Dinamarca, voto e ajuda social: a verdade que ninguém te conta!

Trabalho com a ‘caverna do diabo’ aberta à minha frente. Enquanto converso com os ouvintes pelo microfone, na tela do meu computador, centenas de mensagens são despejadas pelo WhatsApp. Entre uma entrevista e outra, chegam informações de todo tipo: agradecimentos, críticas e sugestões de pauta, tanto quanto ofensas pessoais, denúncias infundadas e as correntes que prometem revelar “a verdade escondida” sobre algum assunto.

O que me chama a atenção não é o volume de mensagens — que já faz parte da rotina —, mas a confiança com que muitas delas são enviadas. Ouvintes, pessoas que nos acompanham há anos, repassam informações falsas com a mesma segurança de quem anuncia a previsão do tempo: “Vai chover amanhã, pode se preparar.”

Outro dia, recebi uma mensagem afirmando que, na Dinamarca, toda pessoa que recebe ajuda social perde o direito de votar. O texto ainda sugeria: “Compartilhe se quiser que o Brasil faça o mesmo!” Essas mensagens não apenas espalham desinformação. Elas revelam preconceitos guardados: a ideia de que quem precisa de auxílio social não saberia votar com autonomia ou de que os problemas do país se resumem a um “voto comprado”.

A realidade é que, na Dinamarca, quem recebe assistência do governo não só pode votar como participa ativamente da vida democrática. O país investe em proteção social justamente para garantir dignidade e participação de todos.

Mas por que tantas pessoas continuam acreditando nessas histórias?

Uma das razões é o viés de confirmação. Quando alguém já acredita que programas sociais servem para manipular votos, qualquer mensagem que alimente essa visão será rapidamente aceita. É como se cada um de nós tivesse um filtro invisível que escolhe o que confirmar e o que descartar, conforme nossa conveniência.

Outro ponto é o formato: textos curtos, diretos, carregados de emoção e indignação. Ao provocar raiva ou medo, aumentam a chance de serem repassados antes mesmo de qualquer reflexão.

Há também o recurso de citar países tidos como exemplares — caso da Dinamarca ou da Suécia — para dar um ar de credibilidade. Quem vai verificar se isso realmente ocorre? Quase ninguém. Talvez um jornalista.

Para conter o avanço dessas mentiras, temos três ações à nossa disposição:

Desconfiar. Antes de encaminhar qualquer mensagem, vale perguntar: quem escreveu? Existe alguma fonte oficial? A informação aparece em veículos de imprensa reconhecidos? Ah, você não confia na “grande mídia”? Quem sabe, então, pesquisar nas milhares de fontes disponíveis na internet?

Conversar. Em vez de ironizar quem compartilha, é mais eficaz explicar, com calma, onde está o erro e mostrar a informação correta. Ou seja, despender um tempo do seu dia para ajudar na disseminação da verdade.

Apoiar projetos de checagem. Hoje, várias iniciativas se dedicam a verificar fatos e disponibilizam o resultado gratuitamente.

Receber mensagens faz parte do meu trabalho — muitas nos pautam, e tantas outras nos levam a refletir sobre como estamos praticando o jornalismo. Corrigi-las, também. Mais do que desmentir boatos, é preciso convidar o público a cultivar a curiosidade, questionar, buscar outras fontes. Neste cenário em que a verdade disputa espaço com versões fabricadas, cada um de nós se torna guardião da boa informação.

Em tempo: Sim, o título deste texto foi escrito no melhor estilo “corrente de WhatsApp” — daqueles que gritam para chamar sua atenção. Afinal, se funciona para espalhar boatos, por que não usar para espalhar a verdade?

Mundo Corporativo: Vinícius Mendes, da Besouro, prega a transformação social por meio do empreendedorismo

Vinicius Mendes em foto de Priscila Gubiotti

“Não bastava trabalhar, não bastava ter boa vontade de correr e ter uma boa ideia; e, sim, também, de educação.”

