De religiosidade

 

Por Maria Lucia Solla

De religiosidade 1909200
Create your own slideshow - Powered by Smilebox
Make a Smilebox slideshow

 

Olá,

Passo por um processo tão monumentalmente importante que não tem como não partilhar.
Não dá para calar.
Sem susto; não vou confessar o inconfessável, não vou dizer o indizível
e muito menos revelar o invisível.

Ao contrário, vou dizer o óbvio, mais uma vez.
Vou dizer o que você já sabe, talvez.

Processo vem, processo vai e finalmente me dou conta:
o mesmo já passou pela minha vida, vezes e vezes sem conta.

Aquele repeteco do qual a gente já está cansada
e revive e revive, sem nunca terminar a empreitada;
sem colocar um ponto final na frase,
abusando de reticências e se esquecendo da crase.

Aquilo vai e volta, e a gente não sai do lugar.

E diz:

Por quê, meu Deus?!

Ou nem diz.

Como se tivesse zero-responsabilidade, a gente diz que não sabe o porquê, que não sabe o que se passa na própria vida e faz pose de sofrida.
Algo como a mão direita não saber o que faz a esquerda;
o que termina quase sempre em perda,

Pois isso tem que acabar; começando na tua vida, e se espalhando pela avenida.

Alguém corte o cordão que nos escraviza a todo tipo de religião, e nos faça exercer, de novo, a religiosidade.
Que é no fundo o que nos dá maior saudade.
Alguém proclame como Lei Universal que, a partir de hoje, esquerda, assim como direita, é termo que determina posição geográfica virtual,
e que não é, nem de longe, pecado mortal.
Alguém nos livre dos grilhões do certo ou errado conveniente,
da penitência do quiçá arrependido penitente,
e da insensatez do convicto descontente.
Alguém se dê conta e conte para o mundo
que claro não é condição de limpo
e escuro nada tem a ver com imundo.

Tudo bem. Se eu tinha isso tudo pra dizer, está dito, mas não era disso que eu falava. Falava de perceber o que acontece a cada momento da vida.
Do vício de sofrer que empana o brilho da emoção do puro perceber.
E quero falar do estar acordado,
do deixar-se permear pelo bálsamo do momento de prazer fugaz
e de se proteger do vampiro que, se deixar, de matá-lo será capaz.

Falo da situação em que tudo vira de cabeça para baixo, na vida da gente;

que te faz encarar prateleira, gaveta e caixa, cheia de tudo e de nada,
deixando a gente, num primeiro momento assustada.
Onde você dá de cara com o fantasma que morre ainda pela liberdade.
E a gente lhe dá o possível.

Dou um pouco mais de tempo a um papel amarelado
onde rabisquei sentimento com razão levemente temperado.
Um documento que me faz perceber que estava no lugar errado, na hora indevida,
quando acreditei que daquilo dependia a continuidade da minha vida.

O que teria sido dela se não tivesse havido…
…a viagem.
Qual teria sido a vantagem.

Pois está aí, meu amigo, no meio da maior confusão, a oportunidade de aprender a encarar os fatos como foram, e como são.
De olhar para si mesmo, e depois para frente, em busca de solução.

Se chorar pelo presente que poderia ser e não é, o soluço não me permite agradecer ao passado que foi, e deixá-lo ir.

Pois é aí que eu me encontro, mais uma vez.
Na gangorra da vida que me deixa tonta e me faz acreditar que eu, definitivamente,
perdi a vez.

E me esforço, me sacudo e me faço ficar acordada, mesmo sentindo dor.
Me pego pela mão e me deixo animar por gestos, palavras e suspiros de amor;
e luto para manter o equilíbrio que mora no ponto limítrofe
entre a loucura e o socialmente aceito.

É preciso acrescentar que a monumentalidade do dito processo se deve, simplesmente, à tomada de consciência. Ao perceber a oportunidade de exercer o direito à vida.

Bem-vinda !

E você, a quem dá boas-vindas?
Pense nisso, ou não, e até a semana que vem.

Maria Lucia Solla é terapeuta e professora de língua estrangeira. É bem-vinda neste espaço dominical desde sempre e recebe a você abrindo as páginas de seu novo livro, disposta a ser reescrita com sua ajuda.

10 comentários sobre “De religiosidade

  1. Lu, em minhas buscas, hoje para responder um questionario ao professor de mandarim li sobre o taoismo.
    Na religiosidade existem dois caminhos o pensar a filosofia e o rito. O rito para sociedades mais primitivas caracteriza o ato de passsagem e a filosofia, e o pensar para grupos cuja percepçao independe do rito. O rito nào nos leva a acáo externa, mas o pensar sobre sim. Levar aos outros ou levar a uma açao.

