São Paulo em domingo de Carnaval pouco se parece com a agitada capital paulista conhecida mundialmente. Há dois dias era destaque no noticiário da noite devido aos cento e tantos quilômetros de congestionamento. Hoje, pouco trânsito, menos gente ainda andando nas ruas do bairro. Restaurantes praticamente vazios. Uma cidade fora do ritmo. Descompassada. Do jeito que gosto.
Aí onde você mora não deve ser diferente daqui. Tem-se a impressão de que todos estão de ressaca do baile da noite anterior, mesmo que se saiba que o número de pessoas que vai para a avenida ou para a balada carnavalesca seja pequeno diante da quantidade de moradores.
Com a noite do Oscar a espera, cinema à tarde é programa bem-vindo. Família reunida, ar-condicionado, pipoca, refrigerante, água e um filme que satisfaça o gosto de todos. No nosso caso, “Sim, Senhor” com o careteiro Jim Carrey, uma comédia. Boa comédia, se levarmos em conta que estávamos em um domingo de Carnaval.
É preciso um bom cinema, também. E fomos as salas da UCI no Shopping Jardim Sul. Muito mais pela distância do que pela preferência. No balcão do bar, tem água, mas só com gás. Tem guaraná, mas só diet. Aceita cartão, mas espera, espera, espera e, por favor, espera mais um pouco porque o “sistema está fora do ar”. Será que o filme me espera ?
Esperou. Cheguei na sala ainda com as luzes acesas. Lugar marcado, e isso é uma vantagem no cinema moderno, foi sentar e aguardar para nos divertimos com a história do homem que insistia em dizer não até que ao participar de um encontro de auto-ajuda se transformou no “Yes-Man”.
Muitos trailers depois, um susto. A tela escurece. Foram alguns segundos até que surgisse à frente de todos o oscarizado “Quem Quer Ser Milionário ?” que se inicia com a cena de tortura de Jamal Malik, o rapaz indiano de 18 anos que disputa o prêmio do programa de TV. Crianças gemem, mães se assustam e pais correm a pegar os tíquetes para saber se entraram em sala errada.
Errado estava a UCI que antecipou em sete horas a projeção do filme programado para o pré-lançamento às dez e 20 da noite. Eram ainda três e meia da tarde e o público no local queria apenas se divertir e não sofrer ao lado do garoto. A funcionária que apareceu, adepta de São Tomé, não acreditou na palavra do batalhão de pessoas que a procurou para informar do engano e precisou ir até a sala para ter certeza.
O filme foi retirado da tela pouco antes dos policiais que o torturam ligar a máquina de choque elétrico. Alguns minutos a mais de luz-apaga, luz-acende, som-vai e som-vem até que, mal humorado, aparece na tela Jim Carey no papel de Carl.
Salva-se a família brasileira. E o nosso domingo de Carnaval.