OSESP, um feito e um fato

Por Carlos Magno Gibrail

Osesp 1

O feito – a Revista britânica Gramophone publica um ranking que coloca a Orquestra Real de Amsterdã e a Filarmônica de Berlim como as duas melhores orquestras do mundo. A surpresa quando os resultados foram publicados em dezembro 08, foi uma menção honrosa  a Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo (OSESP). O jornal O GLOBO pergunta e responde: “O que o melhor conjunto sinfônico do Brasil compartilha com os dois melhores do mundo? Muita coisa. Por exemplo, todos têm uma boa sala de concertos como sede, uma academia para formação de seus músicos e muitos subconjuntos de câmara”.

O fato – o executivo que montou esta premiada OSESP foi demitido pelo mesmo poder que o designou para a tarefa.

Sem entrar no mérito do fato , cabe indagar como se chegou ao resultado.

Marcos Mendonça, secretário da cultura de Mario Covas, convida John Neschling em 1997 para dirigir a OSESP. Este exige poder, salários compatíveis com o mercado internacional e uma sala com acústica impecável. Mendonça, resignado e determinado dá as condições solicitadas.

De nove de julho de 1999, inauguração da Sala São Paulo, até hoje a OSESP apresentou a performance encomendada. Dos 40 espectadores de antes, 12000 assinantes, que pagam de 195 a 742 reais para a temporada sinfônica, com ingressos de 30 a 104 reais. Os 109 músicos, 48 são estrangeiros vindos  de 18 países, ganham 7800 reais  os principiantes e 14500 reais os experientes. O maestro, 100 mil reais mensais. O orçamento 60 milhões anuais, dos quais 43 vindos da Secretária de Cultura de SP.
Enquanto isso, ontem, os jornais publicaram que na educação superior houve queda nos cursos de formação de professores ( 73000 em 2006 para 70000 ) taxa de menos 4,5%.

Maria Malavasi, Unicamp, diz que “um conjunto de fatores como desprestígio,falta de respeito social e baixos salários contribui para o declínio da carreira e a baixa procura pelos cursos de magistério”. Segundo  o Simpro, o salário médio na rede particular é de 3700 reais mensais.

Além disso, houve também redução na procura aos cursos superiores. Dos 6,2 milhões de vagas, 30% estão sobrando (1,3 milhões). O que descarta a idéia, segundo Reynaldo Fernandes  do Inep de que “no Brasil todo mundo quer ser doutor”, pois tem apenas 12% dos jovens entre 18 e 24 anos na universidade, enquanto os Estados Unidos apresenta taxa de 70%.

Tudo indica que precisamos no  ensino da mesma lição da OSESP, isto é, casa apropriada, salários internacionais, secretário de estado para adequar verbas e maestro para regê-las. E vamos ao feito e não ao fato.


Carlos Magno Gibrail é doutor em marketing de moda e toda quarta-feira se propõe a discutir temas de relevância com olhar diferenciado. É dito e feito.

10 comentários sobre “OSESP, um feito e um fato

  1. Acho que nem tanto ao céu nem tanto à terra. Para termos um ensino digno não precisamos ter salários internacionais. Mas não podemos ter salário “vale-coxinha”. Aliás com salário de 100.000 reais mensais eu regeria plantando bananeira (rsrsrs).

  2. André, acredito que existe uma certa pertinência na questão da OSESP em relação ao objetivo traçado. No caso do ensino também vejo que não há necessidade de nivel internaciona para o ensino primário e médio. No superior, precisamos romper de tempos em tempos com algumas barreiras, como inclusive Armando de Salles Oliveira, o fundador da USP fez, contratando gente gabaritada.As Universidades americanas são exemplares em muitos casos.
    Mas gostei da expressão “com 100mil mensal plantaria bananeira”. E parece que o estado terá que pagar indenização, algo em torno de 1,3 milhões.

  3. Carlos,

    O estado pagará indenização porque o contrato dele iria até 2010, até lá “teremos” que pagar o salário dele.
    Com relação ao ensino, acho válida a idéia de trazer professores a peso de ouro e gabaritados no assunto (universidade), e ao mesmo tempo que melhorar o salário de professores do ensino médio e fundamental, temos que selecioná-los melhor, não é só o concurso que deveria mostrar a capacidade do professor, após ele deveriam ser feitas inspeções em seu trabalho, para aí sim virar funcionário público/estadual efetivo.

    Abçs

  4. Estarrecedor o que acontece com o ensino estadual em um todo e com os professores do ensino fundamental, medio e superior.
    Professor estadual em SP não recebe aumento de salário desde 1996.
    Recebem somente gratificações, que nada mais é na realidade um simples CALA BOCA!
    Estas jamais serão incorporadas quando o professor vier a aposentar-se.
    Salas de aula abarrotada de alunos, em excesso.
    E por ai vai.
    Abraços

  5. Fabio, a melhora precisa ser feita, em todos os níveis. Há que começar pela valorização do professor/a primário. Em status e salário.
    No ensino médio idem e no superior precisamos atrair talentos e manter talentos.
    O exemplo da OSESP é muito bom porque se construiu a Sala, importou talentos e valorizou os daqui e atraiu os de fora.
    É preciso capital financeiro e humano. E não temos? Tenho certeza que sim, não acha?

    Abraço e obrigado pela participação

    Carlos Magno Gibrail

  6. Armando, não podemos desistir. A nossa arma é a palavra e devemos colocá-la nos espaços democráticos como esse.
    Verba é aquele recurso sempre escasso mas sempre existente.
    É preciso ter idéias e gente que possa aplica-las.
    Vamos acompanhar os agentes,vamos adotar vereadores,senadores É preciso abrir as origens das doaações de campanhas.

    Vamos a luta. Ou não

    Abraço e obrigado pela participação.

  7. Pois é Carlos
    Insista, persiga, prossiga.
    Justamente por esta razão é que postei o conteúdo acima
    Quem sabe “um dia” cai a ficha dos politicos, governantes & cia ltda?
    Vale para o texto que postei na semana retrasada sobre o caos que virou SP no passar dos anos e dos ex administradores.
    Abração

  8. É isso mesmo Armando, vamos continuar aproveitando esta nova fase da interatividade da comunicação. Felizmente a participação da população tende a aumentar.
    Veja que o Presidente Obama utilizou bastante a internet para se eleger.

    Abraço

    Carlos Magno

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