Vinícius Mendes, Besouro de Fomento Social

Imagine começar um negócio do zero antes mesmo de ter uma ideia do que você pode oferecer ou criar. Esse é o desafio que Vinícius Mendes lança às pessoas que vivem nas comunidades mais carentes do país, a partir do trabalho que realiza na Besouro de Fomento Social, empresa que reúne um instituto sem fins lucrativos e uma agência que busca o lucro, criada, em Porto Alegre, em 2009. No programa Mundo Corporativo da CBN, ele compartilha como transcendeu as dificuldades iniciais para impulsionar outros a empreender, revelando que o sucesso vai além da mera inovação ou esforço – é fundamentalmente ancorado na educação.

A educação como alicerce para o empreendedorismo

Vinícius Mendes enfatiza que, para realmente prosperar e transformar uma ideia em um empreendimento de sucesso, é essencial possuir não apenas a visão ou o ímpeto, mas uma sólida compreensão dos fundamentos de negócios e uma educação empreendedora.

“O empreendedor tem muita chance de dar certo, tem riscos, mas tem muita chance mais rápido de dar certo”. 

Ele ilustra essa perspectiva com sua trajetória, desde as primeiras experiências vendendo crepes na frente de escolas, passando pela criação de uma empresa de eventos, até a fundação da Besouro de Fomento Social. Sua história é um testemunho da transformação que a educação empreendedora pode engendrar, especialmente em comunidades vulneráveis.

O empreendedorismo como vetor de transformação social

A atuação da Besouro no campo da educação empreendedora visa, sobretudo, capacitar indivíduos em situação de vulnerabilidade social, oferecendo-lhes as ferramentas necessárias para identificar oportunidades de mercado e transformá-las em negócios sustentáveis. A pesquisa realizada por Mendes, tanto na Rocinha quanto em favelas da Argentina, revelou que o conhecimento específico em gestão de negócios e estratégias de mercado é crucial para o sucesso empreendedor, mesmo (ou especialmente) em contextos de recursos limitados.

“Não tenho dúvida de que o empreendedorismo já faz a diferença no nosso país e fará ainda mais quando estas pessoas compreenderem o poder que têm delas serem empresárias e empreendedoras”. 

A Besouro de Fomento Social desenvolveu uma metodologia que considera as particularidades de cada indivíduo e comunidade, focando na criação de oportunidades reais de negócios que podem gerar renda sustentável e, consequentemente, promover o desenvolvimento local.

A abordagem da Besouro, ao capacitar pessoas a partir de suas próprias casas e realidades, demonstra que o empreendedorismo pode ser um caminho viável para a autonomia financeira e o empoderamento. Vinícius reflete sobre o impacto dessa capacitação na vida das pessoas, destacando que a educação empreendedora não apenas alimenta sonhos, mas os torna tangíveis e realizáveis.

“O empreendedor tem muita chance de dar certo, tem riscos, mas tem muita chance mais rápido de dar certo. Quando a gente expõe isso para quem precisa o hiperfoco toma conta e a chance de dar certo é enorme”. 

Assista ao Mundo Corporativo

O Mundo Corporativo pode ser assistido, ao vivo, às quartas-feiras, 11 horas da manhã pelo canal da CBN no YouTube. O programa vai ao ar aos sábados, no Jornal da CBN e aos domingos, às 10 da noite, em horário alternativo. Você ouve, também, em podcast. Colaboram com o Mundo Corporativo: Carlos Grecco, Rafael Furugen, Débora Gonçalves, Priscila Gubiotti e Letícia Valente.

Sua Marca Vai Ser Um Sucesso: ESG, a nova fronteira da gestão de marcas

Fabricar produtos com menor impacto ambiental é estratégia ESG

“O ESG surgiu para ditar práticas empresariais, mas também é um bom balizador para pensarmos o que as marcas, inclusive as pequenas, podem fazer no dia a dia para criar novas dimensões de significado à sua percepção.”

Cecília Russo

Em um mundo em constante evolução, a gestão de marcas, ou branding, tem se mostrado uma ferramenta indispensável para empresas que buscam estabelecer uma relação duradoura com seus consumidores. No entanto, atualmente, não basta apenas entregar um bom produto ou serviço. As marcas precisam se mostrar engajadas e responsáveis. Nesse contexto, entra em cena o ESG (Environmental, Social, and Governance) como direcionador das ações corporativas e, por consequência, das estratégias de branding.

