Conte Sua História de São Paulo: o dia em que a freira e o Zorro foram detidos no aeroporto

Celia Corbett

Ouvinte da CBN

Foto de Nesrin Öztürk

Eram 1970. Tempos tumultuados. A ditadura tinha atingido seu auge. Qualquer manifestação de opinião contrária ao sistema era proibida. Nós éramos jovens estudantes, filhos respeitosos, gostávamos de Rita Lee, Chico Buarque, Beatles e assim seguíamos.

Estudantes mackenzistas com muito orgulho, estávamos entre o ensino médio e a faculdade. Eu cursava o último ano do Técnico de Administração e meu irmão, o Carlos, a faculdade de Engenharia. Todos nós éramos amigos dos amigos e formávamos um grupo muito legal. 

Fim de semana com festa era o máximo. Com festa a fantasia, era genial  Seria na casa da namorada do Andrade. Muita atrasada fui a loja de fantasia na Bela Vista e quase fiquei na mão. Tinha sim uma roupa que me servia. Mas será? De Freira? E assim foi. 

O quanto eu ouvi antes de sair de casa foi para a vida toda. Lá estava eu vestida com um hábito de freira perfeito, preto e branco, como manda o figurino. Mas qual a jovem de 16 anos não faria uma maquiagem a altura de uma festa de arromba. Festa, aliás, que estava fantástica com direito a odaliscas e piratas. Sensacional estava o Castro de zorro com capa e espada. Foi ele que me convidou para  acompanhá-lo e levar uma amiga lá pelos lados do Aeroporto de Congonhas. 

Nada era comparável ao café no aeroporto nos fins de noites daqueles ditos Anos Dourados. Aquele saguão chiquérrimo com seu piso quadriculado era muito badalado. O Castro tirou os adereços da fantasia e estava de calça e camisa pretas . Eu fiquei apenas com o hábito de freira e a maquiagem. E isso se transformou em um pesadelo.

Quando estávamos curtindo o saboroso cafezinho no balcão do salão fomos abordados por um policial que nos intimou a acompanhá-lo a delegacia do aeroporto. Por quê?

– Vocês estão detidos, disse o policial.

– Documentos na mesa, deu a ordem.   

    Logo nos apressamos a entregar a carteira de identidade e de estudante. Sim, de estudante porque mostrávamos que éramos pessoas de bem. Mas 1968 ainda estava na cabeça de todos assim como a Batalha da Maria Antonia, que fez com que nosso policial  nos condenasse antecipadamente.

    – Ah, estudantes do Mackenzie. Isso explica porque estão vestidos assim.

    Da festa de Ali Baba nos tornamos estudantes subversivos. Ficamos aterrorizados com a repressão do policial. Mesmo sem sofrer nenhuma agressão física, foi um pesadelo que só terminou quando o delegado de plantão chegou. Fez algumas perguntas: onde morávamos, oi que estávamos fazendo com as roupas estranhas. Todas devidamente respondidas. 

    Assim que fomos liberados pelo delegado, voamos para o carro que estava no estacionamento e de lá direto para casa. Além de um susto enorme, isso rendeu muita conversa pelos corredores do Mackenzie.

    Ouça o Conte Sua História de São Paulo

    Celia Corbett é personagem do Conte Sua História de São Paulo. A sonorização é do Cláudio Antonio. Escreva agora o seu texto e envie para contesuahistoria@cbn.com.br. Para ouvir outros capítulos da nossa cidade, visite o meu blog miltonjung.com.br e o podcast do Conte Sua História de São Paulo.

    Divertidas histórias do rádio

     

    Por Milton Ferretti Jung

     

    O Mílton deve conhecer, mesmo sem eu as ter relatado aqui, boa parte das histórias de rádio que, volta e meia, posto neste blog, especialmente aquelas nas quais fui um dos personagens. Às vezes, porém, ele pede que conte algumas que, por não me envolverem, talvez o meu filho não saiba. Vou relatar pequenas e até hilariantes historiazinhas.

     

    Aí vai a primeira.

     

    Rogério Boelke, hoje plantão titular e apresentador da Rádio Guaíba, antes de trabalhar em Porto Alegre, atuou numa emissora pelotense como repórter. Era ainda, que fique claro, um aprendiz ou, em linguagem jornalística, um foca. Certo dia,foi pautado para cobrir o roubo a uma casa. O ladrão havia entrado pelo telhado, espécie de roubo que ficou conhecida por “rififi”. Se é que alguém desconheça, o nome foi dado a esse crime, a partir de um filme francês, “Du Rififi chez les hommes”, dirigido pelo cineasta Jules Dassin e estrelado por Jean Servais. Na película, a assaltada foi uma joalheria. O roubo fictício foi imitado por criminosos ao redor do mundo.

     

    Ao chegar ao local do roubo, Boelke imediatamente ligou para o técnico que se encontrava no estúdio, pedindo-lhe que o colocasse no ar porque iria dar um furo nas concorrentes. Autorização recebida, o apresentador do programa chamou o neófito repórter. Esse, alto e bom som, despejou:
    – Estamos aqui pra informar que, nessa noite, uma residência foi assaltada. O ladrão entrou pelo telhado, no tipo de roubo chamado de Rin Tin Tin.

     

    No estúdio,o apresentador não se conteve:
    – Rogério,esse tipo de roubo é chamado de Rififi.

     

    Imediatamente, Rogério tentou se recuperar do erro:
    – Ah, claro, me atrapalhei. Rin Tin Tin é o cavalo do Zorro!

     

    O apresentador, a custo contendo o riso, fez mais uma correção:
    – Rogério, o cavalo do Zorro se chama Tornado.

     

    Há controvérsias sobre o verdadeiro nome do cavalo, mas o Zorro esteve presente em tantas histórias que bem pode ter trocado de montaria mais de uma vez.

     

    Contarei, em uma dessas quintas-feiras, as aventuras de um velho companheiro da Guaíba que passou boa parte de sua vida imitando o Barão de Munchhausen. Para os que não ouviram falar desse cavalheiro, o Barão é claro, terei muito prazer em o apresentar.

     


    Milton ferretti Jung é jornalista, radialista e meu pai. Às quintas-feiras, escreve no Blog do Mílton Jung (o filho dele)