“O escutar na prática é muito mais do que não falar; escutar não é apenas esperar o outro terminar; escutar é fazer algo com as palavras do outro” — Thomas Brieu, DO IT Brasil
Em um mundo em que todos querem falar, quem souber escutar levará vantagem. Ao pensar o processo de comunicação do ponto de vista de quem escreve e não o de quem fala, você cria novas possibilidades na comunicação com benefícios na vida profissional e pessoal. Como desenvolver a prática da escutatória foi o tema da entrevista com o franco-brasileiro Thomas Brieu, diretor da DO IT Brasil, ao programa Mundo Corporativo, da CBN.
“Precisamos reaprender a falar para ser escutado, ou seja, mergulhar na comunicação pelo prisma da escuta, mudando o prisma tradicional da fala”
A construção de um diálogo eficiente ganha ainda mais importância diante do declínio da empatia, provocado pelo excesso de informação; e se expressa de forma dramática quando enfrentamos crises como a atual, resultante da pandemia.
“Esse mal estar psicológico está aumentando, porque não consigo verbalizar o que mais sinto; com isso vem o sofrimento e até a violência. Por um lado, a falta de uma escuta interna, me impede de verbalizar o que está dentro de mim; por outro, têm as pessoas que não se sentem escutadas —- são as minorias que não têm voz. E a tendência é de se reagir com violência”.
De acordo com Thomas Brieu, a primeira vez que ele deparou com a palavra “escutatória” foi através do escritor Rubem Alves que, há cerca de 25 anos, reclamou que enquanto todos queriam fazer curso de oratória, era preciso um curso de escutatória. Foi quando, ele percebeu que o trabalho que já realizava em treinamentos em empresas e com profissionais tinha esse objetivo, fazer com que as pessoas aprendessem a escutar mais o outro para se comunicar melhor.
“A diferença entra a escuta ativa e a escutatória, é que a escutatória vai além de escutar mais e melhor; é fazer com que o outro se sinta escutado e eu preciso dar provas disso, de que escutei o outro”
Toda vez que se diz ao outro o que as palavras dele fizeram em nós, estamos dando provas de escuta. Mais do que ficar de boca calada, é silenciar a voz interna que está o tempo todo falando conosco enquanto o outro transmite sua mensagem, explica Thomas Brieu.
“Cada vez mais, nós vamos ter poucas pessoas falando, embora agora todo mundo possa falar nas redes sociais. É um paradoxo, porque agora todo mundo pode ter o seu canal, pode ter o seu blog, mas ter uma prova de escuta genuína é cada vez mais difícil”.
Existem três tendências que prejudicam a comunicação interpessoal: a necessidade de sempre ter razão; de se diminuir diante do outro ou de pensar pelo outro. Essas tendências se revelam por palavras e gestos, que são identificados pela cor vermelha, dentro da metodologia desenvolvida por Thomas Brieu. A estratégia é mudar esses padrões e passar a emitir mensagens que ele caracteriza de sinais verdes.
Um exemplo típico de como a mudança do vocabulário pode tornar o diálogo mais produtivo, é evitar as conjunções adversativas —- tais como mas, porém e entretanto —- e substituí-las por conjunções aditivas — ao mesmo tempo, por outro lado e bem como.
Prefira, também, fazer perguntas abertas que permitam que você investigue melhor o que o outro tem em mente. Como temos a tendência de pensar pelo outro, costumamos fazer perguntas fechadas e desperdiçamos a oportunidade de buscar a solução que está na cabeça do nosso interlocutor.
“Em vez de tentar a nossa visão do mundo, só mudando alguns padrões de linguagem, eu consigo passar desse paradigma da competição e da escassez para esse paradigma da abundância e da cooperação”
Para entender mais sobre a técnica da escutatória, assista ao vídeo completo do Mundo Corporativo, que está aqui no blog, e inclua o programa entre os seus podcasts favoritos. Colaboraram com este Mundo Corporativo: Juliana Prado, Guilherme Dogo, Rafael Furugen e Débora Gonçalves.