ESG, sigla em inglês, se refere ao meio ambiente (E), sociedade (S) e governança (G) das empresas. A sigla surgiu pela primeira vez em 2004, em um relatório da Organização das Nações Unidas (ONU) intitulado “Who Cares Wins” (“Ganha quem se importa”).

“O branding está contido nas atividades de marketing e, por sua vez, está contido na gestão das empresas como um todo. Então hoje, tudo se conecta com tudo.”

Cecília Russo

Referências para entender ESG na prática

Vivemos em um período em que os consumidores esperam mais das marcas do que apenas a entrega de um produto de qualidade. Eles desejam que as empresas tenham um papel social, uma preocupação ambiental e uma governança transparente e ética. As empresas que conseguem incorporar essas dimensões em sua marca encontram um caminho de conexão mais profundo com seu público.

A Rhodia, por exemplo, destaca-se com sua fibra chamada Amni Soul Eco, pois ela não solta microplásticos no oceano, evidenciando sua preocupação ambiental.

“Nós criamos para ela um posicionamento que diz o seguinte: mais tempo com você, menos tempo no planeta. Isso porque a fibra especificamente não solta microplásticos no oceano.”

Jaime Troiano

Outros dois exemplos que atuam no S, do social, investindo em educação no Brasil e impactando milhões de brasileiros são os bancos Itaú e Bradesco.

Como referência para pensarmos sobre a importância do G, temos o caso recente da Americanas que sofreu por falta de governança, de um gerenciamento cuidadoso e transparente.

“O resultado disso é a perda de confiança na marca, que se desvaloriza diante de todos.”

Jaime Troiano

ESG não é tapume

Como Cecília bem ressalta, o fundamental é que as marcas não apenas falem sobre suas iniciativas ESG, mas que elas façam de verdade. Afinal, como já aprendemos em ‘Sua Marca Vai Ser Um Sucesso’: “marca não é tapume”, é a face visível de uma empresa e de suas práticas.

Portanto, para empresas e marcas que buscam se destacar no mercado atual, não basta apenas uma boa gestão de produtos e serviços. É preciso olhar para o todo, para o impacto global de suas ações, e o ESG surge como uma bússola nessa jornada.

Ouça o Sua Marca Vai Ser Um Sucesso

O programa ‘Sua Marca Vai Ser Um Sucesso’ vai ao ar no Jornal da CBN aos sábados às 7h50 da manhã, com apresentação de Jaime Troiano e Cecília Russo. Para dar sugestões e fazer comentários sobre os temas abordados, envie email para marcasdesucesso@cbn.com.br.

Mundo Corporativo: “empresas sustentáveis, são mais rentáveis:”, diz Fabio Alperowitch, da Fama, pioneiro na agenda ESG

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“Muitas empresas acham que mudar o logotipo no mês de junho para um arco-íris ou se posicionar em relação a um ou outro tema, já seja o suficiente. Quando na verdade, a gente está longe disso. Então, vejo muito bons exemplos, sim; mas ainda muito circunscritos a determinadas empresas”.

Fabio Alperowitch, Fama Investimentos

O que sua empresa estava fazendo em 1993? Sustentabilidade já era assunto na roda de conversa da diretoria? As ações, produtos e serviços consideravam o impacto que causavam no meio-ambiente? Ok, ok! Você pode dizer que naquela época — se é que a sua empresa já existia —- ainda era “tudo mato” no que se refere ao tema da preservação, escassez de recursos e responsabilidade ambiental, social e corporativa. Não dá pra negar, porém, que muita gente já estava preocupada com o futuro do planeta.,

Para refrescar a sua memória, o país acabara de sair da Eco 92, a primeira  Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento, que reuniu 178 chefes de governo, uma quantidade incrível de estudiosos e curiosos, divulgou pesquisas e metodologias de preservação e teve uma cobertura jornalística internacional —- ou seja, todos nós havíamos sido alertados de forma contundente sobre o que se avizinhava, os perigos que estávamos causando ao planeta, a necessidade de revisão no modo de produção e os impactos na qualidade de vida (na nossa qualidade de vida). Quem teve ouvido e coração, entendeu o recado.

