Futebol é negócio ?

 

Por Carlos Magno Gibrail

Sim, é negócio dos mais interessantes e interessados com múltiplos interesses.
A recente discussão sobre os pontos corridos e mata-mata reflete a diversidade de objetivos entre a TV Globo, a CBF, o Clube dos Treze, os demais clubes, os consumidores e o futebol propriamente dito.

Há duas semanas num seminário de MAXIMÍDIA em São Paulo, o diretor da Globo Esportes, Marcelo de Campos Pinto , embora o tema fosse a Copa 2014, colocou um assunto fora do contexto : “Futebol não é entretenimento. É negócio. E, por isso, precisamos tomar muito cuidado com o atual formato do Brasileirão. Estamos largando dinheiro na mesa” . J.Hawilla, concessionário Globo, e Paulo Saad, parceiro global, o apoiaram. Apenas Júlio Casares contestou ao que ouviu: “Você acha que esse modelo funciona porque o SPFC é tricampeão”, como se não tivesse sido também antes dos pontos corridos.

“Se o argumento da Globo prega que futebol é negócio, é necessário entender de que negócio se está falando. Se o negócio é o futebol, os clubes melhoraram suas receitas com bilheteria e seus contratos de patrocínio na era dos pontos corridos. Também acabaram com o risco da eliminação em novembro. A Globo pensa no bem do futebol ou da TV? Afinal, que negócio é esse?” Paulo Vinicius Coelho.

“Tenho 80 mil argumentos para defender os pontos corridos. No ano passado, apenas uma partida chegou à rodada decisiva sem valer nada. A média de público de 17 mil pessoas é semelhante a da França” Ricardo Teixeira, CBF.

Nos bastidores do Clube dos 13, Marcelo Campos Pinto, começou a campanha para a volta do campeonato em que os oito melhores se classificam e disputam, em mata-mata, uma vaga na final.
A Rede Globo ganhou um importante aliado nesta briga. A diretoria do Corinthians. Mas, o presidente do Clube dos 13, Fábio Koff, gremista, tem o apoio da diretoria do São Paulo e de parte de seus integrantes para seguir com os pontos corridos. “Hoje, há maioria entre os dirigentes de clubes, pela continuidade dos pontos corridos” é a fala de outro peso pesado, o palmeirense Luiz Gonzaga Belluzzo.

Em dezembro de 2007, a GGSV, Golde Goal Sports Venture, empresa especializada em gestão esportiva, publicou uma análise do Brasileirão daquele ano e, apesar de constatar que a média de público por partida (17,4 mil) havia sido a melhor dos últimos 20 anos, concluiu que isso não bastava para se afirmar que o sistema de ‘pontos corridos’ havia caído no gosto popular. Para a GGSV , o maior responsável pelo aumento de público em relação ao campeonato de 2006 (39%) foi principalmente a presença dos 12 clubes de maior torcida do país na Série A – algo que jamais havia ocorrido desde a introdução dos pontos corridos.

Recentemente a GGSV editou: “Público no Brasileirão 2008 e reflexões sobre o modelo dos pontos corridos”. A previsão para 2008 era de que a média de público caísse substancialmente devido a fatores como: a ausência do Corinthians, a alta no preço dos ingressos e, principalmente, a saída da promoção da Nestlé. Pois eis que com tudo isso, o campeonato teve uma boa média de público: 17 mil torcedores por jogo ( pequena redução, relativa ao ano anterior).

Mas, como sabemos, o futebol é paixão antes, durante e depois de qualquer coisa. Não há isenção, mesmo que se queira.

Veja então os motivos que os autores relacionam para “provar” que “pontos corridos” não é bom:

1. Em 60% das partidas o público foi inferior àquele da média do campeonato; ou seja, o público se concentra nas partidas mais importantes
2. Há a valorização de objetivos secundários (briga por vaga na Libertadores) para aqueles que não brigam pelo título até o fim
3. No formato atual, muitos clubes são ‘eliminados’ muito cedo da competição
4. Os campeonatos mais importantes do mundo têm mata-mata (Champions League, Libertadores, Copa do Mundo)

Podemos intuir que para os partidários dos pontos corridos estes motivos provam exatamente o contrário:

1. É o que também acontece nos campeonatos com mata-mata
2. Libertadores é meta principal assim como outros objetivos são benéficos
3. Eliminados de verdade serão os times fora dos 8. “Eliminados” muito cedo podem ser campeões como o SPFC com 11 pontos a menos e o Real Madrid agora bem perto do primeiro colocado.
4. Campeonatos importantes mata-mata são por falta de tempo. Já temos Libertadores, Copa do Brasil, Sul Americana, Paulistão. Para que mais?

