Mulher trabalhadora, homem ciumento

 

Por Dora Estevam
Tais e Marcos, Viver a Vida

É impressionante como ainda tem muito homem que não deixa a mulher trabalhar fora. As promessas são sempre as mesmas: fique em casa e eu te darei tudo.

A mulher que fica em casa se dedica aos filhos, casa e marido.Esquece que dentro dela tem um potencial que aos poucos se esconde, perde espaço. Sem trabalhar, sem pensar, sem se motivar; no mínimo o cérebro atrofia Depois de alguns anos – quando a vida a dois já está desgastada pela rotina – a mulher tenta se recolocar no mercado. O resultado você pode imaginar, enormes e várias dificuldades.

A menina, 22 anos, engravidou aos 17, resolveu quebrar a rotina, enfrentar o marido e procurar emprego. Encontrou: um mês depois, incomodado com as saídas da esposa, o marido exige que ela deixe o emprego. Sim, para ela trabalhar tem todo um ritual de beleza e arrumação que incomoda o sujeito.

A outra pula de casa em casa. De 40 em 40 dias está numa casa diferente porque o marido é quem sempre decide, a palavra é sempre dele: saia para cuidar das suas filhas.

Na Paraisópolis, comunidade popular de São Paulo, no Dia Internacional da Mulher, a porta da floricultura estava cheia de homens. A florista ficou na expectativa de boas vendas, mas, nada aconteceu. Eram somente maridos falando mal das mulheres, relata uma moradora.

São empregadas domésticas, babás, faxineiras, vendedoras….

Todos estes casos são de pessoas, de mulheres que moram na Paraisópolis e segunda-feira passada não tiveram o que comemorar.

Do outro lado do universo – o lado fantasioso – também existe um machista que não aceita a condição da mulher exercer a profissão dela. Eu falo do personagem Marcos, que tem José Mayer como protagonista, da novela “Viver a Vida”, da Rede Globo. Helena, a modelo, esposa, [mega-über] famosa fica entre o casamento e a profissão.

O empresário Marcos é o tipo que dá tudo pra mulher, do luxo ao glamour. Mas impede a moça de exibir a liberdade que conquistou há anos, com muita luta.

O que explica este comportamento? Que machismo é esse que acontece em todas as camadas sociais?

Sabemos que com a revolução sexual a mulher deixou de ser Amélia e conquistou o mercado de trabalho. Há mulheres com altos cargos nas empresas, mulheres que ganham uma fortuna, que dirigem grandes corporações. Há um mercado todo voltado para elas. Sem dúvida, enfrentaram e enfrentam um longo caminho para a conquista da dignidade pessoal, social e profissional.

A mulher é capaz de dar conta do recado, sim, cuida da casa, dos filhos, do marido, do trabalho, e ainda sobra tempo para se cuidar, se tratar – esteticamente falando. Sem contar as muitas que estudam sem parar, mestrado, doutorado, o que exige muito tempo de leitura.

Nada contra as que preferem ficar em casa, nada contra as que optaram por exercer as tarefas domésticas. Sei que esta opção exige muito trabalho delas, além da conta, muitas vezes.

Falo é dos homens ciumentos que impedem o crescimento profissional e intelectual da mulher, que exigem que ela fique em casa por puro machismo.

O Dia Internacional da Mulher foi criado para lembrar a morte de mulheres que, em frente a uma fábrica em Nova York, lutaram pela redução da carga de trabalho para dez horas, equiparação de salários com os homens e tratamento digno no ambiente de trabalho.

Foi-se o tempo em que as mulheres eram criadas para procriar e embelezar o marido. No século 19, as mulheres eram consideradas probleminha para a sociedade; hoje, o probleminha pode ser você, homem ciumento.