Fabio Alperowitch e mais 19 amigos, parece, foram sensibilizados por esse debate. Em 1993, com cada um colocando sobre a mesa US$ 500, formaram um fundo de investimento para ser gerenciado por ele e Mauricio Levi, que tinham acabado de fundar a Fama Investimentos. Quando os dois criaram a empresa, assinaram um compromisso com 10 mandamentos, dentre os quais, o de não investir em empresas que ferissem seus princípios.

“Eu acho que a gente precisa desconstruir a imagem de que o ESG seja algo novo. Os fundamentos e pilares do ESG já existem há muito tempo. A primeira vez que foi utilizada a palavra sustentabilidade, e de uma maneira formal, foi no século XVIII, mas o mundo corporativo e o mercado financeiros tiveram muito distantes dessa pauta até muito pouco tempo”.

Na entrevista ao programa Mundo Corporativo ESG, Fabio Alperowitch revelou uma certa ambiguidade de sentimentos diante do assunto da governança ambiental, social e corporativa. Assim como revela entusiasmo pela trabalho que desenvolve — até hoje, se mantém à frente da Fama, fiel a seus princípios e promotor da causa —, também se faz reticente quanto ao envolvimento das empresas no assunto:

“No Brasil, ainda predomina uma dicotomia falaciosa de que empresas e investidores entendem que existem dois caminhos antagônicos, no sentido de, ou você é responsável ou você é rentável — o que não é verdadeiro. É exatamente o contrário: as empresas mais rentáveis, também são as mais responsáveis. Então, o caminho da responsabilidade traz também rentabilidade”.

Não dá para negar que o envolvimento das empresas na agenda ESG —- pelo amor ou pela dor — aumentou. Os números da Fama mostram isso: hoje R$ 2,8 bilhões estão sob gestão num fundo de ações, em que apenas empresas que passam pela rigidez dos critérios de governança são aceitas. Ainda é pouco e a maioria do aporte financeiro que está no fundo vem do exterior, de investidores que confiam na seleção de ativos feita pelos gestores. A despeito desse interesse, nem sempre genuíno, Alperowitch lamenta a pouca evolução alcançada:

“Os grandes indicadores ambientais e sociais, apesar de tudo que a gente tem ouvido sobre ESG, não estão melhorando … e os poucos que melhoram são a passos bastante tímidos. O mundo não está emitindo menos gases de efeito estufa; a diversidade está melhorando de forma muito periférica; a gente não está reduzindo a desigualdade social;  não está melhorando o nível de acidentes do trabalho”

Aos que ainda não perceberam que o mundo mudou e as exigências e necessidades são outras —- sendo a gestão sustentável em todas as suas dimensões o único caminho viável —-, Alperowitch alerta para a transformação que está por vir com a chegada da Geração Z no mercado de consumo. Há tendência de uma redução e uma revisão na maneira de consumir, com compras sendo feitas baseadas nos valores que pautam esses jovens:

“Ela (Geração Z) não vai comprar produtos de empresas que estejam na cadeia do desmatamento ou que, na sua cadeia de suprimentos, tenham empresas que violam direitos humanos, como trabalho análogo à escravidão ou trabalho infantil; ou que façam testes em animais e, assim, excessivamente; ou que sejam de combustíveis fósseis”. 

Ao não olhar de maneira estratégica e de longo prazo, as empresas também perderão em engajamento e produtividade, diz Alperowitch. Colaboradores de talento serão desperdiçados, porque não estão interessados apenas no salário que cai na conta. Querem saber se a empresa é antirracista, se combate a homofobia, se investe na diversidade e se está lutando contra os efeitos da mudança climática. Para ilustrar essa verdade, recomenda-se que se olhe com carinho para estudo desenvolvido por  Robert Eccler, ex-professor da Universidade de Harvard, que aos 70 anos é uma referência mundial no tema. Ao analisar por 18 anos, 180 empresas de 90 subsetores da economia, nos Estados Unidos, a conclusão foi de que as empresas sustentáveis tiveram performance muito melhor do que as outras:

“Esse estudo foi feito entre 1993 e 2009 quando não se falava em ESG, não se precificava as externalidades, por exemplo as empresas não tinham que pagar a taxa de carbono, a Geração Z ainda não existia e etc. Então, eventualmente se a gente repetir esse mesmo estudo daqui pra frente, eu imagino que o resultado seja ainda mais favorável para as empresas responsáveis”.

