Coisas de Estocolmo*
A primeira impressão que tive foi que Joakim Karlsson, o terceiro palestrante daquela tarde, parecia ser irmão mais moço do prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab. A pele do rosto marmorizada brilhava; as bochechas vermelhas eram como duas maças salientes; o cabelo estava regiamente aparado; e o sorriso revelava seu esforço para ser simpático.
Assim que começou a falar, com os olhos voltados à tela com informações projetadas a partir do computador, ficou a idéia de que estávamos diante, não de um administrador público, mas de um vendedor de serviço público. Com a intenção clara de oferecer aos oito jornalistas estrangeiros que o assistiam um ótimo negócio a ser implantado nos seus países.
Joakim representa a sueca Envac que desenvolveu conceito diferenciado de coleta de material reciclável e lixo orgânico. A empresa tem cerca de 600 instalações em 30 países, todos bem longe do Brasil. Nós havíamos conhecido, ao vivo, uma das mais exemplares, implantada na comunidade de Hammarby, região sul de Estocolmo, área planejada para ser ambientalmente sustentável, conforme você já leu neste blog.

Coleta desenvolvida por empresa de Karlsson é menos poluente
O lixo palavra que soa vulgar diante da tecnologia aplicada – corria a 70 km/h sob nossos pés, no momento em que passeávamos do restaurante ao lado do lago Hammarby até a sede da central de informações da comunidade. Em nenhum momento foi possível perceber a quantidade de material que cruzava em alta velocidade na extensa rede de canos construída no subsolo da região. Esta é uma das intenções do sistema criado pela empresa: eliminar transtornos e barulho aos moradores.
Os 26.700 metros de encanamento ligam o que inadvertidamente chamamos de latões de lixo – na verdade, coletores – à central de contêineres construída há alguns quilômetros dali. Por este sistema pode ser transportado qualquer tipo de dejeto: desde lixo orgânico, restos de comida, até material a ser reciclado. Em Hammarby, a capacidade é para 811 toneladas de resíduos por ano.
Controlado por computadores, os coletores despejam o material acumulado na rede de canos e este é sugado até seu destino, onde será separado em contêineres. O mesmo vácuo, gerado por enormes ventiladores que estão na ponta final do esquema, que transporta o “lixo”, limpa o encanamento evitando a contaminação, por exemplo, dos produtos recicláveis pelo material orgânico. O ar que sai dos canos é tratado antes de jogado de volta ao meio ambiente.

O material é sugado por sistema de canos
O esquema foi capaz de eliminar 40% dos caminhões que teriam de atender as 9 mil famílias que moram em Hammarby caso fosse usado o sistema tradicional de coleta de lixo. Isto significa menor impacto no ambiente. Soma-se neste caso, menos barulho, menos sujeira, menos trânsito, muito menos.
Em São Paulo, para quem gosta de fazer contas, circulam cerca de 140 caminhões de lixo por dia, todos movidos a diesel, dos quais 44 fazem a coleta doméstica, 66 a varrição e 32 para a coleta seletiva. Fora os veículos de grande porte que pegam o material em centros de triagem e os leva para os aterros sanitários.
A educação ambiental é importante pois o sistema para ser eficiente exige que o cidadão deposite o material no coletor correto. Em algumas cidades, o “latão”conectado ao sistema recebe todo tipo de lixo, enquanto em outros a separação é bem mais minuciosa do que a coleta seletiva que temos no Brasil.
O representante da empresa lembra que é preciso estar pronto para a “criatividade” das comunidades. Em uma cidade da Europa, os técnicos foram surpreendidos à medida que os moradores encontraram no sistema uma opção para se desfazer das árvores de Natal antigas, pratica que provocava o entupimento dos canos.
Em humor típico de vendedor de batedeira elétrica de programas de televisão, Joakim Karlsoon disse que “lá o Papai Noel trocou as chaminés pelos canos da Evac”.
Durante esta semana, registro aqui no blog algumas impressões da viagem e encontros realizados em Estocolmo. Estive por lá a convite do Governo da Suécia.
Caro Jornalista Mílton Jung,
E se algum espertinho tentar jogar um tijolo ou bateria de carro usada?
É preciso lembrar que no Brasil, especificamente em São Paulo, dois rapazes foram sugados pela tubulação de água de um reservatório e levou-se dias para retirar seus cadáveres…
A boa educação no Brasil é coisa rara! Sempre há a política do “é só uma coisinha, não vai fazer mal…”
Um Abraço!
Achei a idéia fantástica, se formos pensar somente nos problemas nunca vamos fazer nada. Por outro lado os custos inicialmente seriam proibitivos.
Por que não usar essa idéia de imediato em edifícios? Ao invés de colocar o lixo em latões, poderia ter um sistema de canos e a gravidade faria o resto. Feito durante a obra imagino que teria custo ridículo. E o lixo chegaria lá embaixo já separado. Para evitar entupimentos basta o “buraco” onde se colocariam as coisas ser menor que o cano ao qual está ligado, se passou na abertura nao vai entupir o cano.
Muito boa idéia mesmo