Greve de ônibus expõe, mais uma vez, falhas das empresas que exploram transporte por aplicativo

Photo by freestocks.org on Pexels.com

A greve de motoristas e cobradores, em São Paulo, nesta quarta-feira, revelou mais do que os desafios constantes de um sistema de transporte caro e problemático. Expôs a fragilidade da relação entre usuários do transporte por aplicativo e as empresas que exploram esse serviço, especialmente Uber e 99. Enquanto a dificuldade de as partes entrarem em acordo, remunerando e oferecendo benefícios aos trabalhadores e conseguindo conter o custo do transporte de massa na cidade, deixou mais de um milhão e meio de passageiros a pé, o modelo de negócio dos ‘aplicativos’ voltou a prestar um desserviço à população.

Sem muitas alternativas, os passageiros de ônibus recorreram ao celular em busca dos “aplicativos” e foram surpreendidos, seja pela ausência de motoristas seja pelo alto custo. Foi enorme a quantidade de ouvintes da CBN reclamando do fato de terem tido uma série de corridas negadas pelos motoristas, mesmo depois de a viagem ter sido aceita — claramente, ato tomado pelos motoristas que perceberam que a remuneração seria bem menor do que o custo daquela viagem. Os passageiros que tiveram sucesso na chamada, se sentiram explorados pelo valor pago — resultado da tarifa dinâmica. 

Por coincidência ou não, ao mesmo tempo que ouvia as reclamações, ao vivo ou por mensagens dos ouvintes, recebi texto do meu colega de programa Jaime Troiano, um dos apresentadores do Sua Marca Vai Ser Um Sucesso. Dos maiores conhecedores na área da gestão de marcas do Brasil, Jaime, baseado na frustrante experiência que teve com o Uber, ditou: 

“Como cidadãos, fomos espoliados. Como profissional de mercado, que pensa em Branding, pensei em outra coisa: que oportunidade maravilhosa o Uber perdeu!”.

Jaime Troiano

Em um cenário ideal, Uber, 99 e as demais empresas que exploram o serviço de transporte por aplicativo — e aqui o verbo pode simbolizar sua pior versão — teriam se colocado ao lado dos cidadãos, oferecendo vantagens aos passageiros e remunerando de forma decente seus motoristas. Não foi o que aconteceu. E assim a receita adicional obtida nesta paralisação dos ônibus jamais cobrirá o “mal-estar provocado nos seus potenciais clientes e os respingos na imagem institucional”, como escreveu Jaime. 

Chantagear o cliente em momentos de dificuldade tende a cobrar um alto preço nas organizações. E torna um desperdício o dinheiro investido nas campanhas que assistimos estampadas em painéis eletrônicos pela cidade nas quais os “aplicativos” forjam uma sintonia com seus clientes, ao transmitirem mensagens de apoio às mais diversas causas. 

Forçam a mão no storytelling e desdenham do storydoing que no fim das contas é o que interessa às pessoas.

Por curiosidade: o texto que recebi de Jaime Troiano era uma referência a greve de ônibus anterior, ocorrida no dia 14 de junho, em São Paulo, e se encerrava com a esperança de que a lição seria aprendida:

“Torço para que ela (Uber) não perca outras oportunidades como a do dia 14 para demonstrar suas autênticas convicções e valores. Os mesmos que ela professa publicamente”.

Lamento dizer, Jaime, perdeu! Perderam!

Conte Sua História de São Paulo: a passageira do Uber

Por Henrique Ribas

Ouvinte da CBN

 

 

Viagem quase finalizada. Entro na rua Professor Picarolo. Nunca havia reparado no nome, apesar de sempre passar no local. Era ali o destino final do meu passageiro, um estudante da GV. Em mim, batia um certo cansaço tanto quanto a fome batia no meu estômago. Estacionei, desci do carro, alonguei o corpo, bati a sujeira dos tapetes. Troquei a estação do rádio da Alpha para CBN — é sempre bom ouvir notícias. Tânia Morales se despedia. Pena. Adoro ouvi-la falar de livros e outros temas.

 

Peguei a mochila com a merenda. Um iogurte, uma maçã e duas bisnaguinhas com queijo. Delícia! Deixei o vidro do carro meio aberto. A brisa era boa, o vento gostoso. A metrópole estava silenciosa a ponto de ouvir o barulho água correndo — era a fonte do Mirante Nove de Julho, deixando a água correr por sua silhueta bela, barroca, iluminada …

 

Lanche terminado, fio dental passado, álcool gel nas mãos, halls refrescando a boca, veículo Ok. Hora de voltar para as pistas. Em 30 segundos, o aplicativo anuncia: buscar passageira na rua dos Franceses. Cheguei lá e duas garotas se aproximam. Jovens, de mãos dadas. A menor de cabelos curtos e saia sensual, pede para eu esperar um minuto. Pelo retrovisor vejo as duas conversando. Devem estar falando palavras de despedido. Não ouço, mas leio seus olhos emitindo cumplicidade. Os lábios se tocaram com ternura, paixão e libido. Eu, culpado pela inconveniência, não consegui deixa de assistir àquele filme no meu retrovisor. 

