Conte Sua História de São Paulo 468: o canto do coração de meus amigos na cidade

José Pina

Ouvinte da CBN

Pina, de joelhos a esqueda da foto, no palco do teatro em foto divulgação


Vim do interior de Rondônia. Sonhava em estudar, trabalhar, ganhar um bom ordenado, ajudar a minha família e ser artista. Fiz uma amiga no Orkut, que me convidou para sonhar com ela, em São Paulo. Depois de três dias, desembarquei no Terminal do Tietê. A amiga que deveria estar me esperando, nunca apareceu. Eu, não tinha o que fazer, onde morar …


Passei a perambular pelas ruas. Atordoado pelo desespero e solidão, busquei ajuda na rodoviária. Encontrei um bom homem: Kemps, segurança do terminal. Me apontou direções, me ofereceu comida, me acolheu com generosidade. Encontrei uma boa mulher: Dona Cíntia, que fazia a limpeza dos banheiros. Me deixou tomar um banho: um reconforto para a alma, que estava 14 dias sem higiene corporal.


Comi jornal velho pra enganar a fome. Me fiz palhaço contando anedotas, me humilhei para sobreviver. Do jeito que dava, fui parar na favela. Fiz o próprio barraco. Fomos desapropriados e me juntei aos sem-teto para garantir o meu … Barracos, calçadas, cortiços, pensões, no chão. Dormi onde conseguia. Em cada canto, novos amigos. 


A rua me apresentou a realidade nua e crua, a educação pela pedra me transformou dono do meu destino. Criei resistência, fortaleci o espírito e me tornei solidário — aprendi com os amigos que me acolheram. Vivi quatro longos anos intensamente.


Trabalhei em trem. Vendi água, chiclete, chocolate, amendoim. Sempre fugindo dos guardas. Fui pego cinco vezes. Na última, quis desistir. Chorei no meio da plataforma. Outro amigo nasceu: Carlos Ferreira quis saber o motivo do meu choro. Disse que havia perdido tudo e não teria dinheiro para fazer o curso de teatro. Ele me emprestou um carrinho de pipoca. E novos amigos apareceram. 


Como pipoqueiro, conheci Juliana Teixeira, atriz e produtora, que ao saber do meu desejo, apostou no meu talento e financiou o primeiro curso de teatro.


Subi ao palco realizando meu sonho. No dia da estreia, soube da morte de meu pai pouco antes das cortinas se abrirem. Trôpego, sem o domínio do meu corpo, segui guiado por uma força invisível. No aplauso da plateia, ouvi a gargalhada de meu pai.


Sou artista, tenho um canal no Youtube, milhares de seguidores. Milhares de amigos. O coração de cada um deles é o melhor canto de São Paulo.


José Pina é personagem do Conte Sua História de São Paulo. A sonorização é do Cláudio Antonio. Nós estamos a espera da sua história na cidade. Escreva agora e envie para  contesuahistoria@cbn.com.br.  Todos os sábados, você ouve mais um capítulo da nossa cidade. Tem também no meu blog miltonjung.com.br e no podcast do Conte Sua História de São Paulo.

Kit para o apagão da Eletropaulo

 

Kit sobrevivência

A dificuldade da AES Eletropaulo de prestar serviço de qualidade em um momento de emergência na cidade, não tirou por completo o bom-humor do cidadão. O ouvinte-internauta Rafael Castellar Neves sugeriu incluir no kit de sobrevivência do paulistano um rádio e um lampião – foi assim que ele se virou para enfrentar os dois dias de escuridão na casa em que vive.

Uma atitude mais digna da Agência Nacional de Energia Elétrica cobrando providências da Eletropaulo, a punição da concessionária incapaz de atender a demanda neste período de chuva forte e investimentos no sistema energético de São Paulo pelo Governo do Estado também ajudariam.