“Inadequado” foi a expressão usada pelo secretário estadual da Educação Paulo Renato de Souza ao se referir aos livros “Dez na Área, Um na Banheira e Ninguém no Gol” e “Poesia do Dia” distribuídos nas escolas públicas. Em ambos, foram encontrados textos que faziam referência a sexo, drogas e violência de maneira inapropriada para crianças de oito e nove anos. O último caso, denunciado por este blog, nessa quarta 27.05, está ligado a dois poemas de Joca Reiners Terron (leia mais aqui).
Na entrevista ao CBN SP não ficou muito claro o critério e a formação da comissão que escolheu 818 títulos para serem usados pelos professores em sala de aula. Paulo Renato disse que não existe uma comissão formalizada, mas há, sim, um grupo de professores sob responsabilidade do programa Ler e Escrever que, a partir de lista enviada pelas editoras, faz a seleção.
O secretário disse que foi solicitada uma revisão nos livros que integram o programa e na quarta-feira da semana que vem todos estes livros serão apresentados aos jornalistas: “vou chamar toda a imprensa para examinar cada um dos títulos”.
Ouça a entrevista do secretário da Educação Paulo Renato de Souza para Tânia Morales
Olá, Milton.
O que mais me incomoda nessa novela da Educação Paulista é que não se discute que uma parte da educação é a orientação pelos exemplos.
Se uma criança tem bons modelos de pessoas de seu convívio que possuem o hábito de ler, ela terá os livros como parte de sua vida.
Mas o que acontece se uma criança ter modelos de pessoas que escolhem e indicam livros para incentivar sua leitura sendo que essas mesmas pessoas não se deram ao mínimo trabalho de ler mais do que a capa do livro (ou talvez nem isso)?
Nos dias de hoje a maioria dos pais trabalham fora, chegam em casa tarde da noite, exaustos, sem paciência, cheios de problemas no emprego, em casa, sem disposição para nada.
Como criar filhos nos dias de hoje?
Dificil heim!
Então os pais exaustos mandam a sua prole para frente dos computadores, tv, ginastica, natação, curso de inglês, francês, espanhol, curso disso, daquilo, judo, tenis, e então aos seis sete, oito, nove, dez, onze, doze anos o garoto e a garota então tem o dia inteiro repleto de compromissos e obrigações, quantidade e não qualidade, vivem como se fossem executivos mirins.
Tempo, atenção, carinho para êles, para os pais e vice versa deixou de existir.
Ah!
Quando o jovem casal não deixam os seus filhos sob os cuidado das babás e empregadas que tem que cuidar da casa além de tudo(os mais ricos) dos avós, ja cansados, corpos pesados por causa da idade que avança.
Se não podemos dar exemplos aos nossos filhos
Melhor mesmo é não ter filhos apesar de serem “umas gracinhas”
Não importa em que classe social pertençam.
Bom findi
A secretaria não tem muita coisa.
(Não posso nem escrever aqui)
A lebre e a tartaruga
(*) Nelson Valente
Há histórias que são emblemáticas, com toda a sua coorte de personagens, fatos e mensagens. Bruxas, fadas e duendes frequentam o imaginário infantil e a sua exploração deve ser feita de modo adequado pelos especialistas que têm a responsabilidade de “fazer educação”.
Veja-se o caso de “a lebre e a tartaruga”. Hoje, nas escolas municipais de educação infantil e particular (em todo território nacional), no uso da técnica do diálogo/questionamento, muitas crianças afirmam que a tartaruga chegou primeiro, na famosa corrida, porque a “lebre ficou dormindo”, quando na verdade ela foi sacrificada pelo desejo de ser “esperta”, numa aplicação à fábula da nefasta “lei de Gerson”.
Questionamentos e confrontos de pontos de vista, como são hoje sugeridos pelos escritores brasileiros, contribuem para a superação do natural egocentrismo das crianças, possibilitando a conquista gradual da autonomia de pensamento. Assim nascem os indivíduos socialmente críticos, por intermédio da viabilização da sua autoconstrução.
O emprego, nessas questões, da literatura infantil representa um grande conforto, pois ideias, confrontos e interesses transbordam de um contexto extremamente prazeroso para as crianças. Daí nasce a motivação – e os resultados naturalmente constituem uma consequência desse processo. Quando a criança é egocêntrica ela não se coloca no ponto de vista do outro; o tipo de contato social com as crianças da mesma idade limita-se somente a “estar junto”. Paulatinamente é que ela conquista o prazer de “fazer alguma coisa junta”. É a isso que chamamos de processo de socialização, em que a escola exerce papel decisivo.
Por todos esses fatos, mais relevantes ainda quando se trata do período pré-operatório (em geral dos dois aos sete anos de idade), é essencial que a escolha do material didático com que se irá trabalhar se faça de modo adequado. E que os professores estejam devidamente preparados para o uso desses preciosos instrumentos da cultura.
(*) é professor universitário, jornalista e escritor.
Boa Noite Prf Nelson,
Li o seu comentário e concordo com toda a técnica que o senhor descreveu; e’ muito o’bvio depois do flagrante nas falhas da escolha do material, que ele no mínimo foi feito por alguém que sequer teve o cuidado de folhear os livros de dez em dez paginas. Pra não falar de falta de preparo. Dar condições de estudo e incentivo `a formação de professores e’ a maior de todas as falhas. Por aqui sem professores não existem alunos e morre a hierarquia que deveria ser natural no processo inteiro ate’ chegar a quem escolhe o material. Pena ficaram os burocratas de belas palavras e pouca ação. E ainda teremos que escutar muito mais da mesma lenga-lenga…e uma desculpa atrás da outra.