 

A mais mocinha entrou no carro, com uma má vontade clara e pesada, acomodando-se no banco de traz à minha direita. Conferi o destino, iniciei a corrida e partimos. Destino: Pinheiros, Rua Francisco Leitão. Ela ainda deu uma leve olhada para trás. Viu seu amor parado, em pé na calçada, com o olhar fixo no meu Uber que se tornava cada vez mais distante. Encostou a cabeça no vidro da janela e, depois de alguns segundos, cerrou seusolhos languidos, meio úmidos. Como o amor entre as pessoas é algo que inebria. Fiquei enternecido por aquele clima que invadiu o carro. Duas garotas e um sentimento tão puro ao meu olhar. Como o preconceito torna certas pessoas cegas para aquilo que a vida nos oferece. Duas garotas que se amam. 

 

Passeamos na Paulista de vidros abertos. Início de madrugada, vento fresco que banhava levemente nossas caras. No cruzamento com a Peixoto, um biker curtindo sua magrela. À frente, um casal com sorrisos escancarados faz uma self, com o Trianon ao fundo. No farol seguinte, em frente ao Conjunto Nacional, uma galera trabalhava intensamente.

 

Cheguei ao destino: a mocinha, com a cara de quem um cochilo tinha tirado, disse um obrigado doce e me desejou boa noite. Retribuí por aqueles momentos tão especiais, apaixonados e particulares que vivemos naquele percurso. Ela pelo seu amor, deixado provisoriamente na Rua dos Franceses, eu, pela minha cidade. 

 

Henrique Ribas é personagem do Conte Sua História de São Paulo. A sonorização é do Cláudio Antonio. Escreva seu texto para contesuahistoria@cbn.com.br. E ouça outros capítulos da cidade no podcast do Conte Sua História de São Paulo.

Taxistas terão de ir além do sorriso e da simpatia para se manterem vivos na cidade

 

 

5344147093_56cb1d0b53_z

 

 

Passeie pelo Rio por três dias e fiquei bem impressionado com o atendimento que recebi da saída do aeroporto à porta do hotel. Funcionários simpáticos e atenciosos me receberam nos lugares que visitei. Foram poucos é verdade, mas diversificados. Rodei de táxis pela cidade e fui transportado por motoristas que fizeram questão de me dar informações sobre o Rio e os lugares pelos quais passamos. Um deles, assim que percebeu que eu havia descido em local errado fez questão de retornar para me levar mais adiante. Pediu desculpas, pois se soubesse que eu queria entrar na Arena Jeunesse teria me deixado mais à frente para facilitar. Em resumo, uma simpatia.

 

 

Para todos os cariocas com quem conversei, e fiz questão de compartilhar esta minha boa impressão, fui alertado que “antigamente” as coisas não eram assim, especialmente nos táxis. A mudança de comportamento teria sido o efeito Uber. Motoristas perceberam que teriam que incluir no seu cardápio sorriso e bom atendimento para competir com os aplicativos. No meu caso, funcionou, mesmo com a corrida saindo um pouco mais cara.

 

 

As mudanças, porém, terão de ir além do comportamento.

 

Ainda nesta semana, e já aqui em São Paulo, leio em “O Diário do Transporte” que os motoristas do Táxis Preto – que surgiu no fim de 2015 como alternativa de alto padrão ao Uber Black – tiveram de receber socorro extra da prefeitura pois não têm conseguido pagar as parcelas do alvará, que custa R$ 60 mil, valor que pode ser dividido em 60 prestações de R$ 1 mil. A administração municipal anunciou que o prazo de pagamento será ampliado e aqueles que desistirem de prestar o serviço poderão devolver a licença sem a obrigação de fazerem o pagamento integral, terão apenas de acertar os atrasados.

 

Na outra ponta do sistema, os jornais informam que o presidente executivo da startup 99, o americano Peter Fernandez, anda feliz da vida com os US$ 200 milhões que foram colocados na empresa por investidores (ou seja dinheiro privado): US$ 100 milhões da chinesa Didi Chuxing e US$ 100 milhões da japonesa SoftBank. Com muito mais dinheiro no caixa, Fernandez diz que será possível acelerar a missão da empresa de fazer o transporte ficar cada vez mais barato, rápido e seguro para os brasileiros.

 

Fico sabendo, no texto assinado pelo jornalista Alexandre Pelegi, que a prefeitura de São Paulo tira do seu caixa (ou seja dinheiro público) R$ 250 milhões por ano para os taxistas transportarem 1,5% das pessoas que são atendidas pelo transporte público, na capital. Pelegi compara: cada paulista que usa táxi recebe subsídio cinco vezes maior do que os que andam de ônibus.