Dora Estevam é jornalista e escreve no Blog do Mílton Jung aos sábados sobre moda e estilo de vida

Velhice abandonada, carrinho quebrado

 

Carroceiro com carrinho quebrado

Por Devanir Amâncio
ONG EducaSP

Para o carroceiro Francisco Inácio do Santos, a quarta- feira, 13/1/010, foi um dia de muito trabalho e reflexão. Seria apenas mais um dia de busca de materiais recicláveis, se a sua carroça não tivesse perdido a direção e quebrado na descida da rua do Ouvidor, Praça da Bandeira, com 250 quilos de papelão. Para consertá-la, contou com a solidariedade de algumas pessoas.

Francisco falou um pouco de seu trabalho: “Quando a tarde vai chegando, o cansaço é tremendo. Sinto uma enorme fraqueza nas pernas. Há horas que dá vontade de desistir e largar tudo. Não posso fraquejar. O que mantém um homem de pé é a disposição pelo trabalho, a fé num ser superior. De que tenho medo? Olha, a rua é brutal. Tenho medo de gente pessimista, ignorante… Medo de morrer puxando carroça. É muito peso. Estou a caminho dos 70. Não, não sou o único velho, tem gente mais velha do que eu no varal de uma carroça. É preciso garra! Nem todo mundo aguenta, pensa assim… A velhice não me assusta. O que me assusta é a velhice acomodada, maltratada, esquecida, abandonada. Não, não me sinto velho abandonado. As pessoas são diferentes. Tenho um projeto… Alguém sabe quantos velhinhos de rua tem a cidade? Muitos estão doentes, morrendo à míngua debaixo dos viadutos. Eu estou trabalhando. A cidade está entupida de moradores de rua. Uma hora tudo isso explode¨.

Francisco está cuidando de sua aposentadoria e sonha com a paz das praias de João Pessoa, Paraíba, a sua terra.

Carta a uma amiga

 

Por Abigail Costa

Hoje, sei que quando chegar ao trabalho não ouvirei aquela voz marcante gritando pelos corredores para mim: gataaaaaaa!!!! Sei que enquanto estiver driblando o trânsito e o calor, você estará longe dessa loucura. Aproveite esse tempo para ser mais feliz. Para ficar ainda mais bonita (se é que isso é possível).

Passe mais tempo na academia. Vá mais vezes à loja da sua amiga. E entenda, nem é pra comprar. Vá, admire os anéis, os colares. Tá bom, se gostar, compre, se dê de presente, mais um ou vários.

Passe um protetor solar e vá curtir o sol! Aproveite, sem a preocupação de borrar a maquiagem.
Por um tempo, livre-se das escovas e chapinhas diárias. Dê um sossego para os cabelos. Deixe sua pele respirar.

Longe da luz e do calor, preseve seu rimel, seu blush, seu batom. Eles não vão demorar pra encher sua necessaire outra vez.

Nesse tempo, apareça de surpresa no trabalho dele e ofereça um almoço.

Ele só tem 15 minutos? Que tal um suco?

O importante é ter você como companhia.

Não se preocupe, a gente vai se encontrar sempre. Se quiser, pode ser na minha casa neste fim de semana. Na próxima, num restaurante. Ou melhor, quero lhe ver hoje para desejar, pessoalmente, toda a sorte do mundo.

Beijos!

Abigail Costa é jornalista e às quintas-feiras está no Blog do Mílton Jung. Hoje, escreve especialmente para alguém que você não reconhece. Mas pode ser uma amiga sua ou, quem sabe, você mesma.

De volta

 

Por Abigail Costa

Agora é quase fim de semana. Não tenho do que reclamar.

Trabalho concluído e…. mesa de um boteco. Situação com a qual, quem me conhece sabe, não sou muito chegada, mas estou de mudança. Gostando do que ontem nem ousaria em pensar.

Pois bem, aperitivos e cerveja. Cerveja? Mas não engorda? Entre um gole e outro, engulo o que tanto disse a respeito desta bebida.

Ao meu lado um colega de trabalho. Um cara de 20 e poucos anos, com cabeça de gente grande. Bom de papo, ótimo profissional e a quem, daqui a pouco, terei o prazer de chamar de amigo. Na minha frente meu camarada (é assim que ele me chama). Naná foi uma grande surpresa na minha vida que chegou quando eu tinha só 22 anos e aprendendo a conhecer o jornalismo. Fomos apresentados, trabalhamos juntos, viajamos e enquanto ele ficou na empresa, eu decidi por outra.