Antes de você assistir ao vídeo com a entrevista completa do Fabio Alperowitch, no Mundo Corporativo ESG: você lembra onde estava sua empresa em 1993? Eu, já estava por aqui, em São Paulo; trabalhava na TV Cultura e, por curiosidade, a pauta da sustentabilidade era frequente em especial pelo trabalho do conceito de jornalismo público que desenvolvíamos na redação. E, sim, naquela época não falávamos de ESG ainda.

O Mundo Corporativo pode ser assistido, ao vivo, às quartas, 11 horas da manhã, no canal da CBN no Youtube, no Facebook e no site da CBN. Colaboram com o programa: Renato Barcellos, Bruno Teixeira, Débora Gonçalves e Vinícius Passarelli.

Mundo Corporativo: em estratégia ESG, Heineken proporciona conta de luz mais barata ao consumidor, explica Mauro Homem

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“Sustentabilidade não é sobre o seu tamanho ou sobre sua capacidade de investimento; é muito mais sobre a sua intenção e o quanto o genuíno você está indo nessa direção”

Mauro Homem, Heineken

As empresas têm percebido que não alcançarão o sucesso que esperam sem terem relevância significativa nas áreas ambiental, social e de governança. A despeito de seu tamanho ou finalidade, cada uma cria sua própria estratégia para expressar esse compromisso, adaptando-a a seus processos de produção e ao segmento que representa. A Heineken, segunda maior cervejaria do mundo, por exemplo, definiu três  blocos de atuação e, um deles, está diretamente ligado ao impacto que os produtos que leva ao mercado tem na saúde do consumidor. Assim, está entre suas prioridades desenvolver campanhas pelo consumo equilibrado e responsável de álcool. 

Na estreia da série Mundo Corporativo ESG —- em que destacaremos nos próximos meses ações em favor da governança ambiental, social e corporativa —, Mauro Homem, vice-presidente de sustentabilidade e assuntos corporativos da Heineken, explicou como o tema evoluiu ao longo dos anos dentro da empresa, deixando de focar apenas nas questões ambientais:

“A gente sabe que uma empresa que produz cerveja naturalmente tem que lidar com questões relacionadas ao consumo de álcool. Isso é uma grande preocupação; e a Heineken é vanguardista nessas discussões de consumo equilibrado. Ainda mais agora, desde o advento da Heineken 0.0 e do portfólio  de menor teor alcoólico, também”.

Na área social, o foco está na diversidade e inclusão com incentivo para a maior participação de mulheres e negros, em especial em postos de liderança. Além das quatro paredes, a Heineken também age no sentido de atender pessoas em situação de vulnerabilidade, através do Instituto Heineken Brasil. São três os públicos atendidos: os ambulantes. os catadores de material reciclável e os jovens.

“No caso dos jovens em posição de vulnerabilidade, temos dois grandes olhares: o primeiro, é a relação saudável e equilibrada com o álcool, para que esse jovem não vá para o consumo nocivo; e o segundo é a geração de empregos”.

Do ponto de vista ambiental, que faz parte do tripé estratégico da cervejaria, o impacto começa dentro da própria empresa, com implantação de sistemas mais eficientes de gestão hídrica, por exemplo. Em outro programa que se iniciou com bares e restaurantes e agora se estende ao cliente final, a Heineken criou uma plataforma que conecta geradores de energia limpa e os consumidores, oferecendo energia mais barata. Isso mesmo que você leu: ao se cadastrar no programa, além de consumir energia renovável, o custo da sua conta de luz vai diminuir. 

Mauro explica que a geração distribuída é mais eficiente por ter menos perda técnica, e uma incidência de impostos diferenciada, podendo gerar redução de 15 a 20% no valor da  conta de luz para os consumidores. O cadastro, de graça, deve ser feito no site Heineken Energia Verde. Infelizmente, nem todas as concessionárias de energia elétrica permitem essa substituição por fontes renováveis. Mas, já podem se beneficiar do programa, os moradores dos estados de Minas Gerais, Goiás, Paraná, Santa Catarina, algumas cidades do Rio Grande do Sul, Distrito Federal e São Paulo —- neste caso apenas nas cidades atendidas pela CPFL Paulista.

