
A compra da Warner Bros. Discovery pela Netflix, em uma transação superior a 80 bilhões de dólares, não altera apenas o tamanho dos conglomerados que disputam o entretenimento mundial. Ela muda, sobretudo, a relação entre consumidores e marcas que moldaram a forma como assistimos a filmes e séries. É sobre esse movimento que Jaime Troiano e Cecília Russo conversaram com os ouvintes noSua Marca Vai Ser Um Sucesso, do Jornal da CBN.
A negociação coloca em evidência uma transformação que atravessa toda a indústria audiovisual: a migração das grandes salas de cinema para o sofá de casa, fenômeno acelerado por uma empresa que começou enviando DVDs pelo correio. Cecília Russo lembra que “a Netflix, uma empresa que começou como locadora de DVD no final da década de 90, hoje domina não só a indústria de filmes como também a forma como consumimos filmes”. Ela aponta que esse negócio confirma um padrão cada vez mais recorrente: a concentração de muitas marcas em poucas empresas, o que reduz alternativas para o público. “Se alguém não gostava da HBO e se refugiava na Netflix, agora ambas poderão pertencer à mesma família”, afirma.
Essa reconfiguração não trata apenas de estratégia empresarial. Envolve afetos cultivados por espectadores que criam vínculos com estúdios e canais. Cecília observa que fusões e aquisições deixam consumidores em posição passiva: “Há uma sensação de orfandade quando uma marca com a qual nos relacionamos sai de cena”. Ela recupera movimentos semelhantes — como Disney e 20th Century Fox, Universal e DreamWorks — para mostrar que o setor vive um processo contínuo de reorganização.
Jaime Troiano oferece uma leitura guiada pela memória de quem cresceu em salas escuras antes do streaming dominar as telas domésticas. “Ouvi essa notícia com uma certa tristeza”, diz. Para ele, a Warner representa mais do que um logotipo ou um catálogo: carrega um imaginário cultural construído ao longo de décadas. “De lá saíram grandes histórias do cinema como Casablanca, Cidadão Kane, Mágico de Oz, O Exorcista, Laranja Mecânica”, recorda. A Netflix, na avaliação dele, ainda é percebida principalmente como “uma plataforma de streaming que verticalizou a cadeia”, mesmo que tenha ampliado sua atuação para produção e distribuição global.
A junção dos dois universos cria desafios de gestão. Jaime alerta que, em algumas fusões, “a soma de 1 + 1 não chega a 2”, lembrando que preservar o valor simbólico das marcas adquiridas exige cuidado e tempo. A reorganização das propostas e dos portfólios será determinante para que consumidores não sintam que perderam referências construídas ao longo de gerações.
A marca do Sua Marca
O comentário destaca que movimentos de consolidação desse porte mexem com escolhas, expectativas e memórias do público. Para as empresas envolvidas, a tarefa principal é administrar a orquestração entre marcas diferentes, preservando atributos reconhecidos, mitigando a sensação de perda e mostrando, de forma clara, o que consumidores ganham com a mudança.
Ouça o Sua Marca Vai Ser Um Sucesso
O Sua Marca Vai Ser Um Sucesso vai ao ar aos sábados, logo após às 7h50 da manhã, no Jornal da CBN. A apresentação é de Jaime Troiano e Cecília Russo.