O mocotó do Tito Tajes

 

Por Milton Ferretti Jung

 

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Tornou-se um hábito para mim ler o caderno Donna,que vem encartado aos domingos na Zero Hora,jornal gaúcho que assinamos aqui em casa. Ocorre que,como já revelei em textos anteriores deste blog,minha sobrinha Claudia Tajes,escritora de vários livros e,mais recentemente,roteirista da Globo,em sua coluna no Donna (ou seria na Donna?),volta e meia conta histórias sobre as famílias Tajes e Jung,mas separadamente. Desta vez,juntou a dela e a minha. Nesse domingo,o assunto foi “Almoço em família”. Lembrou,com riqueza de detalhes,os ágapes que o Tito,o seu pai,promovia em uma casa de veraneio e também de invernos gelados,que pertencera ao chefe do clã dos Jung – o seu Aldo,meu pai – localizada nas proximidades do Guaíba. A propósito,continuo defendendo a sua condição de rio e não,como querem teimosos e quejandos,lago.

 

A casinha de madeira foi a parte herança do meu pai que coube ao Tito e à Mirian,minha irmã e que se transformou em uma casa de alvenaria. Hoje,tenho saudade da casa antiga e dos nossos banhos diários nas águas do Guaíba,durante o verão,um rio com águas límpidas,no qual a gente entrava sem medo de se afogar,temor que me impede de enfrentar o mar. Foi essa casa que,reformada,transformou-se mais tarde no local das nossas comilanças dominicais,nas quais o Tito deixava por um dia de ser jornalista para se transformar em exímio cozinheiro. Tios e primos se reuniam,satisfeitos da vida,para saborear o variado cardápio,composto em um domingo por churrasco,no próximo por massa,feijoada ou comida árabe,como lembra a Claudia na seu texto.

 

Ah,havia o domingo do mocotó que,conforme a Claudinha,acontecia uma vez a cada inverno. Pelo jeito,nem todos apreciavam mocotó. A culpa era do odor que danado,enquanto ficava em ebulição,horss e horas,no fogão à lenha. Não recordo,mas a Claudia garante que o cheiro saía da panela e grudava (será que cheiro gruda?)nos cabelos e nas roupas dos convivas. Não sei se o Mílton,que é o âncora deste blog,tem em sua coleção de fotos a dos Jung e Tajes em um dos almoços dominicais que eu,particularmente,jamais vou esquecer. A Claudia bem que poderia parafrasear o seu texto desse domingo chamando-o de “Conte a sua historia de Porto Alegre”. Tenho certeza de que o Mílton o leria com grande prazer.

 

Nota do Blogueiro: fotos dos almoços de domingo não temos, mas apresentamos na ilustração deste post as imagens do cozinheiro, jornalista e meu tio Tito Tajes

 


Milton Ferretti Jung é jornalista, radialista e meu pai. Às quintas-feiras, escreve no Blog do Mílton Jung (o filho dele)

Conte Sua História de SP: o médico da Freguesia do Ó

 

Por Luís Augusto do Prado
Ouvinte-internauta

 

Ouça esta história que foi ao ar na CBN, sonorizada pelo Cláudio Antonio

 

A história de São Paulo que quero contar não é minha, e como dois dos personagens já são falecidos, o outro não conheço, fico à vontade e omito os nomes.

 

Aconteceu no início dos anos 1980.

 

O tio do meu pai era um homem dinâmico, nasceu em 1900, foi um dos fundadores do sindicato de sua categoria, andava muito a pé, morava na rua Itapeva, ia e voltava ao trabalho na Santa Cecília, às vezes ia em casa ou na da minha tia, ambas na Freguesia do Ó, sempre a pé. Recuperou-se de derrames com fisioterapia caseira, ele mesmo fez “instalações” para isso. Por isso sempre teve físico bom.

 

Uma noite, só com a esposa em casa, ele caiu no banheiro.  Como ela não tinha força para levantá-lo, não pensou duas vezes, foi à rua e pediu ajuda ao primeiro homem que passou. Esse, gentilmente, atendeu ao pedido, ajudou a colocar na cama, aguardou que ela fizesse curativos, conversou um pouco com eles e não esperou nem por um cafezinho.

 

No dia seguinte, toca a campainha. A tia foi ver quem era, não tinha a visão muito boa e não reconheceu a visita. Foi até o portão. Continuou não reconhecendo quem era. Então o homem perguntou pelo marido dela e se identificou dizendo que ele é quem tinha ajudado na véspera. Ela fez com que entrasse e logo o homem foi ver o Tio. Conversou com eles e se apresentou: era médico e acabara de fazer seu plantão no hospital Umberto Primo, que ficava próximo.  A tia questionou porque na noite anterior não se identificara e ajudou a fazer os curativos. O doutor respondeu que ela os fez muito bem e que viu que o Tio estava bem, batimento cardíaco, temperatura, bem orientado. 

 

Isso foi há 30 anos,

 

Já hoje…. é uma outra história.
 

 

Luís Augusto do Prado é personagem do Conte Sua História de São Paulo. A sonorização é do Cláudio Antonio. Conte você também mais um capítulo da nossa cidade. Escreva para milton@cbn.com.br. Ou agende uma entrevisa, em áudio e vídeo, no Museu da Pessoa. Para ouvir outras histórias de São Paulo vá no blog, o Blog do Mílton Jung