“O potencial é enorme. Nossa ambição e chegar em pelo menos 50% de todos os nossos bares e restaurantes, quase um milhão de pontos de venda no Brasil. E é um volume muito grande de clientes, também. Mas poderíamos chegar a pelo menos 50% até 2030”

A transformação que as empresas tiveram de encarar diante do conceito ESG — sigla de Environmental, Social and Governance (ambiental, social e governança) — provocou mudanças na forma de os profissionais atuarem, gerou novos desafios e abriu oportunidades. O próprio Mauro viu sua carreira ser influenciada por essa nova visão, quando a sustentabilidade deixou de ser apenas uma preocupação ambiental. Ele fez gestão ambiental na USP, em Piracicaba, interior de São Paulo  —- em lugar de seguir a trilha mais consolidada da engenharia ou direito, como imaginavam pessoas próximas. Buscou outras formações na área de administração e iniciou-se na carreira profissional, na Danone. Lá atuou pela primeira vez na área ambiental e, depois, foi cuidar de relações governamentais.

A sustentabilidade —- já com essa visão mais ampla em que o social e a governança se alinhavam às preocupações ambientais —- voltou à carreira de Mauro na Heineken, para onde se transferiu há quatro anos. Antes da vice-presidência que ocupa, atuou com a comunicação corporativa:

“Eu acho que os profissionais precisam buscar cada vez mais essa conexão com os problemas do mundo exterior e traduzir isso em oportunidades também por um ambiente corporativo. Então, acho que é nesse sentido que os profissionais têm tido cada vez mais oportunidades. É nisso que eu vejo as carreiras mais próximas na área de sustentabilidade, também”.

Assista ao primeiro episódio da série Mundo Corporativo ESG com Mauro Homem, vice-presidente de sustentabilidade e assuntos corporativos da Heineken:

O Mundo Corporativo ESG tem a colaboração de Renato Barcellos, Bruno Teixeira, Débora Gonçalves e Rafael Furugen.

Mundo Corporativo: entre gerar impacto e ganhar dinheiro, fique com os dois, recomenda Anne Wilians

Foto de Roberto Hund no Pexels

“O que ele busca é necessariamente um impacto na transformação das pessoas. Essa é uma das primeiras características do negócio social”

Anne Wilians, empreendedora social

A inteligência emocional pode ser aprendida e desenvolvida; e se assim o é, precisa ser exercida no cotidiano. A lógica que abre esse texto não é recente. Foi apresentada ainda nos anos 1990, pelo psicólogo e jornalista Daniel Goleman. Foi dele a provocação de que o QE fala mais alto do que o QI. Muito antes, ainda nos anos 1920, Edward L. Thorndike, já havia usado a expressão ‘inteligência social’ ou a capacidade de entender e motivar outras pessoas. Mas foi Goleman, quem popularizou o debate sobre o tema, em ‘Inteligência Emocional’, livro que vendeu aos borbotões mundo a fora. 

A partir dos pensamentos de Goleman, muitas pessoas se inspiraram a trabalhar a autoconsciência, a auto-motivação, a capacidade de nos relacionarmos, a empatia e a consciência social. A advogada e administradora Anne Wilians certamente está entre as seguidoras desse californiano, nascido em 1946, como se percebe no projeto que realiza no Instituto Nelson Wilians, apresentado como o ‘braço social’ de uma das principais bancas de advogados do Brasil, que tem à frente o marido dela:

“Eu tenho que ter uma consciência social, de entender onde que eu tô inserida. Quais são as dificuldades do meio que eu tô inserida. O que eu posso agregar nesse meio; o que eu não posso”.

