Avalanche Tricolor: Por um goleiro

Grêmio 4 (9) x 1 Flamengo
Brasileiro – Olímpico Mionumental

Encerrei minha curta carreira de jogador de futebol no gol, na escolinha do Grêmio. Fui para lá indignado com a perda de um campeonato no ano anterior após uma sequência de frangos do nosso goleiro. Decidi que se fosse para perder assim, que o fosse por minha culpa, minha tão grande culpa. No ano seguinte, continuamos sem vencer mas ao menos não me consagrei um frangueiro. Quem jogou comigo deve lembrar muito mais dos carrinhos e chutes na canela que distribuía enquanto ocupava as posições de quarto zagueiro e lateral esquerdo.

Ter terminado por lá também deve ter sido obra do destino, afinal meu pai era goleiro de ofício – no colégio, na pracinha em frente de casa e no time da rádio. Tinha o pretensioso apelido de Aranha Negra, referência a alcunha de um dos maiores goleiros do mundo, o russo Yashin que se vestia de preto da cabeça aos pés.

Pensando bem, os goleiros fazem parte da minha vida. Torço alucinadamente pelo único time no mundo a colocar na letra do hino o nome de um jogador de futebol, Lara, o goleiro que morreu de amor por seu clube. E foi vestindo a mesma camisa que tantos outros se consagram e tem seus nomes lembrados pela torcida: Mazaropi e Danrley, são apenas dois de uma enorme lista.

Falar de goleiro no dia em que seu time goleia um tetracampeão brasileiro pode parecer heresia. Perea seria o personagem ideal para esta crônica que de lupa encontra heróis sempre que o Imortal está em campo, mesmo quando estes não existem. Fez o jogo de número 50 e retornava ao time depois de um ano, recuperado de grave lesão e quase tendo sido vendido. Fez o gol que abriu a goleada.

Réver não poderia ser deixado de lado. Jogando mais a frente do que de costume, usou suas pernas longas para fazer dribles desengonçados e completar uma das jogadas com o gol que pôs o Grêmio no caminho da vitória. Seria merecido o destaque, ainda, para a segurança das duas cobranças de pênalti de Jonas, o goleador que quanto mais gols marca mais parece ter de provar que pode ser o goleador titular.

Que me perdoem os amantes do futebol arte. Nem dribles, nem cruzamentos certeiros, nem cabeçadas fulminantes ou cobranças de pênalti seguras são maiores do que as defesas de Vítor. Ele é a esperança de que o gol certo pode ser evitado, é a certeza de que todos os erros do time podem ser perdoados. Nesta tarde, cada vez que ele se agigantava diante do adversário, se antecipava a jogada final ou estendia seus braços em direção aos pés do atacante – ainda considerado por alguns Imperador -, comemorei como se um gol a nosso favor fosse marcado. Foram cinco os “gols” de Vítor que teve seu heroísmo reconhecido pela torcida.

Para que sejamos justo com nosso goleiro, vamos combinar o seguinte: a partir de agora, cada defesa impossível do Vítor será comemorada com a avalanche que homenageia os goleadores gremistas.

Deixe um comentário