Por Carlos Magno Gibrail

Há 50 anos, entrei pela primeira vez em uma delegacia de polícia, quando tive que acompanhar minha mãe como vítima de um roubo. Deste episódio ficou a imagem da gritaria e maus tratos que o delegado dava a um senhor que estava sendo preso por falta de pagamento de pensão alimentícia à ex-mulher.
Passados os 50 anos, mesmo com a espetacular evolução do espaço das mulheres no competitivo mundo masculino, e conseqüente necessidade de atualização do equilíbrio de forças, parece que as decisões judiciais continuam desconsiderando tais mudanças.
Zé Elias, 34 anos, ídolo corintiano da década de 90, ex-jogador do Santos, da seleção brasileira e de grandes times internacionais como a Internazionale de Milão, quando atuou com Ronaldo o Fenômeno, do Olympiakos, um dos grandes times gregos, e da tradicional equipe alemã Bayer Leverkusen, deixou de brilhar em 2006. Neste ano pediu a redução da pensão de R$ 25 mil mensais estabelecida por ocasião do divórcio consensual em 2005, quando a ex-esposa recebeu R$ 10 milhões de reais.
A justiça não aceitou os argumentos de Zé Elias, e mesmo sem emprego fixo obrigou-o a continuar pagando os R$ 25 mil mensais além da dívida hoje acumulada de quase R$ 1milhão.
Era pagar ou ser preso.
Zé Elias informando falta de condições financeiras se apresentou então à justiça na quinta-feira e foi preso. Onde ficará por 30 dias, se os pedidos de habeas corpus continuarem a serem negados, o que parece o mais provável.
Sem entrar no mérito das partes e das decisões judiciais, gostaria entender a praticidade do encarceramento de alguém que precisa cumprir obrigações pecuniárias e fica cerceado de trabalhar por 30 dias. Além da perda de 30 dias de capacidade produtiva, certamente o reflexo da prisão reduzirá o potencial de remuneração ou mesmo de trabalho afetado pela imagem de ex-presidiário.
Ao Zé Elias é hora de pedir ajuda aos “universitários”.
Aos demais, se estiverem empregados, as chances de perda do emprego serão enormes, enquanto que os desempregados diminuirão em muito a possibilidade de encontrar trabalho convencional.
Carlos Magno Gibrail é doutor em marketing de moda e escreve, às quartas-feiras, no Blog do Mílton Jung