Vinte e poucos anos depois, trocamos juntos de empresa. Ele lá e eu do outro lado, acabamos nos reencontrando. Naná mais velho, como eu. Ele absolutamente terra, eu, a eterna Alice no País das Maravilhas.

Novas surpresas, novos descobrimentos. Ele, não mais assistente, agora um baita repórter cinematográfico. Eu, repórter desde de sempre.

Dentre os 20 e poucos profissionais da “firma”, ele é o meu preferido. Não pense você que é só porque ele acerta o foco. Ele é diferente. Diferente no jeito de ser, diferente na maneira de pensar. Diferente porque ele é amigo. Daqueles que entendem o universo femino, desde a TPM, até escolher a camiseta pisicodélica para o meu filho usar numa feira da escola.

Estamos quase para encerrar o expediente, e Naná me pergunta:

– Onde estão os seus textos?
– Dei um tempo….
– Eu procurei por eles….

Decidi retomá-los….

Assim, pra dizer que coisa boa é ter alguém pra chamar de meu. MEU AMIGO. Daqueles de amor declarado. Porque ele é terra, mas tem sentimento.

Abigail Costa é jornalista e volta a escrever às quintas-feiras no Blog do Mílton Jung

Marx e a fotografia do IBGE

 

Idosos no centro de Campinas, da galeria de Sra Mozart no Flickr

Idosos no centro de Campinas, da galeria de Sra Mozart no Flickr

 

Por Carlos Magno Gibrail

O retrato do Brasil tirado pelo IBGE cortou um dos personagens da foto. Apareceu o Trabalho e faltou o Capital. Marx não deve ter gostado nada disso.

Na verdade nem Eduardo Pereira Nunes, pois o IBGE investigou 391.868 pessoas em 150.591 domicílios por todo o país a respeito de sete temas: dados gerais da população, migração, educação, trabalho, família, domicílios e rendimento. Quantidade para ninguém botar defeito.

Entretanto a interpretação da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios do IBGE 2009 tem tido as mais diversas e contraditórias conclusões.

Portanto, os números tais quais as palavras, podem ser mal entendidos ou até mesmo ignorados.

Lucianne Carneiro de O GLOBO: Queda forte no desemprego, com a menor taxa em 12 anos e avanço na qualidade das vagas , ainda que acompanhada de um recuo pequeno na desigualdade no trabalho. Uma taxa de analfabetismo sem grandes mudanças e que ainda atinge 10% da população, ou 14,2 milhões de pessoas. Mais acesso a bens e à infraestrutura, inclusive à internet em casa. E uma população que continua envelhecendo. O estudo realizado é o mais amplo levantamento feito sobre temas como população, educação, trabalho, habitação e acesso a infraestrutura e bens no Brasil”.

Zero Hora, mantendo o regionalismo característico: “Os computadores e a telefonia celular estão entrando com velocidade de banda larga nos lares gaúchos e brasileiros. Em apenas cinco anos, mais do que dobrou a proporção de domicílios com micros, e o acesso à internet e telefone móvel no Estado e no país. Somente entre 2007 a 2008, 130 mil novas residências gaúchas ficaram online. No total, o Estado tinha no ano passado 904 mil residências conectadas à rede mundial de computadores – 500 mil a mais do que em 2003. Isso significa que um em cada quatro lares riograndenses abrigava um computador com acesso à internet. No Brasil, 18 milhões de casas contavam com um PC, 13,7 milhões dos quais navegavam pela web”.