Consta que o Clube dos 13 fará uma pesquisa para saber a opinião dos torcedores, que, certamente, refletirá a paixão. Times fortes e organizados deverão gerar votos nos pontos corridos. Consumidores e torcedores de times fracos e desorganizados preferirão torneios de mata-mata e regionais. Libertadores é para quem conhece Geografia.

É o que confirma Milton Jung: “Em um futebol no qual a honestidade nem sempre é a principal marca, a fórmula de pontos corridos é a mais honesta com os clubes que investem seriamente no esporte”. E, convenhamos é uma opinião a ser levada a sério, pois o Grêmio é time forte em mata-mata.

Juca Kfouri, instigado pela descoberta do diretor global, de que entretenimento não é negócio e intrigado com Ricardo Teixeira defendendo boa causa, insinua surgimento de teorias. Certamente a conspiratória, publicada no Painel FC da Folha de ontem, onde se leu que Marcelo Campos é próximo de Teixeira, que o blinda, e o apóia ante a resistência ao mesmo dentro da Globo. A ponto de facilitar a Copa 2018 e até mesmo a sucessão na CBF.

Carlos Magno Gibrail é doutor em marketing de moda e bate um bolão aqui no Blog do Milton Jung, às quartas-feiras.

13 comentários sobre “Futebol é negócio ?

  1. negocião! Falando em Copa do Mundo – o maior evento esportivo do Planeta. É um espetáculo popular, sem dúvida. Em campo ele é medido pelo talento dos jogadores. Entre os espectadores o futebol, é movido por paixões, que provocam adorações, ódios e discussões intermináveis. Mas a Copa vem mudando bastante, o número de seleções participantes do campeonato dobrou nos últimos trinta anos (de 16 para 32), e o motivo é um só: dinheiro. Dinheiro dos direitos de transmissão dos jogos pela TV (como podemos constatar claramente no depoimento ambicioso do profissional da Globo), da propaganda de uniforme (patrocinadores), dinheiro que, obviamente, enriquece alucinadamente os craques do futebol. E sendo assim, ricos, eles viram garotos-propaganda e namoram modelos. Ou seja, um ímpeto popular que irriga o negócio. E quem arrisca dizer que não dá certo?

    Abs,
    _

  2. O dinheiro praticamente acabou com a arte de jogar bola.
    Principalmente depois que os nossos jogadores passaram a jogar o futebol força europeu.
    Muitos musculos, pouca arte.
    Os jogadores da atualidade mais parecem artistas de cinema e tv do que verdadeiros atletas, salvo raríssimas excessões.
    Basta ver como se vestem, como se comunicam, os seus cortes de cabelo e por ai vai
    Não estou criticando o jeito de cada um se apresentar, pois isso é problema ou aspectos de cada.
    O que gostam de aparecer com lindas e fantásticas mulheres da midia, “as modêlos”, popularmente apelidadas como “maria chuteiras” não e brincadeira.
    Sem contar um aspecto interessante:
    Quando ganham o seu primeiro milhão a primeira coisa que fazem é comprar um baita de um carrão importado.
    E assim o dinheiro interfere em todos as segmentos do futebol.
    Muitos politicos usam o futebol $$$$$ para se elegerem e para aparecerem também.

  3. Olá Carlos,

    Para o suposto bem o futebol, todos foram da opinião de que os Clubes deveriam se tornar empresas. Como empresas possuem seus gestores e parceiros de negócios em que, os envolvidos pensam em ter seus ganhos e lucros saudáveis, mantendo pelo menos na teoria, suas obrigações fiscais e etc. em dia. Os críticos e comentaristas no assunto, também pegaram este bonde. Alguns até com salários astronômicos maiores que a maioria dos jogadores, os principais atores do espetáculo. Ou seja, o negócio é tão bom que, até quem critica ganha muito bem pra isso.

    Mesmo sendo esporte-negócio, existe a paixão que provoca ira e alegria de seus torcedores. Torcedores que sabem e incentivaram seus clubes a se tornarem empresas. Sabendo disso, manter essa paixão vai de cada um.

    Só acho uma pena o sindicato dos jogadores não ser mais forte. Pois, seria justo criarem um teto mínimo de salários para que a famosa distribuição de renda, fosse mais justa. O jogador LULINHA, poderia encabeçar este projeto. Nome forte e sonoro pra isso já tem! (risos).

