Por Maria Lucia Solla
Ouça “De histórias da História” na voz da autora
Olá,
Meu coração pipoca no peito quando me dou conta…
Então era por isso!
Eurekas são molas propulsoras que, às vezes, saltam e desarranjam o arranjado; derrubam o que estava em pé e constroem a partir de escombros. Trazem o que está lá no fundo à tona, para que possa entrar em contato com o oxigênio da consciência.
Então era por isso que o professor Haddock Lobo dava socos contidos, a custo, na mesa, deixando vir, ao palco dos lábios, palavrões só amplificados pelas caixas de sua intenção.
Era daí que desespero, desesperança e descrença brotavam e se debruçavam nas sacadas do seu olhar.
Os tempos eram de escola, no Colégio Rio Branco, em Higienópolis.
Aproximada a hora da aula de História, a sala minguava. Ele sempre se atrasava e, quando chegava, arrastava consigo um ar de desencanto. Desprovido de rapapés, convidava os não interessados a se retirarem. Fazia a chamada antes que saíssem, dando um empurrãozinho na decisão dos indecisos.
Só quando restávamos um punhado de gatos pingados era que ele sorria; um sorriso aliviado, iluminado por pares de olhos arregalados e acesos, cravados nele.
Vibrava ao som do conjunto de corações que batiam descompassados, ansiosos por seus relatos.
Seu sorriso dava duro para se encaixar no senho, que trazia sempre franzido.
O professor Haddock não camuflava o esforço hercúleo para se encaixar, ele mesmo, no senho cerrado da própria vida.
Eu era menina cultivada e mantida muito bem podada, pelo seu Solla, movido a crenças e medos. Era mantida afastada do mundo ameaçador que existia do lado de fora dos portões e muros da casa paterna e daqueles da escola.
Sonhadora, romântica, curiosa, tinha sede e fome de saber e de viver.
Comia pouco, e lia muito. Muitas vezes sentada no telhado de casa, alcançado pelo muro da sacada do meu quarto. Mas essa é outra história.
O professor Haddock plantava em nós a semente da inquietude, enquanto nos escancarava as portas da dor e do desprezo pelos homens.
Confiava em nós.
Contava histórias da História. Falava de gente, não de fato, enquanto se admirava ao ver em nossos olhos plurais, réplicas do próprio desespero, que acreditava singular.
Sentados à mesa de um bar perto da escola, na Avenida Angélica, ingeríamos drágeas de sabedoria a goladas de lúpulo e cevada, e nos mantínhamos alertas para detectar, antes que fosse tarde demais, um olheiro do diretor da escola.
Eu era a única menina à mesa. Ouvia tudo com atenção; entendia pouco.
As partículas do meu cérebro, encarregadas de absorver informação para depois transformá-las em conhecimento, deviam ser muito gulosas; se empanturraram de tal forma que acabaram levando anos e anos digerindo, tanto que ainda hoje, como aconteceu há pouco, uma ficha cai e me deixa assim.
Amado e sempre lembrado professor, onde quer que você esteja, pelas estradas misteriosas e nebulosas de todas as faces da vida, recebe o meu afeto e minha gratidão, porque isso eu tenho para dar, e sei que não vai faltar.
Hoje sei que a dor que sinto tem origem e vem certificada.
Também estou certa de que se uniriam a mim, numa homenagem a você, pelo menos dois outros integrantes da nossa mesa: Chico Solano, meu amigo Francisco, que entre outras peripécias viveu exilado na França durante um dos últimos períodos de retrocesso e de burrice explícita que campeava solta por nossa terra, e o Carlos Rodolfo Tinoco Cabral, meu amigo poema.
Decassílabo.
Um dos meus amigos livros acaba de me revelar que há aproximadamente mil e novecentos anos, a violência preenchia a escuridão dos becos, e não perdoava os lares, na Roma de Trajano.
A multidão babava extasiada e anestesiada entornando o sangue bárbaro que manchou perenemente a arena do Coliseu.
A fauna selvagem rareava na Europa, no Norte da África e no Oriente Médio, para manter saciados os instintos do homem.
No imenso e luxuoso edifício do Senado, construído por J.C. (coincidência?) – o imperador Júlio César -, senadores tomavam decisões que ainda repercutem na tua vida e na minha .
Ali, no Foro de J.C., distanciados da República, asseclas do imperador agradavam e obedeciam ao seu senhor, desfilando barrigas obscenas, cobertas por panos obscenamente caros.
Mestre, mestre querido, você sabia!
Pois saiba que a tua angústia se mantém viva, em mim.
E você, caro leitor-ouvinte, quando foi que teve o último Eureka?
Pense nisso, ou não, e até a semana que vem.