Paulo Henrique Amorim comemorou: “O emprego subiu 2,8% de 2007 para 2008.. Quem puxa é a construção civil, que cresceu14% em um ano e criou 900 mil novos postos de trabalho. O crescimento do número de trabalhadores com carteira assinada, em um ano, foi de 33%.. Aumentou o contingente de trabalhadores com 11 anos ou mais de de estudos. Aumentou o número de domicílios ligados à rede de esgotos. O crescimento do acesso à internet é espantoso foi de 20% EM UM ANO ! O rendimento real do trabalho subiu 1.7%.. O coeficiente de Gini, que mede a desigualdade de renda, melhorou: passou de  0,57 em 2001 (governo FHC) para 0,52 em 2008. O rendimento real do trabalho subiu 1.7%. 97,5% das crianças entre 6 e 14 anos estão na escola.. A maioria dos brasileiros se considera ou negra ou parda. A elite branca de olhos azuis – e separatistas, no caso de São Paulo vai ficar nervosa .Ou seja, a política social do Governo Lula é um sucesso. O Jornal Nacional não conseguiu esconder isso. Limitou-se a encerrar uma segunda reportagem com um casal de desempregados (quando o aumento do emprego foi significativo). Ou seja, bye-bye Serra 2010″.

“Desigualdade cai; renda e emprego avançam”, Antonio Góis da Folha.

“Desníveis regionais marcam pesquisa”, João Sabóia da Folha.

“3,8 milhões deixam pobreza com alta do emprego”, Folha sucursal do Rio.

Mas, Clovis Rossi na mesma Folha, adverte “A mídia compra acriticamente a lenda da queda da desigualdade, o que é uma versão incompleta da realidade”. E insere João Sicsú, economista do IPEA: “O GINI mede a diferença entre as rendas que remuneram o trabalho, portanto, não leva em conta as rendas do capital, juros e lucro”. Passa a palavra ao presidente do IPEA , Marcos Pochmann: “A parte da renda do conjunto dos verdadeiramente ricos afasta-se cada vez mais da condição do trabalho, para aliar-se a outras modalidades de renda, como aquelas provenientes da posse da propriedade (terra,ações,títulos financeiros, entre outros)”.

Marx deve ter gostado disso, mas a foto ficou mesmo sem a parte do Capital. Ano que vem talvez não esqueçam o ilustre esquecido.


Carlos Magno Gibrail é doutor em marketing de moda e escreve às quartas no Blog do Milton Jung

Dezoito anos depois

Por Abigail Costa

Depois de dezoito anos de empresa, o chefe chama o funcionário e diz:

– Você não tem o perfil da empresa.

Esta frase normalmente vem acompanhada:

– “Você está demitido”!

E fim. Para a empresa o problema está resolvido. Para o ex-empregado o problema começa aí.

Em conversas com diretores de recursos humanos, o “fora do perfil” significa que a pessoa não evoluiu, não acompanhou o crescimento da empresa.

De acordo com esses profissionais do RH também pode ser uma redução de custos.

Sai um velho de casa e de idade que ganha X+Y e entra em seu lugar um novo de profissão e alguns bons anos a menos ganhando – Y.

Seja lá qual tenha sido o motivo é justo que a empresa faça a troca quando achar necessária.

O injusto é não cobrar o funcionário durante anos, é não incentivá-lo a uma reciclagem, é não traçar um plano de carreira.

Claro que qualquer um, demitido depois de tantos anos de serviços prestados a empresa,  tem o direito de pensar que até ontem ele era produtivo, hoje não mais. E ainda, por que ninguém nunca reclamou antes ?

Sinceramente na maioria dos casos penso que o diretor, chefe, seja lá quem esteja mandando, esses, deveriam mudar a frase que tem sido usada como uma muleta.

É humilhante quando alguém conta que foi dispensado assim. É uma sensação de pensar que tudo que foi feito estava errado.

Longe da ingenuidade em achar que a empresa deve funcionar como casas de assistência social. Não é isso.

Mais doloroso que o motivo para cortar as relações trabalhistas entre patrão e empregado depois de dezoito anos de convivência, é a mentira.

A verdade é mais humana.

Abigail Costa é jornalista, escreve no Blog do Mílton Jung às quintas e já sobreviveu a um sem número de chefes, diretores e departamentos de RH

De Marx ao BNDES a chance de socializar o capitalismo

Por Carlos Magno Gibrail

Karl Marx (1813-1883)Do Capital de Marx, que denunciava a “mais valia” –   a posse do capital ou dos bens de capital que possibilita usufruir do rendimento do trabalho alheio –  até hoje, fica ainda a procura por um sistema que produza riqueza e a distribua.

