Foto-ouvinte: Videira na Cidade

 

Por Marcos Paulo Dias
Jornalista e colaborador do Blog

Videira na Cidade

Foi seu Moacir, 52, trabalhador na área de construção civil, quem me apresentou dona Maria Nilva Bondioli Capriotti,  63, e o marido dela, Cláudio Capriotti, 71, aposentado, moradores de São Miguel Paulista, zona leste da Capital, há mais de 15 anos. O casal é atencioso e apaixonado pela natureza ,  cuida  com muito carinho de uma parreira que está logo na entrada de  casa, onde, também com muita dedicação, cultivam um pé de jabuticaba e um de romã. Seu Cláudio, um pouco tímido, contou que dona Maria aproveita cada cantinho do quintal e, em sua última investida, havia semeado abóbora e um pequeno vaso. Parreira ou videira, caro leitor da cidade grande, se já não lembra mais, é uma planta trepadeira que produz a uva. Foi dona Maria quem a plantou, há mais de seis anos, e como a colheita é farta, costuma distribuir para os parentes e vizinhos. 

Videira na Cidade

A iniciativa de preservar  ou reservar pequenos espaços  para árvores, trepadeiras e  flores contribui para o bem comum, e tudo isso é retribuído com a presença de ilustres visitantes: pássaros, besouros e abelhas. Quando os visitei, encontrei este casal de pombas rolas que construíram seu ninho sobre a parreira. O mais legal é saber que estas cenas são possíveis de serem encontradas em uma casa na cidade de São Paulo.

A melhor lição do internato e os críticos de vinho

 

Por Milton Ferretti Jung

Em 1947, eu estava internado no Colégio São Tiago, na então pequena cidade de Farroupilha, no Rio Grande do Sul. Muitos educandários ofereciam internatos para filhos com mau comportamento, guris de cidades interioranas nas quais não existiam escolas do nível exigido por seus pais e também porque a prática era moda na época.

Confesso lisamente – sei que meus netos jamais me imitarão – que o motivo de ter sido afastado da casa paterna durante o ano letivo, inclusive sem licença para visitá-la no relativamente longo feriado de Páscoa, era o pouco empenho nos estudos.

Cheguei ao internato depois das férias de meio de ano. Achei mais interessante trocar o Roque Gonzales, em Porto Alegre, em que as tais férias duravam apenas quinze dias, pensando haver feito um bom negócio, engano do qual iria me arrepender já no momento em que meus pais e eu desembarcamos do trem que nos levara da capital do estado para Farroupilha.

Mal os “velhos” se despediram de mim, deixando-me aos cuidados dos maristas do São Tiago, driblei meus “carcereiros” e fugi, tentando achar a linha férrea, sei lá com que esperança ou pretensão. Os irmãos não tardaram a me encontrar e me levaram de volta.

No primeiro dia de aula do segundo semestre me fingi de doente e fiquei no dormitório. O Irmão Inácio, o mais velho dos maristas do colégio, apareceu com uma garrafa de vinho e um copo. “Bebe – disse – que te fará bem”. Foi a primeira vez que me receitaram o “néctar dos deuses”.

Em casa, minha irmã e eu tomávamos um pingo de vinho misturado com água, ao invés de refrigerante. Alguns médicos também garantem que um copo de vinho nas refeições faz bem para a saúde. Há controvérsias. Seja lá como for, beber moderadamente é o que se recomenda.

Todo este preâmbulo, o maior nariz de cera que cometi até hoje, foi para encaminhar um assunto que me provoca grandes dúvidas. E o vinho surge novamente no texto. Aqueles que se consideram “experts” na matéria, o bebem com enorme prazer e são capazes de detectar num único gole – o que me espanta – os mais diversos sabores.

Leiam, por exemplo, a opinião de um especialista sobre determinado vinho, cuja marca não revelo para não fazer “merchandising”:

no sabor,é compacto,firme,nervoso,com grande persistência,com seu gosto achocolatado e sua eterna juventude,o 89 é curiosamente bordalês,muito complexo com frutas secas,tabaco,madeira “fina”,madeira velha,uma pitada de estábulo.

E eu, na minha santa ignorância, pensava que o bom vinho somente necessitasse de uvas de boa safra. Vivendo e aprendendo.

Milton Ferretti Jung é radialista, jornalista e meu pai. Às quintas-feiras, escreve no Blog do Mílton Jung (o filho dele)