Maria Lucia Solla é terapeuta e professora de língua estrangeira. Aos domingos, reabre o livro “De bem com a vida mesmo que doa” e o convida a reescrevê-lo. Não a decepcione mesmo que doa

Olá menina , quantas lembranças , quantos belos e não realizados sonhos de juventude , teu artigo de hoje me fez lembrar. Aquela professora de português ,que estimulava um
gosto de sempre , a de história que abria portas e dava asas
à uma curiosidade maior … e os velhos amigos que o tempo
perdeu . Bjs e saudades da amiga de SEMPRE , Maryur
Amiga Maryur,
somos seres feitos de lembranças e sonhos.
Por isso a ciência se descabela.
Beijo,
ml
Amiga Maria Lucia,
Bom dia.
Voce que é a brasileira que melhor fala inglês no Brasil e que tenho orgulho de ser sua amiga desde janeiro de 1975,tenha certeza que fará uma brilhante carreira literária,pelo seu elevado cabedal de conhecimento de nossa lingua.
Parodiando Jacó do Bandolim , na voz de Elizeth Cardoso:
Naquela mesa está faltando ele e a saudade dele está doendo em mim.
Beijos,
Farininha.
Malú… que delícia ler tudo isso…Acabo de ter um momento EUREKA!!!!!!!!!!! bjo
Farina,
bem lembrado, bem lembrado!
Também tenho orgulho de ter você como amigo.
Beijo,
ml
Cátia,
delícia ter você aqui.
Dá pra contar o seu Eureka?
Beijo,
ml
Malu
Belissimo texto!
Pois é:
Quanta coisa podemos pensar, analizar.
Pena que poucos assim o fazem.
Ah!
Na semana passada depois dos “paus” no meu pc, com o Rwindws, softwares, etc agora rodando full Linux/Ubuntu a coisa aqui tá Show de bola!
Vc perguntou o que quer dizer SOs.
Quer dizer:
Sistemas operacionais
Por exemplo nos pcs de casa trabalho com dois SOs na mesma maquina
Rwindows e o Linux/Ubuntu
Bjus e uma exelente semana
Armando Italo
PS:
Pessoal da TI da CBN:
Está acontecendo problemas de postagens no blog
Alguns leitores não estão conseguindo postar as suas mensagens e comentarios no meu artigo.
Obrigado, grato, tank you, merci, dank, gracias, gracie, 謝謝,
ευχαριστώ, благодарность,धन्यवाद (are baba)
olá, alfa india november,
você está internético demais da conta!
eu ando afastada da maquineta, o quanto posso. Estava desequilibrando meu tempo.
ευχαριστώ por ter passado por aqui.
Beijo,
ml
Eu internético demais?????!!!!
Que nada
É que preciso destas coisas “das modernidades” mesmo
Atualmente, ruim com elas, pior sem elas
Fazê o quê né|?
Só se eu for para algum lugar onde não tenha energia eletrica, luz, tomada e sem nenhuma antena “UAI-RE-LESSS”
Sempre será uma satisfação passar pelo seu cantinho da sabedoria, da filosofia e da espiritualidade
Que Deus te abençoe!
Armando Italo
Eureka é o twitter e a internet.. que permitem que lembranças sejam tão bem escritas e compartilhadas com pessoas avulsas do mundo inteiro.. como eu!
Saudações Maria Lucia..
Marcelo Shiramizu
marcelo,
bem-vindo!
E é importante lembrar que avulsos somos todos. Acordados é que somos poucos.
Beijo e boa semana,
ml
Olá Malú!
Meu último eureka! foi em um desses finais de semana que eu tive a idéia de chamar uma pessoa para uma visita ao mercadão central.
Pena que ela não pode ir! Não tem problema, não faltará oportunidade para a gente fazer isso e lá bater um bom papo e sentir o cheiro do sanduíche de mortadela que lá tem!
Também comê-lo!
Quanto ao texto eu quero falar desse parágrafo:
“No imenso e luxuoso edifício do Senado, construído por J.C. (coincidência?) – o imperador Júlio César -, senadores tomavam decisões que ainda repercutem na tua vida e na minha”
Engraçado não é que tem tudo a ver. Como são as coisas.
Parece que o tempo não passou para o ser humano.
Ninguém percebeu até agora que os passos devem ser para frente.
Tenho a impressão que estamos anestesiados com tudo que vemos de lá!
Precisamos reagir se não nos tiram o chão!
Cláudio,
só hoje vi o teu comentário.
Impressiona, não é?
O homem muda tudo fora dele e se esquece dele mesmo.
Veste a meia com o pé sujo.
Mas a gente vai; não vai desistir.
Assim como não desisti do nosso café.
Beijo,
ml