É o que se propõe o BNDES: “A missão do BNDES é promover o desenvolvimento sustentável e competitivo da economia brasileira, com geração de emprego e redução das desigualdades sociais e regionais”

Com 216 bilhões em carteira, com 40% do FAT (Fundo de Amparo ao Trabalhador) que corresponde a 100 bilhões de reais em estoque e 204 mil operações em 2008 parece que tem força para encarar o desafio proposto em sua Missão.

Isto sem falar que com os 92,2 bilhões de reais em desembolso é o dobro do BID e do BIRD juntos. Sim, Banco Interamericano de Desenvolvimento e Banco Mundial, que tanto espaço ocupam  diariamente na mídia econômica internacional, somados, são a metade do BNDES.

Mas o recém formado, o empreendedor nato, o comerciante a espera de pequeno capital para abrir uma lojinha, ou comprar uma pedra no CEAGESP, ou ainda uma barraca de feira, provavelmente nunca ouviram falar do dinheiro do BNDES. Ou, quem sabe, um executivo recém desempregado a procura de capital para adquirir uma franquia com segurança, talvez mais próximo ao mercado financeiro, já tenha conhecimento das possibilidades oferecidas.

Elas existem, embora não tão fáceis e nem tão atraentes como ao dinheiro oferecido ao grande capital, mas ainda assim é o recurso mais barato para estas pessoas físicas e micro, pequenas e médias empresas.

Embora das 204 mil operações 175 mil fossem dirigidas para as pessoas físicas e micro, pequenas e médias empresas, o Cartão BNDES tenha atingido o expressivo número crescente de 100 mil,  o seu prazo de pagamento estendido de 36 para 48 meses, o seu teto aumentado de 250 mil reais para 500 mil reais e juros de 1% ao mês, 76% dos recursos desembolsados foram para o grande capital e 24% para o pequeno.

O Banco do Brasil, a Caixa e o Bradesco, operadores para os financiamentos abaixo de 10 milhões, ficam responsáveis pelas garantias e se remuneram com parte do 1%. Portanto seus produtos são mais lucrativos que este. E administram como tal.

Nas linhas de crédito especiais tipo Revitalize, que contempla setores específicos é preciso acompanhar de perto para saber da existência e para obter o financiamento.

No Cartão BNDES é verificar a lista de produtos disponíveis, incluídos dentro de critérios de nacionalização e sustentabilidade, e ter crédito no repassador.

Para capital de giro o PEC Programa Especial de Crédito os juros anuais são de 10,25% mais “spread”, 12 meses de carência e prazo de 36 meses.

Podemos aferir que os 24% destinados aos pequenos cumprem a premissa da socialização, entretanto é preciso comparar alguns investimentos efetivados aos grandes.

O economista Nelson Barrizzelli, lembra o caso da Ford em Camaçari, quando foram criados 2000 empregos com investimento de 800 milhões de dólares.

Especialista também na área supermercadista, Barrizzelli sugere: “Se fosse investido 50 mil dólares em 16 mil pequenos supermercados é de supor que pelo menos seria criado 1 emprego para cada uma das 16 mil unidades.Para quem recebe recursos do Fundo de Amparo aos Trabalhadores investir em grandes empreendimentos que normalmente não são intensos de mão de obra, é no mínimo tão desconcertante quanto a distância de 2000 para 16000 empregos”.

Que Marx descanse em paz, pois um dia ainda chegamos lá.

Carlos Magno Gibrail é doutor em marketing de moda e escreve às quartas-feiras no Blog do Milton Jung mostrando o caminho das pedras. Ou do capital.

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A hora certa de parar

Por Abigail Costa

Vira e mexe esse assunto entra em pauta. Falo da minha aposentadoria. Não como um fim de linha profissional, daqueles de calçar os chinelos, de começar a pensar em curso de ponto cruz.