Anne Wilians é autora do livro “Empreendedorismo Social Feminino”, publicado em versão digital, uma espécie de caixa de ferramenta para quem pretende montar seu negócio, considerando que o foco de um empreendimento de caráter social é o impacto no desenvolvimento das pessoas e da comunidade. Em entrevista ao Mundo Corporativo, Anne diz que o propósito desse negócio tem de ser a transformação que o empreendedor pretende provocar, e para que isso se torne permanente, o negócio social tem de ser sustentável e de longo prazo. O lucro não deve ser o impulsionador da ideia, o que não significa que deva ser desprezado — é o que pensa Anne, agora inspirada em outro projeto que há 15 anos incentiva a criação de negócios sociais, no Brasil:

“A Artemísia, que é uma das grandes mestres que trouxe o negócio social para Brasil, fala que entre gerar impacto e ganhar dinheiro, fique com os dois”. 

No Instituto, os programas oferecem conhecimento a homens e mulheres; enquanto no livro, Anne foca a necessidade de se abrir espaço para que elas  sejam as protagonistas do seu próprio negócio. Entende que, com a pandemia, o mercado está mais sensível para empreendimentos sociais, mas ainda existe uma discrepância de valores. Segundo Anne, 95% dos investimentos estão concentrados em projetos liderados por homens. 

“As mulheres são muito mais preparadas academicamente — a gente chega no nível de graduação, no nível de pós-graduação — mas ainda assim a insegurança não permite que a gente acesse alguns meios. Então, é preciso trabalhar com isso para que a gente consiga esse espaço”.

Trabalhar o conhecimento socioemocional de jovens até 29 anos — e aqui voltamos a Goleman — é um dos objetivos dos programas criados com parceiros de negócios, desde 2017, quando o instituto foi criado. Tempo suficiente para impactar cerca de 24 mil pessoas, nos cálculos de Anne. Ao longo desse tempo, a fundadora e diretora-presidente do INW, diz ter percebido que os jovens estão muito mais interessados na busca de soluções para os problemas que atingem suas comunidades e pensam de forma mais inclusiva:

“Eles estão muito mais sensibilizados. Você quando traz uma possibilidade de um negócio para um jovem, ele já, certamente, vai te oferecer uma solução social. Ele vai te trazer ideias e são ideias que têm transformação social incutidas nelas”

Assista à entrevista completa com a fundadora e CEO do Instituto Nelson Wilians, ao Mundo Corporativo.

Colaboraram com este capítulo do Mundo Corporativo: Renato Barcellos, Bruno Teixeira, Rafael Furugen e Priscila Gubiotti.

Mundo Corporativo: o impacto do voluntariado corporativo nas empresas e nas carreiras

 

 

“O programa de voluntariado corporativo pode ser visto como mais uma das opções de desenvolvimento das pessoas que está dentro do portfólio de treinamento e desenvolvimento que as organizações oferecem para seus colaboradores” — Marcelo Nonoay, MGN Consultoria

O voluntariado corporativo surge nas empresas ou por provocação dos próprios colaboradores que já realizam trabalhos neste sentido ou por iniciativa da empresa disposta a desenvolver uma visão de investimento social. O consultor Marcelo Nonoay, da MGN Consultoria, fala de estratégias para a implantação de projetos de voluntariado nas empresas e dos impactos gerados naqueles que participaram das atividades, em entrevista ao jornalista Mílton Jung, no Mundo Corporativo, da CBN.

“Fazer o trabalho voluntário é uma forma de desenvolver competências. Existem muitas pesquisas que comprovam isso. E quem já fez trabalho voluntário sabe que é. A pessoa não volta igual. Existe esta visão de investimento nos colaboradores. Então a empresa não faria um investimento como esse apenas por benevolência. Ela faz porquevê que isso traz retorno para ela. Inclusive no desenvolvimento das pessoas”.

O Mundo Corporativo pode ser assistido, ao vivo, às quartas-feiras, 11 horas, no Twitter da CBN (@CBNoficial) e na página da CBN no Facebook. O programa vai ao ar aos sábados, no Jornal da CBN; aos domingos, às 10 da noite, em horário alternativo; e a qualquer momento em podcast e no canal da CBN no You Tube. O programa tem a participação de Guilherme Dogo, Rafael Furugen,
Celso Santos, Adriano Bernardino e Bianca Vendramini.