  2. Sra. Maria Lucia Solla,

    Este teu belo texto, me caiu como uma luva:

    Na volta de uma viagem doidona, na solidão da estrada sem perceber conversei comigo mesmo: O que eu fiz da minha vida, por que minha vida esta diferente dos demais, ainda estou correndo atraz de que? Vou fazer 40 anos, a vida começa aos 40. Será? Como será esta transição se houver?

    Quando comecei a chegar em São Paulo, aquele cinza do clima e da feição das pessoas, me disse: Isso é muito feio, essas pessoas são feias e eu sou lindo hahahaha! Melhor cair fora dessa!

    Parei de trabalhar, parei com “séquissu” sem sentimento, esqueci os ressentimentos e fui para nova vida. Dei boas vindas a uma nova etapa de minha vida.

    Passei a enxergar o belo de meus pais, meus irmãos, meus sobrinhos, e meus amigos/irmãos de 35 anos de amizade.

    Na sequência conheci uma moça na internet, peguei um avião e fui à Curitiba conhecê-la. Me apaixonei, comprei um terreno em um condomínio que da vista para o Parque Tingui, estou terminando nossa casa com nosso jeitinho a qual será preenchida com crianças, se Deus permitir. Deus? Sim, Ser supremo que mesmo sendo virtual, nos leva à missa onde as pessoas de diferentes classes e motivos na vida, se reúnem em um só propósito : pedir conforto pra alma, e isso faz muito bem. Missa nos deixa leves, com sentido de família e de humanidade. Além do que, é uma delícia bater papo com padres cultos nos cafés da tarde na casa de meus sogros. A história da igreja católica perversa e não perversa, é uma delícia. Ou seja, volto a seu outro texto para dizer: Meu EURECA, foi descobrir que sei fazer e ser feliz, como estou sendo e espero ser por muito tempo. Trabalharei pra isso!

    Só me falta mais um “EURECA” para um nova empreitada profissional. Quero gerar alguns empregos, retomar as aulas de canto, e talvez começar a fazer remo. Afinal tenho que ajudar o “caqui” a manter meu corpo sem aparência de pêra. Hahahahaha!

    Não me sinto culpado por ser um brasileiro pardo que, conseguiu com ajuda e sem ajuda conquistar dignidade na vida e poder dar rumo a ela a meu bel prazer. Todo mundo deveria ser assim, mas não é. O que posso fazer é viver o que me foi proporcionado, né? E ajudar quem me rodeia nas minhas possibilidades. Afinal quem pode me ajudou e sou grato a todos que me amaram e me amam.

    Putz! Sou prolixo até pra escrever…hahahaha!

    Mus sobrinhos agregados estão me chamando para assistir Stock Car.

    Malu, seus textos nos carrega para momentos importantes: momentos de seres humanos. Escrevi essas malfadadas linhas, me divertindo muito. É, adoro rir de mim comigo mesmo. Sou o famoso bobo alegre.hahaha!

    Bom domingo

    Bom almoço

    Até a próxima parada

    Beijos

  3. Cláudia,

    com certeza.
    Você deve estar adorando estudar Mandarim.

    E, aproveitando a tua deixa:
    o rito pode levar à reflexão. Ao internalizar-se.
    Mas há que haver liberdade para que cada um faça a viagem para dentro do seu próprio Universo, e se expresse na sua própria linguagem. Diversidade é riqueza pura, e ela se expressa livremente na religiosidade

    Somos todos Um, e o Um é formado de cada um de nós. Como as células.
    Já pensou a célula da unha querendo ser cílio?
    É mais ou menos isso qie as religiões tentam fazer: primeiro te convencem de que … deixa pra lá.

    estamos, as duas, fazendo uma viagem pelo oriente.
    Você na China e eu no Japão.
    Ando curiosando pelo Xintoísmo… Teremos muito o que falar em novembro.
    Beijo e bom domingo,
    lu

  4. beto,

    não posso deixar, ao menos, de te dizer que acabei de ler o teu comentário.

    Estava saindo e tenho compromisso para o almoço, e não é em São Paulo.

    Não poderia te responder correndo, sem ao menos um cuidado compatível com o teu, ao escrever para mim.

    Volto com calma, mas posso te dizer que tua mensagem deixou rastro: um sorriso bobo cravado na minha cara.

