Atlético/PR 0 x 0 Grêmio
Brasileiro – Curitiba
Tinha apenas 14 anos, idade insuficiente para entender que ser jogador de futebol nunca passaria de um sonho. Privilegiado por ser filho de jornalista, assistia aos treinos do Grêmio ao lado do gramado do estádio Olímpico e podia muitas vezes conversar com os jogadores profissionais, bater bola com um ídolo ou outro. Telê Santana era o técnico do time que conquistaria o primeiro campeonato gaúcho depois de oito anos.
Apresentado pelo meu pai, Telê jogou a bola em minha direção e pediu para que a devolvesse com o pé. De primeira, bati com o lado de dentro do pé direito e a fiz rolar até ele. Foram duas ou três trocas de bola em um improvisado treino de passe, fundamento básico para o bom futebol. Alegre pela rara oportunidade de estar diante do mestre, não resisti e quando a bola chegou a mim mais uma vez, torci a perna para o lado contrário e rebati de “três dedos”. A bola fez uma rotação diferente e parou mais uma vez nos pés do professor. Passe certo ? Errado.
Com cara de rabugento, Telê resmungou algo entre os dentes e com olhar cerrado me puxou a orelha: “Ainda não sabe passar a bola direito e já quer inventar, vocês são todos iguais”. Dei mais três ou quatro passes como deveria ser, mas a brincadeira havia terminado por ali com aquele “desvio de conduta” imperdoável para ele. E a lição estava aprendida: passe é com o lado de pé, assim como chute é com o peito do pé e cabeceio é com os olhos abertos. Simplicidade é a regra do jogo.
Das muitas coisas a me incomodar nesta noite, no estádio da Baixada (perdão, mas aprendi a gostar do futebol nos estádios, nas arenas jogavam os touros), foi a falta de simplicidade para resolver determinadas jogadas a que mais me chamou atenção. Nunca um passe é apenas um passe, e muitas vezes o passe com o pé retorcido sai errado. Nunca o chute é com o peito do pé após fazer da perna a alavanca que vai dar velocidade a bola, tem sempre de tentar o toquinho por cima que, invariavelmente, acaba na arquibancada. Ou nos pés do adversário.
A simplicidade poderia resolver muitas das coisas erradas que fizemos. Legal também se alguém em campo desse sinais de que está interessado em conquistar a vaga na Libertadores. Porque nós gremistas, que sofremos e entendemos a importância da história deste clube, estamos interessados, sim. Quem não estiver, que se retire, enquanto houver tempo.

O curioso é que os técnicos são todos chamados de “professor”, mas raros ensinam sequer o básico para os jogadores.
São professores de coisa nenhuma, pois sequer eles parecem saber o que estão pedindo ao lado do campo. Mestres mesmo, lembro de dois: Telê e o incomparável Ênio Andrade.
É triste ver nosso Grêmio assim. Vontade mesmo de conquistar esta vaga se vê em um ou outro.Me chamou a atenção a cara feia do Maxi voltando do vestiário dando uma entrevista, indignado com alguma coisa, provavelmente pela atuação, espirito da equipe ou até pelo discurso (que deve ter sido devagar e retórico) do nosso técnico no intervalo.
Não quero parecer tão bairrista, mas falta jogadores gauchos, formados no clube, para mesclar com quem vem de fora e não sabe o que é ser Grêmio.
Poucos,hoje em dia,podem dizer que conviveram com dois técnicos do gabarito de um Ênio Vargas de Andrade e Telê Santana. Esses dois não precisavam ficar ligados ,por celulares e outros meios de comunicação, com um auxiliar técnico que “ajuda a enxergar” o que os treinadores não veem. Aliás,muitos,pelo jeito,nem assim conseguem acertar seus times tortos.