Mundo Corporativo: Luciano Gurgel, da Yunus, mostra caminhos para viabilizar um empreendimento social

 

 

“O empreendimento … é um grande quebra cabeça. Então, você tem de ter lá uma inteligência jurídica, uma inteligência de marketing, uma inteligência financeira; e quando tudo isso para de pé, você tem um negócio. E a função da aceleração é exatamente isso: prover essas várias habilidades entorno do empreendedor para que o negócio dele possa prosperar” —- Luciano Gurgel, Yunus Negócios Sociais

O empreendedorismo social é aquela atividade econômica que visa impactar positivamente a sociedade e se diferencia de uma ONG, pois tem a necessidade de gerar receita e dar lucro. Hoje, é possível encontrar as mais diversas iniciativas com esse perfil que estão beneficiando milhares de pessoas pelo mundo. Aqui no Brasil, não é diferente. Tem-se desde empreendedores que realizam projetos no setor de moradia até os que se dedicam a melhorar a performance de estudantes de baixa renda nas provas de redação do Enem.

 

O programa Mundo Corporativo foi descobrir como é possível tornar viável um empreendimento social e entrevistou Luciano Gurgel, gestor da área de investimento da Yunus Negócios Sociais. A empresa tem inúmeros programas de apoio a esses empreendedores que podem receber mentoria, informações sobre planos de negócios, criar conexões com fornecedores, parceiros e clientes, além de receber investimento com baixas taxas de juros e prazos mais longos de pagamento:

“O empreendimento se dá dessas várias pecinhas. É um grande quebra cabeça. Então, você tem de ter lá uma inteligência jurídica, uma inteligência de marketing, uma inteligência financeira; e quando tudo isso para de pé, você tem um negócio. E a função da aceleração é exatamente isso: prover essas várias habilidades entorno do empreendedor para que o negócio dele possa prosperar”.

O Mundo Corporativo pode ser assistido ao vivo, às quartas-feiras, 11 horas da manhã, com transmissão pelo perfil @CBNOficial do Twitter ou na página da rádio no Facebook. O programa vai ao ar aos sábados, no Jornal da CBN. Colaboraram com o Mundo Corporativo Guilherme Dogo, Rafael Furugen, Débora Gonçalves e Izabela Ares.

Quintanares: Eu nada entendo da questão social

 

 

Poesia de Mário Quintana
Publicada em A Rua dos Cataventos
Narração de Milton Ferretti Jung

 

Eu nada entendo da questão social.
Eu faço parte dela, simplesmente…
E sei apenas do meu próprio mal,
Que não é bem o mal de toda a gente,

 

Nem é deste Planeta… Por sinal
Que o mundo se lhe mostra indiferente!
E o meu Anjo da Guarda, ele somente,
Équem lê os meus versos afinal…

 

E enquanto o mundo em torno se esbarronda,
Vivo regendo estranhas contradanças
No meu vago País de Trebizonda…

 

Entre os Loucos, os Mortos e as Crianças,
É lá que eu canto, numa eterna ronda,
Nossos comuns desejos e esperanças!…

Mundo Corporativo entrevista Guilherme de Almeida Prado sobre empreendedorismo social

 

 

Negócios sociais reúnem a intencionalidade de fazer o bem das ONGs com a meritocracia e a busca pelo lucro da empresa privada. De acordo com o administrador de empresas Guilherme de Almeida Prado este é um novo modelo que tem se apresentado com forte potencial nos últimos anos. Sobre as estratégias e oportunidades neste segmento, Prado foi entrevistado pelo jornalista Mílton Jung, no programa Mundo Corporativo, da rádio CBN. Ele é diretor da Konkero, um portal de finanças pessoais que trabalha dentro dos parâmetros de empresas sociais.

 

O Mundo Corporativo vai ao ar às quartas-feiras, 11 horas,no site da rádio CBN: CBN.com.br. Os ouvintes podem participar com e-mails para mundocorporativo@cbn.com.br e para os Twitters @jornaldacbn e @miltonjung (#MundoCorpCBN). O programa é reproduzido aos sábados, no Jornal da CBN, e tem a participação de Paulo Rodolfo, Carlos Mesquita e Ernesto Foschi.