Conte Sua História de São Paulo: O Fusca

Suely Schraner
Ouvinte-internauta

Ouça o texto “O Fusca” de Suely Schraner com sonorização de Claudio Antonio

Foto de Eli K Hayasaka, no Flickr

Foto de Eli K Hayasaka, no Flickr

Em 1973, o piloto Ronnie Peterson ,”o sueco voador”, ganhava o Grande Prêmio da França. Aí, ela comprou seu fusca 66. Vermelho grená e parcelado em 36 vezes.

Vinte horas na auto escola: baixar o breque de mão, primeira e segunda.

No Detran, a baliza certa e aprovação garantida. De noite, pegar o possante na concessionária. Onde é mesmo que se liga a lanterna?

Na Marginal Pinheiros, só xingamentos. Gente mal educada a dizer impropérios sobre sua mãe. Em primeira e segunda, ela chegou ao pódio.

Naquela clara manhã de outono, saiu uma hora mais cedo. Pegou seu veículo e rumou para o trabalho. Era uma fábrica de macarrão que ficava na Marginal, quase esquina com a Avenida Interlagos. Na ladeira, pof, pof, em ré descontrol. Êpa! Passou direto do ponto. As duas mãos no volante, cara esticada quase colada ao vidro, aquela craqueza. De repente, o rio Pinheiros no meio. Como retornar? Uma hora esse rio tem que acabar.

Nesse pique, chegou na Lapa. Só aí é que se deu conta que o retorno só poderia ser por uma ponte. Um guarda pulou. Caderninho de multa voou. Ufa! Enfim conseguiu pegar a marginal de volta. Atrasada duas horas! Os tímpanos já imunizados aos palavrões.

Mãos firmes no volante, pernas travadas. Primeira e segunda. Enfim a firma onde trabalhava. Não havia focos de lentidão como hoje. A surpresa era uma aglomeração em frente à fábrica. Seu Adrimon, da portaria, muito solícito lhe abriu as duas bandas do portão de entrada dos carros. Mirou bem e acelerou na direção do portãozinho de pedestres. Foi só manifestante que voou.

Nova ré descontrol. Barbeira, eu? Deixou o carro atravessado na rua e entrou a pé mesmo.

Seu Antonio, o motorista de caminhão, foi quem colocou o carro pra dentro. Passava do meio dia. Coração na boca . Pernas bambas.

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6 comentários sobre “Conte Sua História de São Paulo: O Fusca

  1. A história do fusca no “conte sua história” foi muito fôfa! Principalmente pra uma geração que amava o fusca, o fusquinha! Meu pai é eletrecista-mecânico de carro, mas do tempo que havia carburador nos carros e um “amante” do fusca! Linda história e engraçada, é claro! Um abraço e bj tchau,
    Valeria

  2. Beijos, Suely.
    Barbeira, eu? Texto ótimo, lembrei-me de minha primeira saída com um Fusca 68, cor de “burro quando foge”, meio café com leite, meio beige, meio marrom, mas o mesmo sufoco, a mesma secura na boca, as pernas travadas, o carro estacionado que nem meu nariz.
    Velhos tempos…
    Abbraccio.
    Penha

    Penha por e-mail em 23.06.

  3. Querida amiga,

    Estou quase escrevendo também sobre barbeiragem.
    Você acredita que,quando eu tinha pouco mais de 18 anos,já trabalhando com meu pai, de repente ele resolveu ir ao Japão.Comprou um fusquinha e mandou-me tirar a carteira de motorista.Isso em menos de um mês.
    Para encurtar,no primeiro dia,de volta para casa,sozinha,deixei o carro morrer numa subida.
    A tal prova da ladeira,pela qual tinha passado tão bem no exame,não funcionou de modo algum.Ficou aquela fila,atrás de mim.O pessoal todo zangado e dizendo belas palavras!
    A salvação foi a chegada do meu tio,que teve que parar o caminhão dele para me socorrer. Agüentar o olhar de reprovação dele foi de doer.Menos mal, pois já estava a ponto de ter um ataque de choro. Imagine como ficou o coração da minha mãe,no dia seguinte,pois eu saía de casa,no Jd Bonfiglioli, antes das 5h da manhã,ainda escuro!Como devia sofrer a coitada. Felizmente,como provam as estatísticas,como motorista,(mulher),jamais me envolvi em um acidente mais sério.Eu tenho um cacoete.Quando estou dirigindo,se alguma situação me incomoda,eu começo a coçar a cabeça.Pois é,né,ninguém é perfeito!

    Grande beijo!

    Helena (por e-mail).

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