dos mais famosos da cidade de São Paulo, o Morumbi, por exemplo, não aparece.

 

Poderia ser tudo mais simples se o sistema funcionasse, os selos estivessem disponíveis em qualquer banca e o aplicativo fosse criado pensando na experiência do usuário. Mais simples ainda, se a empresa para qual fui contratado para prestar palestra não me obrigasse a postar no correio um documento que poderia ter sido digitalizado e enviado por e-mail – o que convenhamos, hoje é coisa simples de se fazer.

 

Não bastasse todo o transtorno, um toque de ironia nesta história: dentro do envelope – que eu ainda não remeti – uma declaração em papel timbrado e assinado de que minha empresa está incluída no “Regime Especial Unificado de Arrecadação de Tributos e Contribuições devidos pelas Microempresas e Empresas de Pequeno Porte” que costumamos chamar de Simples.

 

Simples assim.

#TôDeSacoCheio: o serviço poupa o tempo; o sistema, perde

 

Uma das tarefas que chegam com a idade é a renovação da carteira de motorista que tirei pela primeira vez três dias após completar 18 anos. Achei graça quando vi o ano de 2008 na validade e imaginei que esta data jamais chegaria para mim. Chegou e logo percebi que o prazo ficaria cada vez mais restrito. Agora, dura apenas cinco anos quando devo retornar aos órgãos públicos de trânsito, encarar a burocracia, pagar taxa, fazer exame de olhos e esperar o documento em casa. Foi o que fiz recentemente em um dos postos do Poupatempo, em São Paulo, o de Santo Amaro, na Zona Sul. Fiquei impressionado com a eficiência do serviço que, após agendar pela internet, não levou mais de uma hora. Fui atendido por gente simpática, tive todas as dúvidas tiradas, e até uma boa foto (na medida do possível) foi feita. O traço cômico foi com a oftalmologista de plantão que pediu para eu repetir as letras que apareciam em uma espécie de binóculo de mesa. “Que letra?”, perguntei enquanto um ponto de luz se aproximava do meu olho esquerdo.

 

O bom atendimento e a rapidez do serviço me motivaram a voltar ao Poupatempo para atualizar a carteira de identidade, documento que estava esquecido na gaveta e ainda estampando foto com cabelos longos dos tempos de guri, em Porto Alegre. Levei a mulher a tiracolo, pois estava mais do que na hora de incluir o nome de casada no RG dela. Agenda feita pela internet, documentos separados, fila encarada e nos deparamos com um problema comum na vida dos brasileiros: o sistema. Sim, o sistema do Banco do Brasil não estava funcionando e o pagamento de taxas e serviços de postagem não podiam ser feitos no local. Tivemos de percorrer as ruas próximas para encontrar agência bancária que aceitasse o pagamento. E lógico que lá havia fila, além de um programa pouco explicativo no caixa eletrônico para se perder tempo.

 

De volta ao Poupatempo, se seguiram a espera pela senha no painel eletrônico e o bom atendimento da funcionária que pegou os documentos necessários, preencheu relatório, pediu minha assinatura e completou o serviço com destreza. Eu apenas não estava pronto para o golpe final: meu Registro Geral do Rio Grande do Sul será substituído. Por muito menos fizemos uma revolução, pensei em voz baixa (e no Twitter). A partir de agora, vou carregar no RG número registrado em São Paulo. Ou seja, acabo de ser batizado paulistano pela burocracia brasileira que não é capaz de manter o mesmo número para o cidadão brasileiro, apesar de o registro ser feito em território nacional. Ou será que o Rio Grande do Sul já se separou e eu perdi a notícia na Zero Hora?

 

Antes de voltar para casa, ouvi na CBN que os problemas em equipamentos do Banco do Brasil estavam causando transtorno no atendimento dos postos do Detran. Cidadãos estavam desde de manhã a espera da retomada do serviço, sem sucesso. Eram vítimas, assim como fui, do sistema. Tô de Saco Cheio do sistema!