Poesia à Sonia

 

Por Julio Tannus

 

Hoje, 25 de setembro, é dia do aniversário de Sonia, minha companheira de sempre. Em 28 de agosto último, completou 1 ano de seu falecimento. Permito-me aqui, prestar uma homenagem a ela, republicando uns versos que fiz. Em uma de tantas noites na vigília, eu escrevi:

 

A Sonia, minha queridíssima mulher e companheira, tem um espírito tão forte e livre – uma imensidão de liberdade – que, quando seu corpo ficou doente, ela repetidamente dizia “meu corpo me abandonou”. Após quase 9 anos de luta incessante, seu corpo a abandona, mas seu espírito paira sobre nós.

 

E na véspera de seu falecimento, ao pé de sua cama, eu também escrevi:

 

Uma Ode a Sonia amiga

Oh! Sonia querida. 

Hoje não tem alegria, só tristeza.

Você que alegrava meu silêncio com seu olhar;

Você que tirava minha solidão com sua presença;

Você que conquistava meu coração com sua coragem;

Você que carregava a tristeza de tantos com sua sabedoria; 

Você que iluminava a escuridão de todos com seu pensamento;

Você que diminuía a dor de muitos com sua generosidade;

Você perdeu seu corpo, mas ganhou o olhar de todos nós;

Oh! Sonia querida

Hoje não tem alegria, só tristeza…

 


Julio Tannus é consultor em Estudos e Pesquisa Aplicada e co-autor do livro “Teoria e Prática da Pesquisa Aplicada” (Editora Elsevier). Às terças-feiras, escreve no Blog do Mílton Jung

Paraty … quantas saudades você me traz !

 

Por Julio Tannus

 

 

É parte da letra de uma música que cantávamos há muitos anos, décadas de 40/50, quando acordados víamos o sol nascer por detrás do mar alto em Paraty.

 

Ainda menino, vivia entre a cidade e a roça, com avô por parte de mãe fazendeiro, grande produtor de cachaça – as famosas Branca do Peroca e Azulada do Peroca – e avô por parte de pai sírio-libanês, principal negociante da cidade.

 

E aí chegam as lembranças. A leitura, o cinema aos domingos, a maré cheia limpando toda a cidade, a pescaria na noite de lua cheia, a cata de caranguejos no mangue quando roncava trovoada. Y otras cositas más!

 

A Leitura – além dos clássicos, lembro-me de versos e histórias contadas. Um provérbio “Quem compra o que não precisa, vende o que precisa”. Um ditado “Raposa na governança, não há frango em segurança”. Ao pé do ouvido: “Quem caminha descalço não deve plantar espinhos”; “A primeira ilusão do homem foi a chupeta”; “Nossas mentes são como paraquedas, só funcionam bem quando abertos”; “Quem não leva tombo não aprende a andar”. Não é a toa que a Flip – Festa Literária Internacional de Paraty tem tudo a ver com a cidade.

 

O Cinema – era a janela para o mundo. Sempre aos domingos, assistíamos ao noticiário pós-Segunda Grande Guerra, além é claro do Zorro, E o Vento Levou, Branca de Neve e os Sete Anões. O seu Pedro, dono do cinema, ficava na porta de saída auscultando a pulsação dos presentes para encomendar filmes que agradassem aos gostos de todos.

 

A Maré Cheia – a sabedoria dos portugueses construiu a cidade de tal maneira que a maré alta cobria as ruas da cidade, lavando-as e levando toda a sujeira para alto mar. Até que um prefeito chegou a conclusão que “Paraty não é nenhuma Veneza”, e então construiu um dique de pedras para acabar com “essa coisa absurda”. A maré continua firme e forte, mas o dito prefeito conseguiu transformar a saudável praia da cidade em um lago de sujeira.

 

A Pescaria – saíamos de canoa tarde da noite de lua cheia para a pesca com anzol. Os peixes eram tantos que o simples toque do remo emitindo sons levava peixes para dentro da canoa. No arrastão de rede na Praia do Sono experimentava as delícias de uma massagem inigualável: deitado na proa da canoa carregada de peixes vivos até a borda.

 

Os Caranguejos – eram a fonte de dinheiro para compra de picolés, marias-moles, bolas de gude, gibis e outras guloseimas mais.

 

E hoje vejo Paraty com seu caráter nuclear ainda presente, intocável, fazendo parte dessa nossa pós-modernidade. Foi lá que encontrei minha companheira de sempre, e em sua homenagem escrevi esses versos:

 

Uma Ode a Sonia amiga

 

Oh! Sonia querida
Hoje não tem alegria, só tristeza.
Você que alegrava meu silencio com seu olhar;
Você que tirava minha solidão com sua presença;
Você que conquistava meu coração com sua coragem;
Você que carregava a tristeza de tantos com sua sabedoria;
Você que iluminava a escuridão de todos com seu pensamento;
Você que diminuía a dor de muitos com sua generosidade;
Você perdeu seu corpo, mas ganhou o olhar de todos nós;
Oh! Sonia querida
Hoje não tem alegria, só tristeza…

 

Julio Tannus é consultor em estudos e pesquisa aplicada, co-autor do livro “Teoria e Prática da Pesquisa Aplicada” (Editora Elsevier). Escreve às terças-feiras, no Blog do Mílton Jung