Conte Sua História de São Paulo: Cadeira da alegria

Por Cleiton Munhoz
Ouvinte-internauta do CBN SP

Ouça o texto “Cadeira da alegria”

Estudo à noite. Faço matemática na USP. Saio da zona oeste em direção a leste, no Parque São Lucas. E de ônibus tenho de passar pelo Terminal Parque Dom Pedro II.

Numa sexta-feira, eu estava na plataforma, sozinho, era quase meia noite. Três jovens se aproximaram a espera do mesmo ônibus que eu tomaria. Falavam alto, riam, comentavam alguma coisa sobre a balada da qual estavam voltando. Uma delas, em especial, me chamou atenção: loira, olhos verdes, muito atraente. Das três, era a mais animada. E vinha numa cadeira de rodas.

Sempre me ressenti de ver como nossa cidade trata as pessoas com deficiência. Seja na escadaria sem rampa ou na guia sem rebaixamento ou no ônibus que não está adaptado.  Infelizmente, nossa arquitetura, salvo exceções, não facilita a vida dos deficientes físicos. Some isso ao preconceito que muitas pessoas tem contra os que chamam de “aleijado” e o quadro que temos tornaria impossível a cena que eu assistia.

Nós que “temos as duas pernas”, que encaramos escadas de degraus altos numa boa nem somos carimbados com o rótulo de “incapazes”, como será que nós vivemos? Celebramos a vida ? Nos alegramos por essa dádiva de Deus, como a jovem loira que estava ao meu lado naquela plataforma escura ? Ou será que nós ficamos reclamando por qualquer coisa pequena, sem importância, seja a fila que não anda ou a comida sem sal ?

A jovem cadeirante, aparentemente, tinha todos os motivos do mundo para amaldiçoar sua sorte. Imagine todos os preconceitos que ela deve ter sofrido por estar naquela cadeira de rodas. Imagine a frustração por querer ir a algum lugar e não ser capaz de passar por uma escada.

Não estranharia se ela fosse uma das muitas pessoas que conheço, essas que reclamam o dia inteiro. Mas não. Ela estava ali, se divertindo com as amigas, enquanto nós, mesquinhos que somos, superdimensionando qualquer barreira que surja na nossa vida.

O ônibus chegou. E embarcamos todos. Ela, seu sorriso e suas amigas desceram uns dois pontos antes do meu. Nunca mais a vi, mas nunca vou esquecer dela e do que me ensinou: seja qual for o problema que tenhamos, não podemos jamais abandonar a alegria pelo presente que Deus nos deu: a vida.

Cleiton Munhoz é o autor do Conte Sua História de São Paulo que vai ao ar, aos sábados, às 10 e meia da manhã, no CBN SP.  Você também participa com texto ou gravação em áudio. Envie para contesuahistoria@cbn.com.br.

3 comentários sobre “Conte Sua História de São Paulo: Cadeira da alegria

  1. Belo relato Cleiton
    A deficiência física da moça loira, não é suficiente e nem motivo para tirar-lhe a sua alegria de viver intensamente.
    Quais serão os outros dons e virtudes que ela possui e não sabemos?
    Pode estar certo.
    São muitos!
    Por outro lado como você nos relata, muitos apesar de terem os seus corpos perfeitos, sarados, reclamam de tudo, de todos, nada esta bom, nas suas cabeças, falta tudo principalmente dinheiro, bens materiais, estatus, posição social,e por ai vão outras queixas de menor relevancia.
    Dai podemos concluir que as suas mentes é que apresentam defeitos.
    E sérios!
    Grande abraço
    Armando Italo

  2. Caros amigos, agradeço por terem publicado meu relato. A narração de Milton Jung, a sonorização, e principalmente o carinho de quem comentou, tudo isso me enche de alegria. Mais uma vez obrigado e fiquem com Deus.

  3. O governo não pode agir da forma que esta agindo com os policiais vem com carros novos os patios das seccionais e departamentos estão cheio deles prontos para serem entregues proximo das eleições. Criam departamentos para acomodar pessoas ligadas a politicos.
    Não vamos nos dobrar mais não podemos aceitar mais migalhas somos o pior salario do brasil, temos familia, pense em sua aposentadoria e não só no agora, vamos nos mobilizar já e novamente exigir o que não foi cumprindo, que éra o minimo do minimo, pelo Serra. Há policiais que vivem de seus salarios e não de corrupção nos ajude.

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