    Abraços

  4. Caro mestre!

    Com vários campeonatos disputados pelo sistema mata-mata é de se estranhar como esse assunto sempre volta à tona.
    Deve ser porque o de mata-mata é mais fácil condecorar o mais incompetente!

    O futebol é o maior espetáculo da terra e isso atrai todo tipo de interesse, inclusive esse de tornar os pontos corridos uma doença à ser curada.

    Deve ser doloroso para alguns dirigentes ver ser premiado o mais competente, o mais organizado, aquele que planeja o ano antecipadamente, ser o melhor e ser o campeão.

    O sistema mata-mata como a salvação da lavoura é patético!
    Esse sistema só da renda em clássicos regionais, estaduais e na reta final do campeonato.
    Me estranha esse diriginte da Globo comentar isso. Precisamos investigar essa opinião de perto!

    O campeonato de pontos corridos desse ano mesmo é uma loteria sem tamanho e atrai muito o torcedor de todas as formas.

    Quem apostaria à um mês atrás que os primeiros da tabela perderíam tanto e daríam chance para aqueles que vem atrás.

    Isso atrai o público nos estádios e na TV também!
    Mestre os números citados acima provam isso.

  5. Armando Italo, o que me chama a atenção é a motivação ou desmotivação.
    Como se explica que o Sto. André enfrenta o SPFC e a SEP de igual para igual e provávelmente sera rebaixado?
    Há pouco acabou de enfiar 2×0 no primeiro colocado do campeonato.
    É por isso que uma função importante do técnico é o controle emocional da equipe . Ou financeero? Mercenários?

    Abraço

  6. Beto, o tenis tem muito a ensinar ao futebol. Uma das soluções é a ATP associação dos tenistas profissionais. É que controla a pontuação e os torneios.
    Sem falar da arbitragem, com olho eletrônico, desafio para voltar a jogada, além da quantidade de árbitros para um campo de jogo muito menor, sem contato físico e envolvendo apenas dois jogadores.

  7. Salve Carlos !! Obrigado!

    ainda sobre o assunto, a Nike foi a primeira que percebeu que um atleta poderia ser um lucrativo garoto-propaganda. Em 78 assinou com o tenista John McEnroe e em 83 como o jogador de basquete Michael Jordan. Resultado: o retorno foi liquido e certo para ambas as partes.

    Um abraço,
    _

  8. Junior Produtor,muito bem lembrado e saúdo sua informação que denota cultura esportiva e de marketing.
    Aliás, o livro de Jorge Caldeira “Ronaldo, glória e drama do futebol globalizado” é uma das obras mais espetaculares sobre o tema.
    O livro começa com a descrição do gol de Ronaldo contra a Alemanha através de duas páginas escritas de forma a transformar o feito em uma visão mais emocionante que a própria imagem .
    Nesta obra há toda a história deste marketing da NIKE onde é ressaltado o aspecto competente da marca .Depois de eleger o basket ball americano como o esporte das multidões, teve a percepção de que o futebol é que efetivamente era o esporte global. Aí então Ronaldo foi contratado por 200 milhões de dólares.

  9. PONTOS CORRIDOS, RODADA DO PRÓXIMO FIM DE SEMANA

    As noticias divulgadas ontem e hoje apontam jogos com lotação esgotada em Porto Alegre, no Rio, em Santos, etc
    E, depois os partidários do mata-mata no brasileirão vão ter um trabalhão para tentar justificar a sua tese.
    Haja locubração mental.

  10. Não tenho mais dúvida, já não tinha!

    O campeonato por pontos corridos mostrou nesse final de semana que tudo combinado e nada resolvido.

    De onde a gente menos espera é que não acontece nada mesmo, ou seria ao contrário.

    Está provado que é sensacional!

    Aqueles times que tiveram dificuldades no primeiro turno tiveram a chance de se recuperar e melhor que isso teve time que foi remontado no meio do ano.

    Claro que agora está na cara que não sabemos mesmo quem será o campeão brasileiro.

    Eu aprovo esse sistema!

  11. Claudio Vieira, o que me chama muito a atenção é que a postura da midia é nitidamente parcial, preferindo a midia em detrimento do próprio objeto, que é o futebol.
    Isto no sentido de que os clubes no mata mata não mais poderão fechar os negócios milionários com os patrocinadores .
    O Galvão Bueno, favorável do mata mata deve estar pagando caro com a sua preferência, pois seu filho teve que entrar em semelhante esquema no stock car, quando pela diferença enorme de pontuação já deveria ser campeão.

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