    Beijo,
    ml

  5. Bom dia e bom domingo Mike Lima
    Lembra de um texto que escrevi em um dos seus brilhantes artigos?
    O vôo da vida que acabou virando meu primeiro artigo como colaborador aqui no blog?
    Já pensou um marinheiro passar a vida numa catraia no vai e vem atravessando o canal do Guarujá indo e vindo sem ter oportunidade de conhecer outros “mares da vida”?
    Um piloto que voa somente na ponte aérea Rio SP?
    Um funcionário em uma empresa que trabalha nesta a mais de trinta anos realizando a mesma rotina de trabalho, as mesmas tarefeas, carimba descarimba, e por ai vão os dias, mêses, anos?
    A vida!!
    Tipo assim:
    Acorda, levanta, toma banho, escova os dentes, toma o seu cafe da manha, pega a condução, ou seu automóvel, os mesmos percursos diariamente, chega ao trabalho, tira o paleto se estiver usando pendura no cabide, no mancebo, ou nas costas da cadeira, senta-se começa a trabalhar na mesma coisa que começou a trinta anos atraz?
    Esse vai e vem, na minha opinião, me desculpem amigos e leitores deste blog, o termo que usarei abaixo:
    É REALMENTE DE ENCHER O SACO!
    acredito que a vida é como se estivéssemos num veleiro, velajando ao sabor e com a juda da natiresa ao sabor dos ventos.
    Temos que bordejar a nossa embarcação da vida, posiciona-la num angulo de 45 graus aproximadamente na proa do vento para que o nosso veleiro da vida possa movimentar-se e aos poucos, alguns bordos depois finalmente chegaremos ao nosso destino a um ponto “X’.
    Só que nesses bordos, muitas coisas, paisagens, nividades teremos que apreciar, vivencias, temos que enfrentar por veses, ondas pequenas, grandes vagas no oceano da vida, marolinhas, calmarias, tempoestades, momentos de sol e de suaves brisas, enfim…………uma serie de situações inusitadas e para a maioria “o temível desconhecido”
    Pois como diz um ditado popular:

    “QUEM NÃO ARRISCA NÃO PETISCA”

    Porém, todo cuidado, discernimento é pouco!

    Fácil naufragar a nossa embarcação no oceano da vida se nao ficarmos atentos.

    Adualidade das coisas e dos fatos nos dirigem para a diversificação

    “O espírito alimenta-se de filosofia, porém a ciência caminha junto aos dois”.

    consegue, consegue, não consegue, consegue consegue não consegue.

    E vamo que vamo!!
    Porque nos ceus o que não faltam aos pilotos e nos mares aos marinheiros são as tempestades e os dias de sol
    calmaria, ceu cavok!

    ixi
    O que tem aver tudo isso que escrevi Mike Lima!!!!?
    Um grande e carinhoso beijo e obrigado por mais este tema de hoje domingão fechadão, para variar um pouco, com um dia cinzento, e vem chuva das fortes por ai, com frente fria e tudo!

    Armando Italo

  6. Bom dia, tia Lú!!! 🙂

    Adorei teu texto de hoje.
    Maravilhoso para um dia que inicia semana…

    Concordo com tuas palavras e, tranformando elas junto com minhas reflexões ao ler penso que a dificuldade das pessoas está em se sentir feliz com o feijão com arroz para jantar, com o sorriso de alguem qualquer ou com o texto que acabou de ler.

    As pessoas esperam pelo final feliz ao invés de se sentirem felizes por ter força (aquela força universal interior) e poderem colher o dia a dia em sincronia com o que as faz feliz!

    Super beijo e ótima semana.

    PS: queria compartilhar com a tua felicidade de encontrar comentários na tua coluna tão inspiradora.

    Suzi!

  7. Amiga Maria Lucia,
    Boa tarde.
    Acompanhei por duas vezes transformações em sua vida,sei o quanto voce é guerreira,forte,vencedora.
    Siga sua sina,siga seu passado,siga sua históeia,voce é uma vencedora.
    Beijos
    Farininha.

  8. Oi minha linda !!!
    Que saudade de vc, das nossas aulas, da Valentina, do café com leite condensado e das correções inesquecíveis….rsss

    Um dos melhores textos teus!! As rimas estão impecáveis !!
    Frases aí excelentes e que nos faz refletir….. adorei !! Como sempre…

    Te vejo sexta !!!
    Beijõessss

  9. Querida Lu!
    Religiosidade! ALELUIA
    Escolha de time, de ideologia política de preferência de cor, definitivamente não se escolhe. Simplesmente se é assim. Portanto só nós mesmos podemos nos livrar destas amarras. Uns conseguem mas outros, não querem, não permitem esta liberdade. Cada avanço é conosco que contamos. Lembro de alguém ter me dito certa vez que me encontrava no fundo do poço: “terás que quebrar a murro uma parede de concreto de um metro de expessura”. Assim que é! Lu espero que com tua escrita pessoas possam se acordar!!! Abraço Anna

  10. Beto, Armando Ítalo (alfa india november), Suzana, Farina, Andréa e Anninha (minha irmã de alma)

    não vai dar para dizer a cada um de vocês tudo o que eu gostaria de dizer.

    O comentário de vocês foi o presentaço de fim de um domingo delicioso com meu irmão, minha cunhada e meu sobrinho que é um tesouro e uma figuuura!

    Divido com vocês a minha alegria.
    Beijo,
    ml

Deixe um comentário