A aposentadoria que espero tem que ser uma mudança de estilo de vida. Compromissos sim, mas de forma mais relaxada.

Estava na academia na  hora marcada para começar e terminar os exercícios físicos e esbarrei com uma mulher, já não tão menina. O que me chamou a atenção foi a maneira pausada de se exercitar. A troca de aparelhos era feita sem pressa. Imaginei: ela certamente não tem hora marcada para chegar ao trabalho, depois entrevistas já agendadas uma seguida da outra – nunca levam em consideração a distância e o trânsito -, e a necessidade de entregar tudo pronto antes de o sol de pôr.

Tudo absolutamente cronometrado.

Fiquei curiosa e perguntei para a moça de roupa preta colada ao corpo que delicadamente ainda dispensava bons momentos se ajeitando no espelho:

– Oi! Por curiosidade, quantas horas você fica aqui?

– Eu? Umas três, quatro. Chego por volta das sete da manhã, quando saio vou direto para o almoço.

A minha resposta foi um  NOSSA!  meio desconsertante. Estava na cara – na minha cara – a mistura de sentimentos.

Primeiro, será que ela não tem o que fazer? Em seguida, hum, gostaria de estar no lugar dela!

Tudo sem pressa. É assim que penso no meu descanso pós-30 e alguns anos de trabalho.

Quero tempo para pensar e fazer sem hora, minuto ou segundo me perseguindo. Sem ter que ouvir o telefone tocar perguntando se já estou pronta. Quero ir e voltar quando terminar. Não porque tenho que voltar.

Quero um curso, sem ter a necessidade de ler o livro correndo porque dele depende uma boa nota. Quero conversar até tarde, sem a obrigação de acordar cedo.

E no dia seguinte um banho demorado, um café da manhã preguiçoso, depois pensar:  o que fazer?

Quando digo isso a alguém, tem sempre o estraga prazer:
– Imagina,  você não vai conseguir levar uma vida tranquila.

Como se longe do cronômetro diário eu deixasse de produzir.

Para esses afirmo: Quero, sim, minha aposentadoria daqui um tempo. Sabe por quê ?

Quero mais tempo pra mim! E nunca ouvi dizer que alguém ficou doente por NÃO se sentir estressado !

Abigail Costa é jornalista e espero que jamais abra mão de escrever todas as quintas no Blog do Milton Jung, mesmo quando se aposentar

Temos pressa de viver

Por Abigail Costa

Aprendo sempre. Independentemente do professor. Neste caso, ele só tem nove anos.

– Estou pensando em trabalhar!
– Como?
– É, trabalho. Tenho que começar agora, ou você acha que o Bill Gates não começou cedo?

O diálogo é com uma criança que se prepara para ir pra cama. A preocupação não é com a prova de matemática do dia seguinte. Mas com o futuro.

Na maioria das vezes somos assim:

Aos dez anos, imaginamos o namoro dos 15, torcendo pelos 18 e com este a carteira de motorista. Depois a pressa em sair da faculdade, de atropelar o estágio, ter a carteira de trabalho assinada. E depois ?

RG, CPF, cheque especial, compromisso, responsabilidade. E não muito raro, parar e contar para todos como o tempo passou rápido.  Como quase tudo aconteceu de repente. O quase, é um pedido de desculpa pela pressa de virar a página da vida.

Quando percebo nos outros essa vontade de pensar lá adiante, me lembro das palavras da minha mãe.

– Espera, você ainda terá muito tempo para pensar nisso, aproveita agora. A chegada é inevitável, não precisa apressá-la.

Mas temos sonhos, planos e se puder antecipar parte deles, por que não?

Enquanto me preparava para repetir os conselhos da vovó, meu futuro trabalhador pega no sono.

Sou capaz de imaginar  seus pensamentos decolando, um atrás do outro.  Viagens com roteiros conhecidos e percorridos por mim, por você, por eles.

Somos normais e iguais.  Temos pressa de viver.

Abigail Costa é jornalista e toda quinta-feira escreve sem pressa e aproveitando cada palavra, no Blog do Mílton Jung