Código de defesa de usuário do serviço público: “um direito fundamental”

 

 

Por Cezar Miola
Conselheiro do TCE-RS

 

 

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No dia 17 (hoje), entra integralmente em vigor o chamado Código de Defesa do Usuário do Serviço Público (Lei nº 13.460/2017), que trata sobre a defesa e participação dos usuários do serviço público. Embora editada há quase dois anos, a norma teve sua vigência escalonada, começando por União, Estados e municípios com mais de 500 mil habitantes. Agora, será obrigatória para todos os entes locais brasileiros, inclusive aqueles com menos de 100 mil habitantes, até então desobrigados do cumprimento da lei justamente em razão dessa vigência gradativa. Para se ter dimensão do impacto desse marco, no Brasil, dos 5.570 municípios, 5.253 (94,3%) têm até 100 mil habitantes; no Rio Grande do Sul, são 478 (96,2%) dos 497. Em resumo, a lei prevê medidas visando à melhoria da qualidade dos serviços públicos.

O festejado Norberto Bobbio já disse que a administração pública deve estar “em público”. Para além da Lei de Acesso à Informação, o Brasil conta hoje com mais um grande canal para assegurar que isso se materialize. Do que se sabe, muitos municípios ainda não se adequaram, deixando de implementar instrumentos como a publicação da Carta de Serviços, a instalação de ouvidorias e dos conselhos de usuários, além de outras exigências.

Por isso, a importância de se colocar o assunto em evidência. Os Tribunais de Contas fiscalizarão o tema, mas o importante não é tratar apenas de punições pelo descumprimento da norma. O mais efetivo, e definitivo, é que os agentes públicos se conscientizem a respeito, concretizando uma norma que em tudo se conecta com o princípio republicano.

 

 

De fato, é necessário tirar a lei do campo das boas intenções e, com isso, construir uma relação verdadeiramente dialógica (e não imperial) entre o Estado e a sociedade. Mas se, de um lado, tem relevo a atuação estatal, é igualmente imprescindível a participação do cidadão, cabendo ao mesmo buscar informações e encaminhar demandas, com base nos instrumentos colocados à sua disposição. Esse é, senão o único, o melhor caminho para se obter um serviço público ágil, eficiente e efetivo.

Consulta Cidadã é exemplo para câmara de vereadores da sua cidade

Processos sobre órgãos e empresas do Estado, investigações das contas da prefeitura e mais um sem-número de dados estão à disposição do cidadão no Portal do Tribunal de Contas do Estado de São Paulo. Basta se cadastrar para que você passe a receber no seu e-mail informações atualizadas sobre o tema de seu interesse.

O “Consulta Cidadão” é ferramenta que permite maior controle social sobre a ação do Estado, segundo disse o chefe de gabinete da presidência do TCE-SP, Marcos Renato Bottcher, em entrevista ao CBN São Paulo.

Logo que comecei a conversa  me lembrei de reclamação que foi ao ar no programa no início do ano quando analisamos o trabalho da Câmara Municipal de São Paulo. Na oportunidade, Sônia Barboza da ONG Voto Consciente disse que é muito difícil levantar informações sobre projetos e processos no legislativo paulistano, pois é necessário requerimento que precisa passar pela autorização do presidente da casa, atualmente o vereador Antonio Carlos Rodrigues (PR-SP).

Um programa como o desenvolvido pelo TCE poderia resolver este problema e tornar as decisões e ações dos vereadores paulistanos, assim como das demais casas legislativas no País, mais transparentes.

A propósito,  o ouvinte-internauta Esper Leon se cadastrou no “Consulta Cidadão” interessado em receber informações sobre contratos da prefeitura de São Paulo. Tentativa frustrada. A capital paulista tem Tribunal de Contas próprio que não oferece ao cidadão o mesmo direito que o seu “irmão mais velho”: o TCE-SP.

A nova ferramenta do Tribunal de Contas do Estado de São Paulo passará a ser usada pelas entidades que integram a Rede A1M, projeto de combate à corrupção criado  pelo Instituto de Fiscalização e Controle (IFC) em parceria com a ONG Amigos Associados de Ribeirão Bonito (Amarribo). São mais de 88 organizações em todo o País que decidiram adotar um município e fiscalizar o gasto do dinheiro público.

A informação foi repassada a toda a rede após a notícia divulgada no CBN São Paulo.