 

Os números mostram que a concorrência entre os táxis e os carros que atendem pelos aplicativos é desleal. E digo isso não no sentido de revelar uma irregularidade. Pelo contrário. Digo pelo simples fato de que o dinheiro privado é muito mais abundante e rentável do que o dinheiro público.  Sorrisos e bom atendimento não serão suficientes para a sobrevivência da categoria. Taxistas e prefeituras terão de repensar a gestão do sistema, e, temo, ainda chegarão a conclusão – na marra ou por reflexão  – que o transporte individual tenha de ficar nas mãos dos empresários, cabendo à administração municipal a fiscalização rígida do serviço prestado.

 

Na ponta do lápis, faz muito mais sentido a prefeitura investir cada tostão em um sistema que atenda muito mais gente – ônibus, trem e metrô, por exemplo – do que desperdiçá-lo no transporte público individual, especialmente se o setor privado é capaz de oferecer o mesmo serviço, com mais carros  e por um custo menor.

 

Enquanto essa época não chega, seguirei chamando meu táxi na expectativa de ser atendido com sorriso, simpatia e segurança.

 

*na primeira versão deste texto, por engano deste blogueiro, o nome da startup 99 estava grafado errado. Corrigido, agora!

Mundo Corporativo: Armindo Motta Jr da Wappa diz como empresas podem reduzir custos com serviço de táxi

 

 

Em meio a polêmica entre o serviço de táxi tradicional e o uso do aplicativo Uber, algumas empresas conseguem encontrar brecha para prestarem serviço que atenda os profissionais do setor e os passageiros. É o caso da Wappa, uma plataforma de gestão de táxi, que está há dez ano no mercado e atende cerca de 2.500 empresas e clientes. Em entrevista ao jornalista Mílton Jung, no programa Mundo Corporativo, da rádio CBN, o CEO da Wappa, Armindo Motta Júnior, explica que as empresas podem economizar até 40% nos custos de transportes dos seus funcionários ao permitirem a gestão do serviço através da tecnologia que foi desenvolvida. Ele, também, analisa as rápidas transformações que o mercado de táxi no Brasil e no Mundo vem enfrentando com o surgimento de aplicativos e novas funcionalidades: “todos nós vamos precisar nos adaptar às mudanças”.

 

O Mundo Corporativo pode ser assistido, ao vivo, às quartas-feras, 11 horas da manhã, no site http://www.cbn.com.br O programa é reproduzido aos sábados, no Jornal da CBN, e tem a participação do Paulo Rodolfo, do Douglas Matos e da Débora Gonçalves.

O que taxistas e árbitros de futebol têm em comum

 

Por Carlos Magno Gibrail

 

Carlos

 

As recentes manifestações de taxistas e os depoimentos de árbitros de futebol defendem a manutenção das condições atuais de suas funções e atribuições, repudiando a inovação que ora lhes é apresentada. É coerente, mas não é inteligente.

 

O naturalista Charles Darwin já demonstrou que a preservação das espécies é efetivada pela adaptação às mudanças. Mais recentemente o economista Joseph Schumpeter alertou que as novas tecnologias destroem antigos modelos de negócios e profissões, mas é inevitável.

 

O tema é recorrente, pois uma análise do passado reflete a repetição deste processo (inevitável) de inovação.

 

Não é difícil apostar no predomínio do Uber contra os taxistas, do WhatsApp contra as telefônicas, da Netflix contra as TVs a cabo. É o novo contra o velho. Ou será que as pessoas irão preferir médicos, remédios e hospitais sem tecnologia?

 

Os taxistas de São Paulo teriam melhor caminho se absorvessem a tecnologia em benefício próprio, e entendessem que o Uber é o futuro, enquanto o ponto será coisa do passado. Por bem ou por mal.

 

De outro lado, a proposta da CBF, de experimentar o uso da tecnologia simples, agregando um árbitro com recurso da imagem para dirimir dúvidas, recebeu dura oposição de árbitros notáveis.

 

Estes árbitros-personagens, com espaço nobre nas TVs, antes de criticar, deveriam estudar outros esportes que utilizam os recursos eletrônicos como tênis, handebol, vôlei, futebol americano e atletismo. Mesmo porque a tecnologia criou uma emoção adicional, por exemplo, no tênis, quando se espera a imagem de um desafio que pode decidir uma partida.

 

As cidades e o futebol esperam em breve a tecnologia que ora lhes é negada, com a dúvida de quando virá, mas a certeza que virá.

 

Carlos Magno Gibrail é mestre em Administração, Organização e Recursos Humanos. Escreve no Blog do Mílton Jung, às quartas-feiras.

 

A foto do taximetro capelinha é do Blog FuscaClassic

 

A foto do árbitro de futebol é do álbum de Andrea Re Depaolini no Flickr